sexta-feira, 21 de agosto de 2009

EUA - Os "lobbies" de saúde enfrentam Obama.

Há dois pontos do programa eleitoral de Barack Obama que serão determinantes para julgar a qualidade do seu mandato: a luta contra a crise e a promessa da criação de um seguro médico que permita finalmente cobrir os 46 milhões de norte-americanos que carecem de assistência. Sobre o primeiro ponto não se vê um forte debate – com exceção de uma minoria do Partido Republicano que critica a intervenção do Estado – já o mesmo não acontece com o tema da saúde.

A análise é de Jean-Marie Colombani, diretor do Le Monde em artigo no El País, 19-08-2009. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Em um país no qual os lobbies das companhias seguradoras e as corporações médicas são todo-poderosas, este assunto sensível não apenas ao poder, deu lugar a uma onda de críticas que despencou para o caricaturesco ao ponto de perguntar-se se a saúde não converteu-se em um pretexto para os setores da população radicalmente hostis a Barack Obama. Tudo acontece como se houvessem encontrado nela a oportunidade para manifestar e mascarar o caráter racial de sua oposição. Assim, vêem-se cartazes de Obama com bigode ao estilo hitleriano.

Outro exemplo: Sarah Palin, a ex-candidata à vice-presidência pelo Partido Republicano e ex-governadora do Alaska – que agora pretende ser a ponta de lança do núcleo duro do Partido Republicano –, tomou como pretexto um artigo incluído no projeto de cobertura à assistência médica ao final da vida para denunciar a instauração de “tribunais da norte”. Dirigindo-se as pessoas da terceira idade, afirma que se o texto for aprovado terão que comparecer diante de um tribunal composto por burocratas que decidirão se serão atendidas ou não. Estes excessos, e esta ofensiva têm influenciado a opinião pública.

Em um país em que o medo do Estado é maior do que as soluções que pode oferecer, a campanha dos adversários de Barack Obama se traduziu numa queda espetacular dos índices de confiança do presidente, ainda que continue sendo majoritário por pequena margem.

A contra-ofensiva, entretanto parece estar se organizando. Tanto é que uma nova associação chamada ‘Estadunidenses pela Estabilidade e Qualidade da Atenção’ que agrupa tanto associações familiares como médicos de renome, e também representantes da indústria farmacêutica decidiram contra-atacar. Esta associação lançou ampla campanha de publicidade para alertar a opinião pública e mostrar que a reforma tem apoios.

Barack Obama foi eleito depois de ter insistido o tempo todo na importância dessa promessa. Fundamentalmente se trata de instaurar um plano de saúde acessível a todos os estadunidenses bancado pelo Estado. As companhias seguradoras objetam que o sistema público poderá se tornar um competidor para elas e temem que a intervenção do Estado nesse terreno leve a uma redução nos preços em seus planos privados.

Mutatis mutandis, nós estamos numa situação contrária a dos Estados Unidos. Na Europa, toda reforma, quando é encabeçada por um governo de direita, é interpretada como uma tentativa de substituir a Previdência Social por uma cobertura voluntaria através de seguradoras privadas; a saúde pública se ocuparia simplesmente daqueles que não pudessem pagar um plano privado.

A análise de reformas sucessivas e a realidade demonstram, entretanto que até o momento esta crítica é infundada. Nos Estados Unidos qualquer projeto de adoção de um sistema de previdência social é interpretado imediatamente por boa parte da indústria medica e do lobby das seguradoras como uma tentativa de substituí-las por um sistema publico. Outra critica infundada, pois o que pretende Obama é colocar um fim a algo que, para todo europeu, continua sendo objeto de escândalo: o fato de que 46 milhões de estadunidenses (alguns falam em 50 milhões) carecem de toda e qualquer cobertura de saúde.

Este tema parece estar envenenado, pois custou caro a Bill e Hillary Clinton que tentaram implementar um plano de saúde público e tiveram que recuar. Barack Obama já tinha tentado uma primeira vez, esperava conseguir antes do recesso de férias do Congresso. Mas, longe de querer impor à força, Obama busca um consenso no Congresso e tem falado pessoalmente com os líderes republicanos. Já é hora dos partidários do seu projeto se colocaram em marcha para se uma necessária e urgente contra-ofensiva.
Fonte:IHU

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