quinta-feira, 3 de setembro de 2009

ANOS DE CHUMBO - ainda sobre o cabo Anselmo.

AAA - Agência Assaz Atroz (PressAA)

Um embaixador muito experiente comenta o caso "cabo Anselmo" e cita "coisa" do gênero


Esta postagem especial tem por finalidade destacar os comentários do diplomata Arnaldo Carrilho, atualmente em pleno exercício de funções inerentes ao cargo de embaixador brasileiro junto à República Democrática Popular da Coréia, ou simplesmente Coreia do Norte. O embaixador Arnaldo Carrilho leu, nesta AAA-PressAA, artigo de Celso Lungaretti, intitulado, pelo autor, “NINGUÉM MAIS DUVIDA DE QUE O CABO ANSELMO FOSSE SEMPRE AGENTE DUPLO”; tendo recebido de nossa publicação o sobretítulo “Cabo Anselmo, o alcaguete do século XX, por Celso Lungaretti” (1°/9).

Em julho de 2005, escrevi o artigo “Cabo Anselmo e os neogolpistas”, publicado pelo diário espanhol La Insígnia, através do qual afirmo, fundamentado em minha experiência pessoal na Marinha de Guerra, que “Há quem acredite que cabo Anselmo mudou de lado quando voltou do exílio (Uruguai e Cuba) em 1970. Engano. Na verdade, ele era um agente infiltrado nos movimentos populares que precederam o golpe militar”.

(Para entender esta minha afirmação, leia artigo ainda disponível em La Insignia: http://www.lainsignia.org/2005/julio/ibe_074.htm .)

Já ouvi pessoas alegarem que Anselmo teria, sim, “mudado de lado” depois de se decepcionar com a atuação luta armada contra a ditadura implantada no país em 64 e consolidada em 68 através do Ato Institucional n° 5, o famigerado AI-5.

“Cabo Anselmo treinou táticas de guerrilha em Cuba!”, bradou certa ocasião um dos meus interlocutores, acreditando que tal argumento justificaria que, até aquela ocasião, ele seria um autêntico combatente da ditadura militar.

Outro, em comentários a trechos do meu artigo, postado por terceiros no CMI, alega que “Anselmo já era dirigente da VPR ANTES da prisão dele em 1970, ele foi delegado do MNR (Movimento Nacional Revolucionário), na Conferência da OLAS (Organização Latino-Amerinacana de Solidariedade) em 1967, justamente por Brizola recuar na luta armada (era o líder máximo do MNR), Onofre Pinto, Anselmo e outros militares cassados foram aglutinando no que formaria a VPR (além dos universitários da POLOP)”. O autor do comentário acredita que, por isso mesmo, cabo Anselmo só mudou de lado depois de preso pela repressão. Esquecem que um elemento infiltrado age com aparente naturalidade, muitas vezes demonstra mais empolgação que os legítimos militantes. São treinados para isso, contam com assessoria permanente do verdadeiro lado para o qual prestam seus serviços de alcaguete, o lado dos que os remuneram pelos serviços prestados.

Comentários do embaixador Arnaldo Carrilho, enviados por e-mail à nossa Agência Assaz Atroz:


“Então, finalmente, chegou-se a uma conclusão - tardia, como sempre, como quase todas entre nós - sobre que é e foi o "Cabo" Anselmo...Que diria hoje o Elio Gaspari, que manteve como troféu, em gaveta de sua mesa de trabalho no JB, o boné do dito cujo, o mítico marinheiro que muitos queriam ver como o herói de um Potionquim inexistente...

Há pesquisas que precisam ser aprofundadas no Brasil, em seguida consolidadas e publicadas: uma se refere à corrupção, no período de governos de excepcionais (1964-85) e, outra, a relacionada às infiltrações de elementos a serviço das forças repressivas. Há uma outra, mais delicada, por razões óbvias, que diz respeito aos colaboracionistas, sobretudo na área cultural (*).

Até entre os banidos acolhidos pelos argelinos (1970), apareceu um certo Manuel (ou Manoel), publicitário, que trabalhou na agência oranense do quotidiano El Moudjahid e, depois, como seu chefe foi removido para a Capital, foi transferido também para Argel. Quando os "serviços" argelinos descobriram que o cara era infiltrado, trabalhando não só para o SNI, mas principalmente para a CIA, foi por esta a tempo avisado. Como tinha passaporte e dinheiro no fundo-falso de sua mala, logrou partir para o aeroporto de Maison Blanche (há tempos, já, Houari Boumedienne) e se mandou do país de asilo.

Por onde andas, Manoel-Manuel, se não passas de produto da imaginação do seu ex-patrão argelino que bem conheço? Que tens a dizer?

Abraços do
Arnaldo Carrilho.

(*) O período em que Maria Alice Barroso dirigia o INL (Instituto Nacional do Livro), por exemplo, seria rico de informações. Seria também interessante tomar notas das motivações que levaram à eleição do General Aurélio de Lyra Tavares ("Adelita") na ABL, já que não foram pelo alto valor de suas poesias, e assim por diante. Como escreveu Benjamin (Walter), a Historia tem de ser refeita com os cacos sobrantes do seu passado de devastações, ruínas e amarguras. Bom acrescentar, da sua podridão intrínseca. Tudo isso mesclado se transforma em materiais de construção da frágil ponte do presente, sem a qual não se tem como sonhar com um futuro plausível.”

Bom, o Manoel-Manuel escafedeu-se. É provável que, se os seus próprios protetores, pela necessidade de queima de arquivo, não o eliminaram, então, deve estar vivendo sob disfarce, com o rosto remodelado por cirurgia plástica, e desfrutando suas trinta moedas de ouro em qualquer recanto sombrio do Planeta.

Mas cabo Anselmo voltou e aí está, amparado por antigos comparsas, protegido por velhos golpistas, juntos desafiando a sociedade. Pretendem eles “desmoralizar a atuação da Comissão de Anistia e do próprio Ministério da Justiça”, conforme frisou Celso Lungaretti no seu artigo.

O Embaixador Arnaldo Carrilho teve sua carreira iniciada em 1962, chegou à Coreia do Norte depois de ter representado o Brasil, entre 2006 e 2007, na Cisjordânia controlada pela Autoridade Nacional Palestina. Já serviu em 14 países, passou 10 anos em postos na Europa e outros 12 em países árabes, China e Tailândia. Recentemente entregou credenciais ao governo de Kim Jong. Arnaldo Carrilho já inaugurou embaixadas brasileiras na Arábia Saudita e Alemanha Oriental e foi designado como Embaixador Extraordinário junto à Cúpula América do Sul-Países Árabes, que aconteceu em 2008.

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