A mística em torno de Mao Tsé-tung alimentada pela indústria do turismo de Shaoshan, na Província de Hunan, transformou o líder comunista em uma figura semidivina, à qual muitos chineses recorrem para pedir ajuda e proteção.
A reportagem é do jornal O Estado de S. Paulo, 20-09-2009.
Esse processo informal de beatificação do ateu fundador da República Popular da China é alimentado por rituais quase religiosos realizados por visitantes diante de estátuas com sua imagem. Como ocorre com santinhos em Aparecida do Norte ou no Vaticano, inúmeros objetos com seu rosto estampado são vendidos.
Em Shaoshan, a guia turística fala de um Mao dotado de poderes sobrenaturais, capaz de influenciar o destino dos vivos até hoje.
A narrativa sobre a inauguração da estátua do líder comunista, em 26 de dezembro de 1993 - no centenário de seu nascimento - é entremeada de fatos extraordinários. Nos dois dias anteriores, Shaoshan estava sob chuva intensa, que cessou na manhã do dia 26. O Sol e a Lua apareceram ao mesmo tempo no céu quando o então presidente Jiang Zemin preparava-se para puxar o tecido vermelho que cobria a obra. Mais impressionante ainda foi o desabrochar em pleno inverno de uma flor que tradicionalmente só aparece na primavera, continua o relato.
Tang, a guia do grupo em que estava a reportagem do Estado, lembrou que o atual presidente da China, Hu Jintao, visitou Shaoshan três vezes e, em cada uma delas, foi promovido logo em seguida.
"Shaoshan é um lugar sagrado para a Revolução e todo mundo deveria vir até aqui", afirmou Fang Xing, de 27 anos, um dos cerca de 40 turistas que estavam no mesmo ônibus da reportagem.
Além da casa onde o líder comunista nasceu em 1893 e a estátua relacionada a fenômenos sobrenaturais, a outra atração de Shaoshan é o templo em homenagem aos ancestrais de Mao, construído em 1766.
O culto aos ancestrais é um elemento central do confucionismo, a milenar filosofia que moldou o caráter dos chineses e foi combatida de maneira feroz pelo Grande Timoneiro.
O busto de Mao está no centro do altar, acima do qual estão expostas plaquinhas de madeira com os nomes dos integrantes de sua família.
Os visitantes são orientados a fazer reverências diante do altar e estimulados a pegar cartões de metal dourados com a imagem de Mao rodeada de raios de sol. Diz a tradição que quem portar o amuleto será protegido pelo líder comunista, desde que grave seu nome no verso, o que é feito por 20 yuans (US$ 3) por funcionárias que ficam em uma sala ao lado.
"De todos os lugares quentes da China, Shaoshan é o mais quente, porque é aqui que o sol nasce", declamou Tang, lembrando a popular associação de Mao ao sol vermelho.
Fonte:IHU
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