O ex-ministro Antônio Palocci disse ao blogueiro Ricardo Kotscho que "o Brasil já está voltando a mostrar os mesmos números anteriores à crise na economia, embora tenha havido muitas perdas, como no mundo todo". Sobre o fato de Lula ter dito no ano passado que a crise seria uma marolinha, Palocci disse que achou arriscada a aposta "porque naquele momento era completamente impossível imaginar o cenário que teríamos com a quebra do banco. O tempo mostrou que ele tinha uma razoável dose de razão."
"Pela primeira vez, o Brasil entrou numa crise internacional reduzindo juros e tributos, mantendo suas reservas. Antes, sempre acontecia exatamente o contrário. Definitivamente, do ponto de vista macroeconômico, o país apresenta um equilíbrio bastante forte. O Lula falou o que falou porque tinha consciência desta situação. O Brasil hoje tem um mercado interno mais forte do que há uma década pela melhora do emprego e pelos programas de renda."
Segundo o ex-ministro, "a fase mais complicada foi passagem de 2008 para 2009, quando a economia brasileira foi duramente atingida por uma queda brusca no comércio exterior e nos investimentos privados. Dada a sustentabilidade da macroeconomia brasileira, no entanto, o Brasil se recuperou mais cedo da crise, assim como a China. Os bancos brasileiros, tanto os públicos como os privados, se portaram muito bem neste momento. Nos privados, a restrição de crédito foi muito maior, mas os bancos públicos cumpriram bem seu papel de irrigar o crédito."
Entrevistado pela blogueira Miriam Leitão, Sérgio Vale, sócio da consultoria MB Associados, afirmou que "no segundo semestre não existem mais grandes transferências de renda do governo, a não ser a adição de um milhão de famílias no Bolsa Família. Mas a recuperação da renda deve manter-se pela recuperação da classe média, que está em pleno curso" acrescenta.
Ele entende que os destaques do semestre devem ser ainda o varejo, que ajudará a indústria a se recuperar no final do ano. E a própria indústria pode ser destaque, principalmente de bens duráveis e de construção. "Alguns testes serão importantes ainda, como a diminuição da redução do IPI de automóveis, mas que não acreditamos que vá ter grandes impactos negativos." Para o próximo ano, a MB manteve as perspectivas de crescimento de 4%, embora entenda que o número caminhe para se tornar um piso.
Já o ex-ministro das comunicações do governo FHC, Luiz Mendonça de Barros, disse ao Estadão que está muito otimista com o Brasil. Segundo Mendonça de Barros, os investimentos serão os últimos a se recuperar. "A boa notícia é que, pelos cálculos da Marina Santos, economista da Quest que acompanha a questão, a capacidade ociosa vai se reduzir antes do que a gente pensava. Não há dificuldade de entender o que está acontecendo com o investimento - a razão é que se gerou uma capacidade ociosa na economia, e a boa notícia é que vai se fechar mais cedo do que o esperado. Aí o investimento vem."
Para Mendonça de Barros, o Brasil nem entrou em recessão. O que tivemos foi uma queda no vazio, por causa da crise, mas já voltamos. "Tem aquela discussão de mesa de bar de economista, que leva a noite toda, se recessão é ou não dois trimestres de queda, o que é recessão. Em economia, essa caracterização muito linear das coisas não existe. Temos de olhar o que está acontecendo. Se você olhar salário, o crédito, nota-se que houve mecanismos de autocorreção que funcionaram mesmo. Tanto que a massa salarial continua crescendo. Nunca vi recessão em que a massa salarial continua crescendo."
Quando fala do crescimento da economia, o ex-ministro mostra todo o seu otimismo. Segundo ele, "vamos retomando, progressivamente, o PIB do ano deve ser ligeiramente positivo, e acho que crescemos 5% no ano que vem. Estou muito otimista com o Brasil. Muito."
Ele faz uma única ressalva: "o resultado do segundo trimestre foi fortemente impulsionado pelo setor externo, com contribuição significativa da queda das importações (o que aumenta o espaço para a produção nacional). Ele acha que esse fator vai se enfraquecer daqui para a frente, com a recuperação das importações".
Mendonça não deixa de ter razão nesse ponto, mas essa recuperação das importações só passará a trazer repercussões negativas no resultado do PIB quando o nível da capacidade instalada (Nuci) já estiver em níveis mais altos, o que destravará os investimentos. Uma coisa compensará a outra, com saldo positivo na balança, já que as importações também ajudam a aquecer o comércio e controlar preços. E quando o ciclo dos estoques estiver terminado e setor produtivo estiver pronto para voltar a investir, encontrará um cenário com demanda aquecida e juros baixos. A menor taxa Selic de nossa história recente.
Para Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, a ação do governo por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar os investimentos trouxe um estímulo para a indústria investir mais. "Vamos colher esses frutos no final do ano. Não sabemos em que intensidade, mas sabemos que haverá retorno no nível de investimentos." Para a compra de máquinas e equipamentos, o BNDES baixou a taxa anual de juros para 4,5% e alongou o prazo de financiamento para até dez anos, com dois de carência. O benefício vale até o fim deste ano.
Estamos todos otimistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário