domingo, 8 de novembro de 2009

MÍDIA - Jornalistas de todo mundo enxergam uma nova cara.

Livro do sociólogo Demétrio Magnoli explica como iniciativas racialistas envenenam a sociedade. Por Fábio Terra Teixeira
Leitor colaborador
Próxima Parada
Por Claudio Carneiro

Parece que o Brasil subiu mesmo alguns degraus na escada que leva ao prestígio e ao reconhecimento mundial reservado às grandes nações. Mesmo diante dos problemas sociais com os quais convivemos e dos incontáveis e caseiros escândalos políticos, é certo que já somos vistos de jeito diferente pelo mundo. A imagem do país mudou. O fato de termos passado sem maiores problemas pela crise econômica mundial, a escolha do país para sediar eventos como Copa do Mundo e as Olimpíadas, além da força midiática do presidente da República – chamado de “o cara” por Barack Obama e comparado a Jesus Cristo por Hugo Chávez –, reforçam a sensação de que o país está na moda e respira uma nova atmosfera de otimismo e crescimento.

Não é fácil esquecer as recentes imagens daquele helicóptero despencando em chamas ou do corpo de um homem num carrinho de supermercado em mais um dia de violência na futura cidade–sede de importantes competições. Isso sem mencionar – e já citando – o desmatamento da Amazônia e a manutenção de velhas raposas em pontos-chave do poder – fato que lembra citação de Lula à Folha de São Paulo de que “no Brasil, Jesus teria de fazer aliança com Judas”. O certo é que a imprensa internacional tem papel importante na exportação desta nova cara.

Para o comentarista político escocês John Fitzpatrick – 14 anos de Brasil – e também editor do Latin Business Chronicle, os países desenvolvidos agora entendem que existe um grupo com grande potencial – liderado pelos chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) – e que o Brasil está ganhando espaço na mídia no exterior. “Nesta última semana, dei entrevistas para rádios e publicações da Áustria, China, EUA, Jamaica e Rússia. A imagem de Lula – equivalente a de Vladimir Putin – é mais forte que a dos presidentes destes outros países” avalia.

Lula, por exemplo, é considerado pelo colombiano Jaime Ortega, da Agência Efe, um símbolo da luta pelos direitos dos trabalhadores que soube conciliar as demandas trabalhistas com a visão do empresariado. Há doze anos no Brasil, o colombiano acha que a liderança política na região e a luta contra a fome e a pobreza – que tem sua marca no Bolsa-Família – contribuíram para firmar a boa imagem do país e de seu presidente, nos últimos anos. Para o mineiro Marcelo Torres, correspondente do SBT na Inglaterra, Lula é tido pela imprensa europeia como o protagonista de um país que, nas próximas décadas, será visto pela comunidade internacional como uma potência: “As esquerdas nos países latinos da Europa, como a Espanha, por exemplo, veem no presidente brasileiro um líder que encontrou a terceira via entre a direita latino-americana e a esquerda mais “desastrada”, simbolizada por Hugo Chávez”, observa.

Corrida de obstáculos: a flexibilidade em lidar com as dificuldades

Os correspondentes concordam que o Brasil está entre os que menos sofreram com a crise econômica mundial. É o que diz o diretor da agência chinesa de notícias Xinhua no Rio de Janeiro, Yang Limin. ”A velocidade com que o Brasil se livrou do cenário recessivo surpreendeu os economistas chineses”. Fitzpatrick, por sua vez, acha que tudo não passou de um breve recuo: “Baseio meu julgamento naquilo que vejo nas ruas, lojas, restaurantes, supermercados e não em estatísticas e indicadores”. Mesmo sentimento tem Marcelo Torres. ”A recuperação foi principalmente centrada no mercado interno, que continuou a crescer apesar de o apetite externo pelas exportações brasileiras ter sofrido uma queda momentânea. O modo como o Brasil lidou com a crise foi elogiado por veículos especializados, como a revista The Economist e o jornal inglês Financial Times”, comenta.

Ainda segundo os jornalistas, as indicações para sediar a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos olímpicos, em 2016, são emblemáticas para demonstrar a mudança da imagem do país. “Até o início dos anos 1990, este era um país pouco sério – do futebol, samba e carnaval. Mas a estabilidade econômica – e também política – trouxe respeito internacional ao Brasil que passou a ser considerado ator importante no cenário global”, diz Ortega. Para Yang Limin, a escolha como país-sede de importantes eventos esportivos foi outra surpresa brasileira para os chineses “porque eles achavam que, economicamente, o Brasil era pouco desenvolvido”. Marcelo Torres arremata: “o país finalmente começa a ser levado a sério. Há um clima mundial favorável para inseri-lo, cada vez mais, como um dos grandes “players” do mundo moderno.

Para os correspondentes, a estabilidade política ajudou a aumentar o otimismo. O fato de Fernando Henrique Cardoso e Lula terem sido reeleitos criou um clima de confiança que o país nunca experimentara. É o que afirma Fitzpatrick: “Mesmo que Lula goste mais de fazer palestras e discursos do que administrar o país, ele teve o bom senso de deixar a área econômica em mãos seguras – especialmente o Banco Central –, não mexeu no câmbio ou na meta de inflação, ao mesmo tempo em que manteve o (Guido) Mantega sob firme controle”. Já o repórter do SBT acha que depois de mais de uma década de políticas consistentes para combater a inflação e a insolvência, o país finalmente começa a ser levado a sério para investimentos de longo prazo. “O carimbo das agências de crédito de que o país é seguro para receber esse crédito também ajudou muito”, afirma Marcelo.

E se o brasileiro tem como principais qualidades a flexibilidade em lidar com as dificuldades, o empreendedorismo, o potencial para o crescimento e sua simpatia – apontados por todos os correspondentes – ele tem também os seus defeitos. A tolerância quase apática do cidadão diante da violência, da burocracia, da falta de eficiência, da corrupção, do paternalismo, da preguiça e, ainda, a histeria diante da proximidade do verão estão entre os nossos comportamentos mais negativos. Tudo isso visto por profissionais que têm compromisso com a verdade e um distanciamento seguro de nossa realidade. Esta pode ser uma grande lição.
Escrito por: Claudio Carneiro

Fonte:Opinião e Notícia

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