sábado, 14 de novembro de 2009

NÃO BEBER PARA ENTRAR EM FORMA OU ENTRAR EM FORMA PARA BEBER.?

Mauricio Tagliari
De São Paulo

Seriam a boa forma e o consumo de álcool necessariamente opostos inconciliáveis e excludentes? Claro que nesse universo atual de doping e tecnologia de extremos, um atleta de alta performance dificilmente teria um rendimento ótimo de ressaca. Mas, para o atleta amador, o frequentador de academia mediano, o consumo diário moderado de bebida alcoólica não deveria ser crítico.

Minha observação diz que, depois dos 30 anos, quem gosta de beber precisa ter uma atividade física. E precisamente este é o tipo da maioria dos frequentadores de academias ou parques onde se pratica algum esporte. Eles correm e se exercitam para poder beber e comer bem e sem culpa.

Atividade física moderada é uma fonte de prazer (serotonina? endorfina? ó, ciência, me explique!) tão poderosa quanto degustar um bom copo de vinho ou uma boa cerveja. Às vezes muito mais viciante.

O glorioso futebol brasileiro está cheio de histórias de grande times ou craques que davam seus goles e brilhavam em campo. Isso antes do moralismo politicamente correto e do profissionalismo mercenário assumirem seus postos.

O glorioso Botafogo de Garrincha e Didi, vez ou outra, fazia sua concentração desde sexta-feira na então idílica ilha de Paquetá. Os jogadores passavam o tempo pescando na murada à beira-mar, vigiados pela equipe técnica. Mal sabiam os espiões, ou faziam vistas grossas, que pendurada por barbante, dentro d'água, jazia uma branquinha da boa para matar a sede. Afinal, pescaria sem cachaça não tem graça, certo? E ao que eu saiba o time da estrela solitária nunca brilhou tanto quanto naqueles tempos.

Já nos tempos da guerra entre o futebol-arte e o futebol-força, o brilhante doutor Sócrates ficou famoso por entrar em jogo chegando em cima da hora, depois de consumo sério de cerveja. E, pasmem, para decidir jogo. Favoravelmente, que se diga...

Um maratonista conhecido meu mencionou, e jurou ser verdade, que em uma prova por ele disputada na Alemanha os corredores dispunham igualmente de água, isotônico ou uma boa cerveja gelada para se hidratar. Tenho cá pra mim que deve ser verdade, pois já vi e li muitas vezes sobre o consumo de cerveja ser consagrado no futebol alemão durante os treinos e mesmo durante os jogos. E, fique claro, estou falando desse consumo entre os jogadores, não entre o povo da arquibancada! Pois é, por aqui nem o torcedor anda podendo beber sua geladinha no estádio.

Já o futebolzinho social, seguido de cerveja, churrasco e muitas vezes também de uma batucada de qualidade questionável (exceção feita a certas regiões do Rio de Janeiro e da Bahia), é uma verdadeira tradição brasileira que permeia todos os grupos sociais. Uma pena que este hábito leve ao consumo de uma cerveja de paladar fraco e, diria, alienante. Privilegia a quantidade em detrimento da qualidade. Donde, talvez, a vasta mediocridade padronizada das cervejas de maior consumo no país. Pouco sabor, nenhum amargor ou aroma. Sempre uma lager meio fraca fantasiada de pilsner.

Não sei se dá para culpar a estratégia das grandes cervejarias e sua publicidade. Pelo que sei, este tipo de cerveja é resultado de pesquisa junto ao público. O pessoal quer, a cervejaria dá. O problema é que aquele que busca uma cerveja mais interessante acaba pagando muito mais caro e muitas vezes nem tem opções à mão.

Portanto, se for para cumprir a função de reidratação pós-esporte, e se o que temos é uma cerveja, não exatamente uma vencedora de concurso de degustação, eu sugiro tentar uma das seguintes fórmulas:

Berliner Wasser - literalmente "água berlinense", esta receita tradicional alemã tem muitas variantes. Experimente uma dose de chope (ou cerveja estupidamente...!) e uma de club soda bem gelada num copo também gelado com umas gotas de algum licor de frutas vermelhas. Como opção, tente apenas a mistura de chope com soda limonada e um toque de groselha. Também fica bem leve e saboroso.

Chope sujo - conheci esta iguaria em Cuiabá, a cidade mais quente (no sentido térmico) onde já pisei. Consiste num copo tulipa que leva meia dose de chope e meia dose de água de coco bem gelada. Para que haja uma quantidade de espuma razoável e dar um visual mais atraente, não vire o copo ao servir o chope. É extremamente refrescante sem ser doce.

Com esses drinks não há desculpa. Mantenha a forma e o prazer de beber. Corra e beba. Beba e corra.

Mauricio Tagliari é compositor e produtor musical. Sócio da ybmusic, escreve sobre música e bebidas no blog www.maisumgole.wordpress.com e sobre música no http://ybmusica.blogspot.com. É co-autor do Dicionário do Vinho Tagliari e Campos.

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