Urariano Mota
Minha caixa postal, e imagino que a de muitas pessoas Brasil afora, tem recebido frequentemente mensagens de um movimento pró Marina Silva à presidência da República. Acho interessante todo tipo de articulação cidadã, principalmente quando mostra disposição para a política, mas é preciso cuidado para não cair em um falso ideal de pureza, ignorando as forças que se juntam em torno de uma candidatura.
Acho Marina Silva uma pessoa adorável e respeitável e daria a ela meu voto sem problemas. Mas sua candidatura, se tem como objetivo se situar no campo da esquerda, deveria representar um avanço em relação ao atual governo, indo mais fundo no que se deixou de fazer, não apenas nas questões ambientais.
Marina, por sua trajetória, deveria referendar os avanços sociais do governo Lula, a contenção do modelo privatista que dominava o país até sua eleição e propor levar adiante a reforma agrária e política, até para evitar se tornar refém das velhas e viciadas estruturas, que geram os equívocos éticos e as alianças espúrias.
Uma candidatura de Marina para conquistar um eleitorado popular não pode se tornar, mesmo involuntariamente, aliada dos interesses contrários ao atual governo, que se aproveitam de qualquer oportunidade para tentar desmoralizá-lo. Marina tem que se recusar a ser transformada na Lina Vieira da disputa eleitoral, convertida em heroína por afrontar a candidata do governo, quando antes era atacada por aparelhar a Receita Federal.
Marina deve se lembrar muito bem que diversas forças que hoje incensam a sua candidatura à presidência até bem pouco tempo a consideravam uma ecochata, inimiga do progresso. Se hoje ela serve para dividir o campo da esquerda e reduzir as chances de Lula fazer o seu sucessor, amanhã será tratada como ele por contrariar interesses do capital e seus representantes.
A candidatura de Marina, se vier a acontecer, não pode ser uma candidatura da zona sul, hostil ao subúrbio e aos mais necessitados. Não pode trazer o discurso do moderno contra os jurássicos, tão ao gosto neoliberal. Não pode estar atrelada a partidos que governaram o país com um modelo totalmente pró-mercado que trouxe prejuízos gigantescos. Tampouco pode estar ligada aos partidos mais conservadores do espectro político, que abrigam os ruralistas e representantes do agronegócio, tão contrários às causas que mais preza.
Por estar em um partido pequeno, Marina só terá chances de se eleger e, principalmente, governar, se estiver aliada a outras legendas. É preciso ver quem serão os aliados preferenciais e o que representam. Enfim, a candidatura de Marina para vingar de fato precisa ser madura e não apenas verde.
Fonte:Direto da Redação.
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