domingo, 30 de agosto de 2009

SAÚDE - A tecnologia está mudando a relação médico-paciente.

A Internet e o e-mail são cada vez mais usados para se comunicar com o médico. E já é possível consultar-se à distância. Os especialistas dizem que não se deve perder de vista os encontros face a face.

A reportagem é de Leo González Pérez, publicada no jornal Clarín, 29-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A Internet e as tecnologias digitais, aplicadas à medicina, permitem, por exemplo, que doentes crônicos sejam monitorados à distância de modo permanente. Mas – dizem os especialistas – esse e muitos outros progressos técnicos não deveriam interferir no essencial da relação médico-paciente.

A tecnologia não respeita tradições. E já alcançou um centenário aliado dos médicos, o estetoscópio. A empresa 3M vende estetoscópios que digitalizam os sons e podem ser enviados, sem fio, para o computador. A empresa Alcatel-Lucent trabalha com um produto similar.

Por sua vez, existem cardiodesfibriladores que são implantados no peito dos pacientes e transmitem via Internet os dados que recolhem.

Silvia Vázquez, chefe do Diagnóstico por Imagens do Instituto Fleni, na Argentina, conta que já existem no país tomógrafos que, em 16 segundos, obtêm uma detalhada imagem de um cérebro. Vázquez assinala que outros equipamentos de ponta são ressoadores que indicam quais áreas cerebrais são ativadas quando o paciente fala ou quando move os braços. Assim, os cirurgiões podem ter um mapa dos pontos que devem ser evitados em uma operação.

Luis Pozzer, vice-presidente da Federação Argentina de Cardiologia, conta que são notáveis os avanços no diagnóstico de arritmias e taquicardias. Hoje, identifica-se com uma precisão nunca alcançada o ponto de origem de uma arritmia. E pode-se percorrer na tela reprodução em 3D de corações. Depois, essas reproduções servem como "mapa" quando um catéter percorre o coração real. Pozzer afirma que um progresso ainda mais importante é a recente robotização das intervenções, que aumenta ainda mais a precisão e reduz riscos.

Enrique Gurfinkel, pesquisador do Conicet e chefe de Cardiologia da Fundação Favaloro, diz que, entre as práticas de diagnóstico, é na obtenção de imagens onde mais se evolui. "Hoje, em meio dia reúne-se quase toda a informação necessária para se tomar decisões terapêuticas", explica.

As proezas tecnológicas da medicina são muitas e indiscutíveis, mas elas afetam a relação médico-paciente? Luis Cámera, presidente da Sociedade Argentina de Medicina e chefe de Medicina Geriátrica do Hospital Italiano, assinala que, mesmo que as novidades ajudem muito, não se deve esquecer que tudo deve iniciar com um bom interrogatório e um exame físico, e é só em função disso que se deve decidir a tecnologia a ser usada. "Hoje em dia – diz o médico – existe praticamente uma tecnologia para cada sintoma, mas é preciso ter cuidado, porque pode-se sobrecarregar o paciente com uma enorme quantidade de estudos, o que seria angustiante para ele e muito caro".

"Via correio eletrônico, eu já fiz até diagnósticos, de uma ferida na pele, por exemplo, com ajuda de fotos que o paciente tirou com seu celular. No entanto, a relação face a face continua sendo insubstituível", diz Cámera.

Nesse sentido, Daniel Grassi, chefe do Departamento de Medicina Interna do Hospital Universitário Austral, indica que os usos dos estudos avançados devem ser indicados para necessidades objetivas, para confirmar um diagnóstico provisório feito no consultório. "Os estudos não devem substituir um interrogatório profundo e um exame físico, práticas que hoje, em termos gerais, estão em desuso", afirma.
Fonte:IHU

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