quinta-feira, 27 de agosto de 2009

EUA - Farsa garantida.

O que suscita inquietação na América do Sul são os motivos estratégicos dos EUA para instalar bases na Colômbia, escreve Jânio de Freitas, jornalista, em comentário publicado no jornal Folha de S. Paulo, 27-08-2009.

Eis o comentário.

Fica nos limites da enganação primária o remendo criado pelo governo brasileiro para a gafe de Lula, quando propôs a convocação de Barack Obama para explicar aos presidentes sul-americanos as bases militares dos EUA na Colômbia.

O remendo está exposto na informação do ministro Nelson Jobim de que a Colômbia dará garantias aos vizinhos de que a ação dos militares não excederá o território colombiano. Jamais, está implícito. Tal garantia será levada pelo presidente Álvaro Uribe, amanhã, à reunião da Unasul em Bariloche, Argentina.

Ocorre que garantias da Colômbia não têm valor, porque o presidente colombiano não detém jurisdição sobre as forças armadas dos EUA, cuja atuação é determinada só pelo presidente e pelo Congresso norte-americanos (e olhe lá).

Por isso mesmo, mas não apenas por isso, as lamúrias dos países sul-americanos não se voltaram para Álvaro Uribe, criticado só pelo deslize diplomático de não examinar com os vizinhos a cessão de bases. O que suscita inquietação na América do Sul, mais do que preocupação, são os motivos estratégicos que os EUA tenham para instalar bases na Colômbia, sob a informação de que objetivam fortalecer o combate colombiano às Farc e ao narcotráfico. Ou, como já foi dito também, para suprir a próxima extinção da sua base no Equador, por cancelamento da concessão pelo presidente Rafael Correa.

Mas trocar uma por sete, com distribuição territorial voltada para as quatro direções cardeais a partir do norte sul-americano, incluindo proximidade das fronteiras do Brasil amazônico e da Venezuela, é propósito muito além de uma permuta.

Além disso, a descida dos EUA na Colômbia é concomitante à recriação da 4ª Frota, destinada a operações no Atlântico Sul. E considere-se, ainda, o conhecido interesse dos EUA em base militar no Paraguai. Diante de um conjunto assim sugestivo, quanto pode valer a história de garantias do presidente colombiano sobre uma parte do dispositivo militar dos EUA? Não vale nem um disfarce para mãos atadas, porque é tão tolo quanto a pretendida convocação a Obama.
Fonte:IHU

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