segunda-feira, 31 de agosto de 2009

LULA - trechos relevantes do discurso durante lançamento do marco regulatório do pré-sal.

Quem não se lembra do Mr.Link dizendo, no início da década de 50, que o Brasil não tinha petróleo ou do Roberto Campos, mais conhecido por Bob Fields, chamando a Petrobrás, no auge do reinado do Deus Mercado, de Jurássica, ou do FHC querendo mudar o nome da Petrobrás para Petrobrax? Esse discurso é endereçado à essas pessoas.Quem quiser lêr o discurso na íntegra, pode acessar o Blog do Planalto que chegou em boa hora,já que a imprensa corporativa gosta mesmo é de publicar sómente fatos negativos em relação ao Lula e seu governo.
Carlos Dória

Diferente dos pronunciamentos da ministra Dilma Roussef (Casa Civil) e de Edson Lobão (Minas e Energia), que ficaram na área técnica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poupou os adversários políticos durante o lançamento do marco regulatório do pré-sal que ocorreu nesta segunda (31), no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília. Referindo-se ao governo tucano de FHC, Lula criticou a quebra do monopólio da Petrobras e a tentativa de mudança de nome da empresa para Petrobrax.

Sem dar a mínima para parlamentares da oposição que já haviam criticado o governo pelo uso eleitoral da apresentação do marco regulatório, Lula reservou parte do seu discurso para criticar seus adversários. Disse que houve um tempo em que a Petrobras vivia um momento difícil. “Tinha dificuldades de capitação externa e não contava com recursos próprios para bancar os investimentos.”

“Estamos vivendo hoje um cenário totalmente diferente daquele que existia em 1997 quando foi aprovada a lei 9.478 que acabou com o monopólio da Petrobras na exploração do petróleo”, lembrou o presidente.

Na época, segundo Lula, o mundo vivia um contexto em que os adoradores do mercado estavam em alta e tudo que se referisse a presença do estado estava em baixa. “Vocês devem lembrar como esse estado de espírito afetou o setor do petróleo no Brasil”, disse sob aplausos de uma plateia de mais de três mil pessoas entre governadores, ministros, parlamentares, sindicalistas e representantes do movimento social.

Lembrou que “altas personalidades chegavam a dizer que a Petrobras era um dinossauro, mais precisamente o último dinossauro a ser desmantelado no país”. Para ele, não fosse a forte reação da sociedade teriam até trocado o nome da empresa. “Ao invés de Petrobras como marca do Brasil a companhia seria chamada de Petrobrax. Sabe-se lá o que esse xis queria dizer?”

O argumento na época usada pelo governo demo-tucano era que o “brás” associava a empresa ao Brasil, o que no mercado internacional daria uma ideia de atraso. “Foram tempo de pensamentos subalternos, o país tinha deixado de acredita em si mesmo”, afirmou o presidente.

Números da economia

Ainda mirando os adversários, o presidente disse que no campo econômico o Brasil não conseguia crescer, sofria com altas taxas de juros, desemprego e apresentava alta dívida externa. “Praticamente não tinha reservas internacionais e volta e meia quebrava, sendo obrigado a pedir ao FMI (Fundo Monetário Internacional) ajuda que chegava sempre acompanhada de um monte de imposições.”

O presidente diz que o quadro atual é inteiramente diferente. “Em primeiro lugar os países descobriram na recente crise financeira internacional que sem regulação e fiscalização do estado, o Deus mercado é capaz de afundar o mundo num abrir e fechar de olhos. O papel do estado como regulador voltou, portanto, a ser mais valorizado”, disse.

Lula afirmou que os reflexos na economia brasileira são marcantes. Crescimento em média de 4,1% entre 2003 a 2008 e nos últimos dois anos acima de 5%. Segundo ele, nesse período o Brasil gerou 11 milhões de empregos com carteira assinada, o desemprego caiu de 11,7% para 8% e as taxas de juros são as menores das últimas décadas.

“Não só pagamos a dívida externa pública como acumulamos reservas superiores a US$ 215 bilhões. Reduzimos de forma consistente a miséria e as desigualdades sociais. Mais que 30 milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza e 20 milhões ingressaram na nova classe média fortalecendo o mercado interno e dando vigoroso impulso na nossa economia”, afirmou o presidente lembrando que a economia foi testada na mais grave crise internacional desde 1929.

De Brasília,
Iram Alfaia/Site O Vermelho

ANOS DE CHUMBO - Deputados pedem punição aos torturadores para concluir anistia.

A punição dos torturadores foi defendida na sessão solene em comemoração aos 30 anos da Lei da Anistia, na tarde desta segunda-feira (31), na Câmara dos Deputados, em Brasília. Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Luiz Couto (PT-PB), a punição aos torturadores “não busca satisfazer o afã de ver esses criminosos atrás das grades. O sentido da aplicação das leis é dar demonstração de que tais crimes não são tolerados e não poderão jamais ser repetidos.”
Câmara dos Deputados
Lei da Anistia

Os 30 anos da lei é oportunidade para concluir processo de anistia

A sessão, de muitos discursos, foi encerrada com música e poesia. A cantora Renata Jambeiro interpretou a música considerada o Hino da Anistia - o Bêbado e o Equilibrista, de Aldir Blanc e João Bosco. E o poeta Pedro Tierra declamou: “Venho da Pátria dos tormentos/ Venho de um tempo de crime/ Venho das chagas que a noite lavrou na carne dos homens/ Não pedirei perdão à corte dos meus carrascos/ Pelo grito de rebeldia/ Arrancado do meu sangue (...)”

Couto se antecipou aos demais oradores ao resumir as tarefas que devem ser executadas para concluir o processo de anistia. “O marco dos 30 anos da Lei da Anistia é uma oportunidade para a reflexão e a mobilização da sociedade brasileira no sentido de complementar o "acerto de contas com o passado e o futuro."

E enumerou as tarefas: “resgatar os documentos e informações ainda não revelados; responsabilizar os que, em nome do Estado, na época ilegítimo, pois se tratava de uma ditadura estabelecida por meio de um golpe militar, cometeram crimes imprescritíveis contra a humanidade e; por fim, concluir o julgamento de todos os processos de reparação e indenização das vítimas da repressão.”

Balanço das vítimas

Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que “estamos aqui em nome daqueles que, nas páginas infelizes da nossa história, sofreram demais – eles e suas famílias, eles e seus amigos”, e fez um balanço de vítimas da ditadura, que produziu, de 1964 a 1984, 20 mil condenados por tribunais militares, 10 mil expulsos do Brasil, 4.877 que exerciam cargos públicos, mandatos políticos cassados dos seus direitos de fazer política e 474 mortos e desaparecidos, segundo dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH).

Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos, que participou da sessão, ao lado do representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante Junior, e da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), insistiu na punição aos torturadores.

“Insisto com o compromisso do direito à memória e à verdade, não para dividir, mas para unir a nação brasileira, para dar condicionantes para a democracia que se quer construir seja consolidada. Não esqueceremos, processaremos, mas se a Justiça decidir (referência ao julgamento próximo no STF), acredite que o tema voltará a ser discutido em três anos novamente no Supremo”, disse Vanucchi.

Atualidade da luta

Pelo PCdoB, falou o deputado Flávio Dino (MA), que destacou a perseguição sofrida pelo Partido, que teve praticamente todo a direção dizimada, seja na Guerrilha do Araguaia, seja na Chacina da Lapa. Disse que ainda assim, o Partido manteve sua vitalidade e retomou sua trajetória histórica, e que defende “a conciliação nacional, mas não do silêncio, da conivência, mas da justiça.”

Ele disse ainda, a exemplo dos outros parlamentares, que a atualidade da luta pela anistia é na identificação dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. O PCdoB luta ainda hoje para que a Comissão que se dedica a localizar os restos mortais no Araguaia obtenha sucesso.

Pedro Wilson (PT-GO) lembrou o slogan de 30 anos atrás: “Anistia ampla, geral e irrestrita”, lembrando que essa “é uma longa luta que até hoje não foi totalmente cumprida. Ainda há mortos e desaparecidos, pessoas anistiadas, que não foram reintegradas nas Forças Armadas, nos Ministérios, nos Estados, nos municípios. Pessoas foram expulsas do trabalho, da universidade, do seu presente e do seu futuro.”

O presidente da Casa, deputado Michel Temer (PMDB-SP) abriu a sessão, com uma hora e meia de atraso, em função da solenidade de lançamento do marco regulatório do pré-sal. Disse que o evento era importante para rememorar fatos históricos para que aquilo que ocorreu antes da anistia, não volte a acontecer.

Disse ainda que a relembrança teve ter os olhos voltados para o futuro, para prevenir acidentes autoritários no futuro. Como os demais oradores, Temer destacou que a Lei da Anistia não foi concessão dos poderosos, foi conquista do povo. Passada a fase mais aguda da ditadura, começaram vários movimentos populares, que redundou na Lei da Anistia.

Programa de rádio

A Rádio Câmara, em comemoração também aos 30 Anos da Lei da Anistia, apresenta, desta segunda-feira até quinta-feira (3), sempre às 8 horas e às 23 horas, uma série de quatro reportagens especiais que tratam sobre a importância da Lei da Anistia no processo de redemocratização do País.

O programa fala da luta armada, de torturas, prisões e exílios que marcaram o período, especialmente após a edição do AI-5. Na série, são destacados o contexto que levou à aprovação da Lei pelo Congresso; a atual polêmica que pode levar à revisão da Lei pelo STF, a discussão sobre os critérios de indenização e os pedidos para abertura dos arquivos da ditadura.

De Brasília
Márcia Xavier/Site O Vermelho.

ANOS DE CHUMBO - Deputados pedem punição aos torturadores para concluir anistia.

A punição dos torturadores foi defendida na sessão solene em comemoração aos 30 anos da Lei da Anistia, na tarde desta segunda-feira (31), na Câmara dos Deputados, em Brasília. Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Luiz Couto (PT-PB), a punição aos torturadores “não busca satisfazer o afã de ver esses criminosos atrás das grades. O sentido da aplicação das leis é dar demonstração de que tais crimes não são tolerados e não poderão jamais ser repetidos.”
Câmara dos Deputados
Lei da Anistia

Os 30 anos da lei é oportunidade para concluir processo de anistia

A sessão, de muitos discursos, foi encerrada com música e poesia. A cantora Renata Jambeiro interpretou a música considerada o Hino da Anistia - o Bêbado e o Equilibrista, de Aldir Blanc e João Bosco. E o poeta Pedro Tierra declamou: “Venho da Pátria dos tormentos/ Venho de um tempo de crime/ Venho das chagas que a noite lavrou na carne dos homens/ Não pedirei perdão à corte dos meus carrascos/ Pelo grito de rebeldia/ Arrancado do meu sangue (...)”

Couto se antecipou aos demais oradores ao resumir as tarefas que devem ser executadas para concluir o processo de anistia. “O marco dos 30 anos da Lei da Anistia é uma oportunidade para a reflexão e a mobilização da sociedade brasileira no sentido de complementar o "acerto de contas com o passado e o futuro."

E enumerou as tarefas: “resgatar os documentos e informações ainda não revelados; responsabilizar os que, em nome do Estado, na época ilegítimo, pois se tratava de uma ditadura estabelecida por meio de um golpe militar, cometeram crimes imprescritíveis contra a humanidade e; por fim, concluir o julgamento de todos os processos de reparação e indenização das vítimas da repressão.”

Balanço das vítimas

Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que “estamos aqui em nome daqueles que, nas páginas infelizes da nossa história, sofreram demais – eles e suas famílias, eles e seus amigos”, e fez um balanço de vítimas da ditadura, que produziu, de 1964 a 1984, 20 mil condenados por tribunais militares, 10 mil expulsos do Brasil, 4.877 que exerciam cargos públicos, mandatos políticos cassados dos seus direitos de fazer política e 474 mortos e desaparecidos, segundo dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH).

Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos, que participou da sessão, ao lado do representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante Junior, e da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), insistiu na punição aos torturadores.

“Insisto com o compromisso do direito à memória e à verdade, não para dividir, mas para unir a nação brasileira, para dar condicionantes para a democracia que se quer construir seja consolidada. Não esqueceremos, processaremos, mas se a Justiça decidir (referência ao julgamento próximo no STF), acredite que o tema voltará a ser discutido em três anos novamente no Supremo”, disse Vanucchi.

Atualidade da luta

Pelo PCdoB, falou o deputado Flávio Dino (MA), que destacou a perseguição sofrida pelo Partido, que teve praticamente todo a direção dizimada, seja na Guerrilha do Araguaia, seja na Chacina da Lapa. Disse que ainda assim, o Partido manteve sua vitalidade e retomou sua trajetória histórica, e que defende “a conciliação nacional, mas não do silêncio, da conivência, mas da justiça.”

Ele disse ainda, a exemplo dos outros parlamentares, que a atualidade da luta pela anistia é na identificação dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. O PCdoB luta ainda hoje para que a Comissão que se dedica a localizar os restos mortais no Araguaia obtenha sucesso.

Pedro Wilson (PT-GO) lembrou o slogan de 30 anos atrás: “Anistia ampla, geral e irrestrita”, lembrando que essa “é uma longa luta que até hoje não foi totalmente cumprida. Ainda há mortos e desaparecidos, pessoas anistiadas, que não foram reintegradas nas Forças Armadas, nos Ministérios, nos Estados, nos municípios. Pessoas foram expulsas do trabalho, da universidade, do seu presente e do seu futuro.”

O presidente da Casa, deputado Michel Temer (PMDB-SP) abriu a sessão, com uma hora e meia de atraso, em função da solenidade de lançamento do marco regulatório do pré-sal. Disse que o evento era importante para rememorar fatos históricos para que aquilo que ocorreu antes da anistia, não volte a acontecer.

Disse ainda que a relembrança teve ter os olhos voltados para o futuro, para prevenir acidentes autoritários no futuro. Como os demais oradores, Temer destacou que a Lei da Anistia não foi concessão dos poderosos, foi conquista do povo. Passada a fase mais aguda da ditadura, começaram vários movimentos populares, que redundou na Lei da Anistia.

Programa de rádio

A Rádio Câmara, em comemoração também aos 30 Anos da Lei da Anistia, apresenta, desta segunda-feira até quinta-feira (3), sempre às 8 horas e às 23 horas, uma série de quatro reportagens especiais que tratam sobre a importância da Lei da Anistia no processo de redemocratização do País.

O programa fala da luta armada, de torturas, prisões e exílios que marcaram o período, especialmente após a edição do AI-5. Na série, são destacados o contexto que levou à aprovação da Lei pelo Congresso; a atual polêmica que pode levar à revisão da Lei pelo STF, a discussão sobre os critérios de indenização e os pedidos para abertura dos arquivos da ditadura.

De Brasília
Márcia Xavier/Site O Vermelho.

MÍDIA - Argentina: o que muda com a reforma da mídia.

A Argentina está disposta a implementar uma nova Lei de Comunicação Audiovisual que substitua o decreto 22.285 de 1980, criado durante a última ditadura militar daquele país, no governo do general Jorge Videla. O texto revisado do novo projeto foi apresentado em março passado e passou por mudanças sugeridas em dezenas de fóruns ocorridos desde então. Na quinta-feira (27), a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou a lei ao Congresso Nacional.

Cristina, na ocasião, declarou que o projeto contribuirá para que a Argentina seja "mais democrática e mais plural". Ao anunciar a proposta de lei, ela lembrou os "118 jornalistas detidos ou desaparecidos" nos anos de chumbo do regime e ressaltou que as vítimas do período "deram testemunho do que é o exercício verdadeiro da liberdade de imprensa".

Devido a seu caráter progressista e popular, o projeto conta com o respaldo de organizações sociais e sindicatos — mas enfrenta, naturalmente, a oposição dos proprietários dos meios de comunicação. De cara, a medida — que será votada no Congresso — visa dividir o espaço de radiodifusão em três partes: a primeira ao setor privado, uma outra a cargo do Estado e, por fim, uma parte de uso exclusivo de instituições sociais como universidades, comunidades locais e igrejas.

Hoje, o espectro é dominado pelo lado comercial. Além disso, cada grupo poderá ter no máximo dez licenças, contra as 24 de hoje. Os donos de TV´s abertas não poderão ter TV’s por assinatura no mesmo local geográfico. Está prevista também a possibilidade de desembarque das companhias telefônicas na comunicação audiovisual — o que ocasionaria na regulamentação para o Triple Play, com áudio, vídeo e dados no mesmo sistema.

No discurso de quinta-feira, diante de intelectuais, congressistas e sindicalistas, Cristina destacou que, apenas 26 anos depois da retomada da democracia na Argentina, o governo apresentou uma proposta sobre o tema. A mandatária também rebateu as críticas que seu projeto vem recebendo dos conglomerados da imprensa.

Na visão de Cristina, a nova lei garantirá "o direito a toda a informação", em vez do "ocultamento de uma parte dela" ou de sua "manipulação". Segundo a presidente, a votação em plenário será uma "prova" para a democracia da Argentina, devido à resistência ao projeto por parte de alguns empresários.

Da Redação, com agências/Site O Vermelho.

BOLÍVIA - Evo Morales é declarado pela ONU "Herói Mundial da Mãe Terra".

Isso você não vai vêr no JN.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, foi nomeado no sábado (30) pela Assembleia Geral da ONU "Herói Mundial da Mãe Terra". O reconhecimento foi entregue pelo presidente da entidade, o nicaraguense Miguel D'Escoto.

Em uma cerimônia realizada no Palácio Quemado, sede do governo boliviano, em La Paz, Morales recebeu de D'Escoto uma medalha e um pergaminho, no qual havia um texto que reconhece o presidente, primeiro indígena a governar o país, como "o máximo expoente e paradigma de amor à Mãe Terra".

Segundo o presidente da Assembleia da ONU, que também é sacerdote e já foi chanceler da Nicarágua, a distinção se deve ao trabalho do boliviano para preservar os valores dos povos originários.

"Sua mensagem tem um grande impacto. A mensagem que ele nos trouxe é a de que não devemos tratar a Terra como mercadoria, porque nós necessitamos dela e ela necessita de nós", afirmou.

A ideia de conceder a distinção a Morales, revelou D'Escoto, partiu de uma iniciativa do rei Abdullah da Arábia Saudita.

Após escutar um discurso do boliviano em defesa da Mãe Terra, o líder saudita sugeriu convocar uma reunião da Assembleia Geral da ONU para discutir maneiras de resgatar conceitos ancestrais a fim de combater a mudança climática.

Ao receber a medalha e o pergaminho, Morales agradeceu às Nações Unidas e dedicou o reconhecimento aos povos originários e antepassados, que segundo ele sempre defenderam os direitos da Mãe Terra.

"Este não é um reconhecimento para Evo Morales, mas a nossos antepassados, aos povos originários que sempre defenderam a Mãe Terra", disse.

Até hoje, somente dois outros líderes haviam sido designados "heróis mundiais" pela ONU. São eles o ex-presidente cubano Fidel Castro, "Herói Mundial da Solidariedade", e o falecido ex-presidente da Tanzânia Julius Nyerere, nomeado "Herói Mundial da Justiça Social".

"O que queremos fazer é apresentar ao mundo estas três pessoas e dizer que elas encarnam as virtudes e valores dignos de serem copiados por todos", ressaltou D'Escoto.

O presidente da Assembleia Geral da ONU lembrou que Morales "foi quem mais ajudou as Nações Unidas a declararem o 22 de abril como Dia Mundial da Mãe Terra".

Em janeiro, o mandatário boliviano conseguiu aprovar em referendo uma nova Constituição para o país, que estabelece um Estado "plurinacional" e contém uma série de artigos relacionados aos direitos dos povos ancestrais e à defesa da Mãe Terra, chamada pelos andinos de Pachamama.
Fonte:Site O Vermelho.

PETRÓLEO - Lula faz discurso de olho no petróleo, na história e em 2010.

O pré-sal é "patrimônio da União, riqueza do Brasil e passaporte para o nosso futuro", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira ao encaminhar sua proposta para a megajazida petrolífera. Em um "dia histórico", Lula não recorreu a improvisos, que costumam conter as suas declarações mais incisivas. Porém o longo discurso lido e medido nem por isso foi menos politizado, de olho no petróleo, mas também na história e igualmente nas eleições de 2010.

Lula: pré-sal foi a "volta por cima" do "dinossauro"

"Não se pode ainda dizer, com certeza, quantos bilhões de barris o pré-sal acrescentará às reservas brasileiras. Mas já se pode dizer, com toda segurança, que ele colocará o Brasil entre os países com maiores reservas de petróleo do mundo", previu o presidente. As estimativas sobre o tamanho do pré-sal variam muito, chegando a 70 bilhões e até 100 bilhões de barris. O governo por enquanto trabalha sobriamente com 50 bilhões.

"Tempos de pensamento subalterno"

Uma das passagens mais fortes marcou as diferenças com a administração Fernando Henrique Cardoso. Sem citar nomes, Lula disse que em 1997, quando se estabeleceram as atuais regras petrolíferas, "o mundo vivia um contexto em que os adoradores do mercado estavam em alta e tudo que se referisse à presença do Estado na economia estava em baixa".

"Altas personalidades naqueles anos chegaram a dizer que a Petrobras era um dinossauro – mais precisamente, o último dinossauro a ser desmantelado no país. E, se não fosse a forte reação da sociedade, teriam até trocado o nome da empresa. Em vez de Petrobras, com a marca do Brasil no nome, a companhia passaria a ser a Petrobrax – sabe-se lá o que esse xis queria dizer nos planos de alguns exterminadores do futuro", afirmou Lula.

"Foram tempos de pensamento subalterno. O país tinha deixado de acreditar em si mesmo. Na economia, campeava o desalento. O Brasil não conseguia crescer, sofria com altas taxas de juros, de desemprego, e juros estratosféricos, apresentava dívida externa elevadíssima e praticamente não tinha reservas internacionais. Volta e meia quebrava, sendo obrigado a pedir ao FMI ajuda, que chegava sempre acompanhada de um monte de imposições. Além disso, não produzíamos o petróleo necessário para nosso consumo. Ferida, desestimulada e desorientada, a Petrobras vivia um momento muito difícil."

"Hoje, nós vivemos um quadro é inteiramente diferente", prosseguiu Lula. Destacou a crise global, onde "os países e os povos descobriram que, sem regulação e fiscalização do Estado, o deus-mercado é capaz de afundar o mundo num abrir e fechar de olhos". Valorizou "o papel do Estado, como regulador e fiscalizador" e voltou a citar os feitos de seu governo na economia e em especial na Petrobras.

"Em suma, os tempos e o ambiente no mundo são outros. A situação da economia brasileira é outra. O Brasil e o prestígio do Brasil são outros. A Petrobras é outra. E outra também é a situação do mercado do petróleo", resumiu Lula.

Três diretrizes contra os "perigos"

Para Lula, a riqueza do pré-sal, "bem explorada e bem administrada, pode impulsionar grandes transformações no Brasil, consolidando a mudança de patamar de nossa economia e a melhoria das condições de vida de nosso povo".

"Mas o pré-sal também apresenta perigos e desafios", advertiu ele. E lembrou a sina de "países pobres que descobriram muito petróleo" mas "continuaram pobres", pouis "o que era uma dádiva transformou-se numa verdadeira maldição".

Para evitar esse risco, "determinei três diretrizes básicas", osque orientam projetos de lei enviados ao Congresso.

"Primeira: o petróleo e o gás pertencem a todo o povo brasileiro". Portanto, "a maior parte da renda gerada" permanecerá nas mãos do povo.

"A segunda diretriz é de que o Brasil não vai se transformar num mero exportador de óleo cru". Exportará gasolina, óleo diesel e produtos petroquímicos, "que valem muito mais", geram empregos e "uma poderosa indústria fornecedora dos equipamentos e serviços".

"A terceira diretriz: não vamos nos deslumbrar e sair por aí, como novos ricos, torrando dinheiro em bobagens. O pré-sal é um passaporte para o futuro. Sua principal destinação deve ser a educação das novas gerações, a cultura, o meio ambiente, o combate à pobreza e uma aposta no conhecimento científico e tecnológico, por meio da inovação. Vamos investir seus recursos naquilo que temos de mais precioso e promissor: nossos filhos, nossos netos, nosso futuro."

O novo marco regulatório

Com esses objetivos, Lula defendeu a mudança do marco regulatório para o pré-sal. "Seria um grave erro manter na área do pré-sal, de baixíssimo risco e grande rentabilidade, o modelo de concessões, apropriado apenas para blocos de grande risco exploratório e baixa rentabilidade", afirmou. E justificou assim o sistema de partilha, onde "a União continuará dona da maior parte do petróleo e do gás".

Segundo Lula, o modelo de partilha permitirrá ao Estado controlar o processo de produção e "calibrar" seu ritmo, "de acordo com os interesses nacionais, sem se subordinar às exigências do mercado".

"Dessa maneira, ficará mais fácil para o Brasil contornar os riscos inerentes à produção excessiva, que poderia inundar o país de dinheiro estrangeiro, desorganizando nossa economia – aquilo que os especialistas chamam de doença holandesa", argumentou o presidente.

A Petrosal, "imprescindível"

Para gerir os contratos de partilha, o governo propõe acriação de uma nova empresa estatal, a Petrosal. A Petrosal "não concorrerá com a Petrobras" mas será "a representante dos interesses do Estado brasileiro, o olho atento do povo brasileiro, acompanhando e fiscalizando".

"Em vários países que adotaram o modelo de partilha, empresas com esse caráter revelaram-se imprescindíveis para defender os interesses públicos e nacionais nas negociações e na gestão de contratos e processos complexos e sofisticados como os que caracterizam a indústria petrolífera", argumentou Lula.

O novo Fundo, "uma mega-poupança"

O governo propõe também a criação do Fundo Social, que será responsável pela administração da renda do petróleo.

"De um lado, o novo fundo será uma mega-poupança, um passaporte para o futuro, que preservará e incrementará a renda do petróleo por muitas e muitas décadas. Os rendimentos do fundo serão canalizados, prioritariamente, para a educação, a cultura, o meio ambiente, a erradicação da pobreza e a inovação tecnológica. Vamos aproveitá-los para pagar a imensa dívida que o país tem com a educação e para permitir que a aplicação do conhecimento científico seja, na verdade, a nossa maior garantia do nosso futuro", disse Lula.

"De outro lado, o novo fundo funcionará, também, como um dique contra a entrada desordenada de dinheiro externo, evitando seus efeitos nocivos e garantindo que nossa economia siga saudável, forte e baseada no trabalho e no talento dos milhões e milhões de brasileiros."

Já "a nossa querida e orgulhosa Petrobras" será fortalecida com o "status especial" de "única empresa operadora" no pré-sal. E a União fortalecerá sua participação acionária na empresa, no valor "de até 5 bilhões de barris equivalentes de petróleo.

"Benditos amigos do dinossauro"

O discurso também rendeu várias homenagens aos lutadores pelo petróleo no passado, "chamados de fanáticos e maníacos, de lunáticos", como Monteiro Lobato. E também aos "que saíram às ruas em todo o país na campanha do 'O Petróleo é nosso', uma batalha travada em condições duríssimas. Basta ler os jornais da época, alguns em circulação até hoje, que ridicularizavam a campanha nacionalista. E eu digo: bendito nacionalismo, que permitiu que as riquezas da nação permanecessem em nossas mãos", disse Lula, alfinetando a mídia de hoje.

"Rendo homenagem muito especial, por fim, a todos os que defenderam a Petrobras quando a empresa passou a ser tratada como uma herança maldita do período jurássico. Benditos amigos e companheiros do dinossauro, que sobreviveu à extinção, deu a volta por cima, mostrou o seu valor. E descobriu o pré-sal – patrimônio da União, riqueza do Brasil e passaporte para o nosso futuro", afirmou.

"Olho para trás e vejo que há algo em comum em todos esses momentos, algo que unifica e dá sentido a essa caminhada, algo que nos trouxe até aqui e ao dia de hoje: é, sinceramente, a capacidade do povo brasileiro de acreditar em si mesmo e no nosso país. Foi em meio à descrença de tantos que querem falar em seu nome... O povo – principalmente ao povo – devemos esse momento atual."

"É como se houvesse uma mão invisível – não a do mercado, da qual já falaram tanto, mas outra, bem mais sábia e permanente, a mão do povo – tecendo nosso destino e construindo nosso futuro. Não creio que seja uma coincidência o fato de a Petrobras ter descoberto as grandes reservas do pré-sal justamente num momento da vida política nacional em que o povo também descobriu em si mesmo grandes reservas de energia e de esperança. Num momento em que o país, deixando para trás o complexo de inferioridade que lhe inculcaram durante séculos, aprendeu como é bom andar de cabeça erguida e olhar com confiança para o futuro."

Lula propôs o debate dos projetos de lei não só no interior do Congresso Nacional mas também com governadores e prefeitos, além de dizer estar seguro "de que o povo brasileiro entrará de corpo e alma nesse debate tão importante para o destino do Brasil e para o futuro dos nossos filhos", sobre um assunto que " interessa a todos e depende de todos". "Quero convocar cada brasileiro e cada brasileira a participar desse grande debate", chamou Lula.
Fonte:Site O Vermelho.

MÍDIA - Jornalismo Cloaca.

Mário Augusto Jakobskind

O velho moralismo dos tempos de Carlos Lacerda está a todo vapor neste agosto que termina. No dia 24 último, quando completavam 55 anos do suicídio de Getúlio Vargas liguei o rádio ao acordar e levei um susto. Um jornalista da CBN bradava indignado contra a compra pelo Palácio do Planalto de toalhas de rosto e de banho de fio egípcio. Imaginei que tinha recuado no tempo ou estava tendo um pesadelo. Naquela crise de agosto de 1954, a UDN (União Democrática Nacional), que de democrática não tinha nada, pois vivia pregando o golpe, falava em mar de lama no Catete etc e tal. Agora, entre outras acusações, a CBN, do sistema Globo de rádio, se indignava contra as toalhas de fio egípcio.

Os políticos da UDN que passaram o tempo todo na porta dos quartéis tentando convencer a oficialidade sobre a necessidade de derrubar Getúlio Vargas, depois Juscelino Kubitschek e em seguida João Goulart, deixaram herdeiros neste 2009. Agora passam o tempo todo denunciando, criando fatos com repercussão na mídia conservadora hegemônica com o visível objetivo de desviar a atenção de temas relevantes relacionados com o futuro de um Brasil soberano. E o 24 de agosto remete a Era Vargas, que FHC jurou riscar do mapa, à Carta Testamento e ao suicídio de Getúlio, às riquezas petrolíferas nas mãos dos brasileiros, à IV Frota estadunidense rondando as riquezas petrolíferas do pré-sal e assim sucessivamente.

Aí surge o tal comentarista da CBN, do sistema Globo de rádio, para “denunciar” os gastos com as toalhas de fio egípcio, numa repetição grotesca da rádio Globo em 1954. Aí vem o colunista político Merval Pereira (será coincidência?) bradar contra a Era Vargas com um comentário intitulado “filhote do getulismo”, comparando o sindicalismo daquela época com o atual. O objetivo de Pereira é um só: palanque de uma candidatura tucana. O colunista de O Globo é de fato um filhote de um colunista reacionário dos anos 50 - recentemente elogiado pelo próprio Merval - de nome João Neves da Fontoura, que até o fim da vida escreveu contra o seu ex-correligionário Getúlio Vargas e criticava tudo o que passava por perto de nacionalismo.

Enfim, tais reflexões fazem parte da história contemporânea brasileira, que ainda precisa ser contada sem a visão distorcida do conservadorismo. Mas se o leitor imagina que as distorções e manipulações midiáticas se resumem a Era Vargas ou aos veículos de imprensa das Organizações Globo, enganam-se. Na edição de 26 de agosto último, a revista Isto É, no mais puro estilo Veja, editou matéria exemplo típico de manipulação da informação, que pode ser denominada “jornalismo cloaca”. Com o título “O lobista de Chávez”, a matéria de página inteira, assinada por Claudio Dantas Siqueira, mentia de cabo a rabo, exatamente com o objetivo de induzir o leitor a se posicionar contra a Telesul, um importante canal televisivo de integração, e o governo da República Bolivariana da Venezuela.

A raivosa Isto É queimava o combativo jornalista Beto Almeida com informações mentirosas, porque ele participa como diretor independente, ou seja, sem representar qualquer país, da diretoria da Telesul. De quebra, a matéria “informava” que o Governador Roberto Requião fez um convênio com o canal de integração, apresentando um telejornal da Telesul na TV E do Paraná.

O jornalismo cloaca da Isto É ainda por cima selecionou o senador tucano Álvaro Dias para questionar o jornalista Beto Almeida, que também é dos quadros da TV Senado, onde ingressou por concurso. E assim sucessivamente.

Não é à toa que alguns analistas vêem o dedo de algum serviço de inteligência na elaboração de matérias como a apresentada pela Isto É. Cabe agora a própria revista responder a tais insinuações e apresentar alguma justificativa para demonstrar que o objetivo da matéria foi apenas jornalístico. Podem crer que vai ser uma tarefa impossível, pois pela forma como foi escrita está na cara a origem da pauta.

Por estas e muitas outras, chegou a hora de os brasileiros tomarem conhecimento da necessidade urgente de abrir a discussão sobre a questão da democratização dos meios de comunicação. O que não pode mais ser permitido é os barões da mídia continuarem manipulando ao bel prazer e toda vez que são questionados responderem com acusações infundadas, misturando alhos com bugalhos, ou seja, liberdade de expressão e de imprensa com liberdade de empresa. A hora é essa!

Em tempo: a briga Globo x Record deveria sensibilizar os parlamentares em Brasília a criarem uma CPI sobre a mídia. Seria a oportunidade de os brasileiros conhecerem com mais detalhes as graves acusações que foram divulgadas de um lado e do outro.

Em tempo II: Reapareceu o cabo Anselmo falando besteira atrás de besteira numa longa entrevsita na TV Bandeirantes (Canal Livre). Dedo duro oficial da história brasileira, Anselmo volta a ser manipulado pela extrema-direita.

Recentemente, quando Urariano Mota, colunista deste DR, lançava o seu importante livro "Soledad no Recife", uma personagem assassinada pela repressão comandada pelo famigerado delegado Fleury, graças ao dedodurismo do próprio cabo, Anselmo apareceu em frente ao hotel onde Urariano Mota estava hospedado. A sua presença era um recado do tipo que ele costuma dar para quem se insurge contra a direita.

Agora, a Comissão de Anistia terá de dar um veredito sobre a pretensão deste deduro, que volta à tona querendo se fazer de vítima, quando todo mundo sabe que ele nunca passou de algoz, que merece o repúdio de todos os brasileiros.
Fonte:Direto da Redação.

ELEIÇÕES - Pesquisa e voto.

O que será que está por trás das declarações do Montenegro, do IBOP, quando declarou que o Serra será eleito com certa facilidade? Deve fazer parte de uma tremenda armação da oposição, para impedir a vitória de um candidato do governo em 2010.
Carlos Dória.


Do Blog do Alê.


por Marcos coimbra, diretor do Instituto VoxPopuli

A respeito de 2010, quem tem juízo acompanha prudentemente os acontecimentos. Quem diz que sabe o que vai acontecer apenas explicita o que gostaria que os fatos fossem.

Jornal Estado de Minas - No debate político, surgem, de vez em quando, teses sobre as eleições que têm cara de verdade, mas que resistem mal ao teste da comprovação. Elas aparecem sabe-se lá o por que e ocupam a atenção por alguns momentos. Como não se sustentam em nada, ficam voando por aí e logo vão embora. Nesta semana, tivemos um exemplo delas. Não é uma tese original, mas não tinha sido ainda aplicada à eleição presidencial de 2010.

Fez, então, seu debute nas discussões sobre o que vai ocorrer na escolha do sucessor de Lula. É uma tese que, no geral, não faz qualquer sentido. Segundo ela, quem lidera as pesquisas a um ano de uma eleição termina por vencê-la. Como? Mas não há dezenas de exemplos que desconfirmam essa regra? Não temos casos e mais casos de candidatos que estavam muitíssimo bem quando faltava um ano para uma eleição e terminaram derrotados? Em todos os estados e grandes cidades, existe pelo menos uma candidatura que passou por esse tipo de sobe e desce.

Quem não se lembra de Paulo Maluf e de tantos outros candidatos de desempenho semelhante? Na verdade, o que vimos nestes dias foi uma versão adaptada da tese. Não que, em toda e qualquer eleição, aconteça de o candidato que lidera as pesquisas a um ano de sua realização terminar ganhando-a. Apenas nas eleições presidenciais. Com essa especificação, a tese fica mais verossímil.

Como são tão poucas as eleições presidenciais que fizemos neste Brasil de hoje, apontar um ou dois exemplos já parece suficiente para considerar demonstrada qualquer tese sobre elas. Na formulação em que circulou, teríamos que Serra vai ganhar a eleição de 2010 por estar hoje na frente nas pesquisas de intenção de voto, como foi o caso de Fernando Henrique em 1998 e de Lula em 2002. Se os dois lideravam as pesquisas em 1997 e em 2001, respectivamente, e venceram no ano seguinte, se deduziria que Serra vai ganhar em 2010, pois lidera em 2009.

Esse é um exemplo dos muitos males que a falta de maior experiência democrática pode trazer a um país. Com apenas cinco eleições, estamos longe de poder falar em regras, pois os casos concretos são sempre poucos. Ninguém consegue diferenciar uma regra de uma simples coincidência. Quem olhar para as nossas eleições à procura de argumentos em favor dessa tese vai ter, no entanto, uma tarefa difícil. Senão, vejamos. Em 1988, a um ano da eleição que Collor venceu, ele mal existia nas pesquisas.

Em dezembro, suas intenções estimuladas de voto eram de 7% e ele estava em sexto lugar. As de Lula, 11%. Como todos lembram, os dois fizeram o segundo turno em 1989. A um ano da eleição seguinte, quem liderava todas as pesquisas era Lula, seguido por Sarney. Ainda em maio de 1994, Lula alcançava 42%, ficando Fernando Henrique com 16%. Quem ganhou aquela eleição no primeiro turno? Indo para 2001, é fato que Lula liderava as pesquisas e que venceu no ano seguinte. Não nos esqueçamos, porém, que Serra tinha, em outubro daquele ano, 6% e estava em quinto lugar. Foi ele quem disputou com Lula o segundo turno.

Quatro anos mais tarde, com Lula na Presidência, era Serra quem liderava. Em dezembro de 2005, Serra tinha 36% e Lula 29%. Um ano depois, Serra nem se candidatou e Lula venceu. Resta 1998, o ano que confirmaria a “regra” de um só caso. Nela, aconteceu de o líder que sempre esteve na frente, depois que foi aprovada a reeleição, vencer, seguido de quem sempre esteve em segundo lugar. Por enquanto, o máximo que podemos dizer é que não temos regras em nossas eleições presidenciais. Já tivemos de tudo: quem liderava um ano antes perder, vencer no primeiro turno, apenas no segundo ou nem ser candidato.

A respeito de 2010, quem tem juízo acompanha prudentemente os acontecimentos. Quem diz que sabe o que vai acontecer apenas explicita o que gostaria que os fatos fossem.

HONDURAS - voto divide zelayistas.

A resistência busca um candidato para ir unida às eleições do dia 29 de novembro, mas várias organizações populares, tradicionalmente abstencionistas, veem nos comícios uma espécie de distração com relação aos objetivos centrais.

A reportagem é de Arturo Cano, publicada no jornal Página/12, 30-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Como se o fragor da batalha contra o governo de fato não bastasse, a resistência hondurenha vive um intenso debate interno sobre seu caminho imediato, seja ou não restituído o presidente Manuel Zelaya ao poder. O centro da polêmica é a eleição do dia 29 de novembro: as organizações da resistência buscam um candidato para ir unidas à batalha, apostam em retirar votos do Partido Liberal (PL), o partido de Zelaya que o traiu e apoiou o golpe e ofereceram a candidatura presidencial a Luis Alfonso Santos, o único bispo abertamente contrário ao golpe de Estado.

A lei hondurenha impede que o bispo seja candidato se não renunciar ao seu ministério e também não permite novas candidaturas, mas tudo é negociável, e esse seria o menor dos problemas na rota eleitoral da resistência. As negociações sobre uma frente comum se realizam ainda com a oposição de uma parte da resistência. Várias organizações populares, tradicionalmente abstencionistas, veem nos comícios uma espécie de distração com relação aos objetivos centrais: o retorno de Zelaya e o continuado impulso de uma assembleia nacional constituinte.

Nessa linha, mesmo que a Frente de Resistência não tenha tomado uma determinação definitiva, alguns dirigentes já falam de um boicote às eleições. O sindicalista Carlos Reyes é o primeiro candidato independente à presidência de Honduras, e muitos liberais o veem como a opção para não votar no aspirante de seu partido, por considerarem-no golpista. Nesses dias, Zelaya pediu à OEA que reconheça o processo eleitoral, e Reyes se somou a esse pedido. "Os candidatos não golpistas de todo nível de eleição popular deveriam se retirar do processo se a ditadura se mantiver", propôs.

No entanto, líderes do PL próximos de Zelaya se registraram como candidatos a deputados e prefeitos, mas sob as siglas do partido de esquerda Unificación Democrática (UD), cujo candidato presidencial, César Ham, é mais próximo de Zelaya do que Reyes.

Diante do isolamento internacional, o governo de fato, liderado por Roberto Micheletti, apostou tudo nas eleições de novembro. Durante a recente visita dos chanceleres de países da OEA, Micheletti insistiu na saída comicial. "Haverá eleições em Honduras, com a aprovação do mundo ou não", advertiu.

Assim será, se levarmos em conta que os anúncios de não participar ou boicotar os comícios parecem mais uma questão tática do que uma ação que os antigolpistas vão realizar. "Temos que participar. Do contrário, vai acontecer a mesma coisa que aconteceu que a direita retrógrada venezuelana, que não foi às eleições depois de ter ganhado um referendo e deixou Hugo Chávez sozinho na Assembleia Nacional", dizia Ham nos dias de intensas negociações com os liberais que se integrariam a suas listas.

Para Carlos Eduardo Reina, dirigente liberal próximo de Zelaya, o boicote não é nem sequer uma opção. "Nem a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, armado nas montanhas, pôde boicotar eleições. Isso é muito difícil", assegurou.

Na bipartidária Honduras, o PL e o Partido Nacional (PN) controlam 95% dos postos de eleição e os cargos públicos. Repartem-se além disse as instituições do Estado, por exemplo, os 15 magistrados da Corte Suprema, oito foram propostos pelo PL e sete pelo PN.

É a esse monopólio de vermelhos (liberais) e azuis (nacionais) que a resistência quer enfrentar dentro de três meses. "O pior dos cenários possíveis é que puxemos forte pela presidência da república e obtenhamos uma bancada forte no Congresso, em aliança com o movimento social organizado", anunciou Reina. Mas nem todos compartilham de seu otimismo na resistência.

Para Juan Almendares, ex-reitor da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, não é tão fácil romper com um sistema bipartidária tão aceito como o hondurenho. "Os dois partidos tradicionais são donos das maquinarias eleitorais e controlam os meios de maneira assustadora. Por isso, eles vão controlar as eleições. É difícil que a esquerda possa ganhar, mesmo que venham observadores internacionais", indicou.

Em 2005, lembrou Almendares, Zelaya ganhou apenas com 23% dos votos válidos e só com uma diferença de 1,7% sobre seu concorrente Porfirio "Pepe" Lobo, que voltará a se apresentar em novembro próximo. As suspeitas de fraude, fundadas no fato de que 15% das urnas nunca foram contadas, se desfizeram quando os empresários poderosos, sempre grandes eleitores, se inclinaram por Zelaya. "E também a embaixada dos EUA", advertiu Almendares.

Ham concordou. "Essa decisão foi tomada pelos grupos de poder econômico, porque, para eles, Pepe era comunista ou menos confiável em todo o caso", indicou Ham. A ironia, acrescentou, é que, quatro anos depois, o menos confiável é o favorito para ficar com a presidência.
Fonte:IHU

HISTÓRIA - O pior dia do século XX.

No dia 1º de setembro de 1939, a loucura se fez guerra: a Alemanha invadiu a Polônia e desencadeou a Segunda Guerra Mundial.

A análise é de Julián Casanova, professor de Historia Contemporânea na Universidade de Zaragoza, na Espanha. O artigo foi publicado no jornal El País, 30-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Na manhã do dia 1º de setembro de 1939, o exército alemão invadiu a Polônia e, no dia 03 de setembro, Grã-Bretanha e França declaravam guerra à Alemanha. Vinte anos depois da assinatura dos tratados de paz que deram por concluída a Primera Guerra Mundial, começou outra guerra destinada a resolver todas as tensões que o comunismo, os fascismos e as democracias haviam gerado nos anos anteriores. O estourar da guerra em 1939 pôs fim ao que o historiador Edward H. Carr chamou de "a crise dos 20 anos" e tornou realidade os piores presságios. Em 1941, a guerra europeia se tornou mundial. O catálogo de destruição humana que resultou desse longo conflito de seis anos nunca havia sido visto na história.

Mesmo que algumas explicações sobre suas causas se centram exclusivamente em Hitler e na Alemanha nazista, no período que transcorreu entre 1933 e 1939, para obter uma fotografia completa deve-se rastrear nos transtornos produzidos pela Primera Guerra Mundial. No final dessa contenda, o mapa político da Europa sofreu uma profunda transformação, com a derrubada de alguns dos grandes impérios e o surgimento de novos países. Dessa guerra, saíram também o comunismo e o fascismo.

Ao tempo que se passou entre o final dessa primeira guerra e o começo da segunda chamamos de período entre-guerras, como se a paz houvesse sido a norma, mas na realidade nessa "crise de 20 anos" houve algumas pequenas guerras entre Estados europeus, revoluções e contrarrevoluções muito violentas e várias guerras civis.

A queda dos velhos impérios continentais foi seguida pela criação de seis novos Estados na Europa, baseados supostamente nos princípios da nacionalidade, mas com o problema herdado e irresolvido de minorias nacionais dentro e fora de suas fronteiras. Todos eles, salvo a Tchecoslováquia, enfrentaram grandes dificuldades para encontrar uma alternativa estável à derrubada dessa ordem social representada pelas monarquias. Além disso, essa construção de novos Estados chegou em um momento de ameaça revolucionária e distúrbios sociais.

A tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia em outubro de 1918 teve importantes repercussões na Europa. EM 1918, houve revoluções abortadas na Áustria e na Alemanha, que foram seguidas por várias tentativas de insurreições operárias. Um antigo social-democrata, Béla Kun, estabeleceu durante seis meses de 1919 uma república soviética na Hungria, derrubada pelos proprietários de terra e pelo exército romeno. A Itália, nesses dois primeiros anos de pós-guerra, presenciou numerosas ocupações de terras e de fábricas. Essa onda de revoltas acabou em todos os casos em derrota, aplastadas pelas forças da ordem, mas assustou a burguesia a contribuiu para gerar um poderoso sentimento contrarrevolucionário que mobilizou as classes conservadoras em defesa da propriedade, da ordem e da religião.

O movimento contrarrevolucionário, antiliberal e antissocialista se manifestou muito rapidamente na Itália, durante a profunda crise pós-bélica que sacudiu esse país entre 1919 e 1922, se consolidou por meio de ditaduras direitistas e militares em vários países europeus e culminou com a subida de Hitler ao poder na Alemanha em 1933. Os dados que mostram o retrocesso democrático e o caminho à ditadura são conclusivos. Em 1920, todos os Estados europeus, exceto dois, a Rússia bolchevique e a Hungria do ditador direitista Horthy, podiam ser definidos como democracias ou sistemas parlamentares restringidos. No começo de 1939, mais da metade, incluindo a Espanha, haviam sucumbido frente a ditaduras.

Durante muito tempo, principalmente nos anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra Mundial, analistas e historiadores jogaram a culpa de todos esses males e do estourar da guerra à fragilidade da paz selada em Versalhes e aos dirigentes das democracias que tentaram "apaziguar" Hitler, em vez de parar seu insaciável apetite. O problema começava na Alemanha, onde amplos e importantes setores da população não aceitaram a derrota nem o tratado de paz que a sancionou, e continuava em outros países como a Polônia ou a Tchecoslováquia, que abrigaram milhões de falantes de alemão que, com a desintegração do Império Habsburgo, haviam perdido poder político e econômico. Como os grupos ultranacionalistas os lembravam, eram agora minorias em novos Estados dominados por grupos ou raças inferiores.

A França foi a única potência vitoriosa que tentou conter a Alemanha no marco da paz de Versalhes. Os EUA rejeitaram esses acordos e qualquer tipo de compromisso político com as lutas pelo poder na Europa. A Itália, principalmente depois da chegada de Mussolini ao poder, queria mudar também esses acordos que não haviam lhe outorgado colônias na África e marcava sua própria agenda de expansão no Mediterrâneo. Enquanto à Grã-Bretanha, sua prioridade não estava no continente, mas sim no fortalecimento de seu império colonial e na recuperação do comércio. A França, portanto, trabalhava para que a Alemanha cumprisse os termos do tratado, e a Grã-Bretanha buscava a conciliação e a revisão daquele que considerava um acordo muito injusto para os países vencidos. Essa diferença deixou Grã-Bretanha e França em constante disputa e Alemanha disposta a tirar partido da divisão.

Apesar de todas as dificuldades, das tensões sociais e das divisões ideológicas, a ordem internacional criada pela paz de Versalhes sobreviveu por uma década sem sérios incidentes. Tudo mudou com a crise econômica de 1929, o surgimento da União Soviética como um militar e industrial sob Stalin e a designação de Hitler como chanceler alemã em janeiro de 1933. A incapacidade da ordem capitalista liberal de evitar o desastre econômico fez crescer o extremismo político, o nacionalismo violento e a hostilidade ao sistema parlamentar.

As políticas de rearmamento empreendidas pelos principais países europeus desde o começo dessa década criaram um clima de incerteza e crise que reduziu a segurança internacional. A União Soviética iniciou um programa massivo de modernização militar e industrial que a colocaria na cabeça do poder militar durante as décadas seguintes. Nas mesmas datas, os nazistas, com Hitler na frente, se comprometeram a derrubar os acordos de Versalhes e devolver seu domínio à Alemanha.

A Itália de Mussolini seguiu o mesmo caminho, e sua economia esteve subordinada cada vez mais à preparação da guerra. França e Grã-Bretanha começaram o rearmamento em 1934 e o aceleraram a partir de 1936. O comércio mundial de armas duplicou de 1932 a 1937. As estatísticas alemãs revelavam que o gasto com armas em 1934 havia disparado e que a porcentagem do orçamento alemão dedicado ao exército passou, nos dois primeiros anos de Hitler, no poder, de 10% a 21%. Segundo Richard Overy, "o sentimento popular antibélico dos anos 20 deu passagem gradualmente ao reconhecimento de que uma grande guerra era novamente muito possível".

Elos importantes nessa escalada a uma nova guerra mundial foram a conquista japonesa de Manchuria em setembro de 1931, a invasão italiana de Abissínia em outubro de 1935 e a intervenção das potências fascistas e da União Soviética na guerra civil espanhola. Em apenas três anos, 1935 a 1938, Hitler subverteu a ordem internacional que, pactada pelos vencedores da Primera Guerra Mundial, havia tentado prevenir que a Alemanha se convertesse novamente em uma ameaça para a paz na Europa. O Tratado de Versalhes impôs notáveis restrições ao poderio militar alemão. Em 1935, a região do Sarre voltou a ser alemã depois de uma maioria da população ter assim decidido em um plebiscito.

Em março de 1936, Hitler ordenou que as tropas alemãs reocupassem a Renânia, um zona desmilitarizada desde 1919, e exatamente dois anos depois o exército nazista entrava em Viena, inaugurando o Anschluss, a união da Áustria e da Alemanha.

A Liga das Nações, a organização internacional criada em Paris em 1919 para vigiar a segurança coletiva, a resolução das disputas e o desarmamento, foi incapaz de prevenir e castigar essas agressões, enquanto que os governantes britânicos e franceses, homens como Neville Chamberlain o Pierre Laval, puseram em marcha a chamada "política de apaziguamento", que consistia em evitar uma nova guerra ao custo de aceitar as demandas revisionistas das ditaduras fascistas. Hitler percebeu essa atitude como um claro sinal de debilidade e, dessa forma, preferiu obter seus objetivos com ações militares antes que se envolver em discussões diplomáticas multilaterais.

Essa debilidade chegou a seu ponto mais alto no dia 29 de setembro de 1938, em Munique, quando Neville Chamberlain e Edouard Daladier aceitaram a entrega dos territórios dos Sudetes à Alemanha. O sacrifício da Tchecoslováquia também não freou as ambições expansionistas nazistas, e Hitler interpretou que Grã-Bretanha e França haviam lhe dado luz verde pra se estender pelo leste.

Quando não havia passado nem um mês do acordo de Munique, Hitler ordenou que suas forças armadas se preparassem para a "liquidação pacífica" do que restava da Tchecoslováquia. A meados de março de 1939, as tropas alemãs entravam em Praga, e Hitler planejou lançar uma guerra de castigo contra a Polônia. Só a União Soviética, com fortes interesses nessa zona, podia se opôr, e, para que isso não ocorresse, Hitler firmou com Stalin, no dia 23 de agosto, um pacto de não agressão entre inimigos ideológicos. Dias depois, a invasão da Polônia convenceu as potências democráticas de que as colisão era preferível à derrubada definitiva da segurança europeia.

A crise da ordem social, da economia, do sistema internacional ia ser resolvido mediante as armas, em uma guerra total, sem barreiras entre soldados e civis, que pôs a ciência e a indústria ao serviço da eliminação do contrário. Um grupo de criminosos que considerava a guerra como uma opção aceitável em política exterior abusou do poder e pôs políticos parlamentares educados no diálogo e na negociação contra o muro.

E a brutal realidade que surgiu de suas decisões foram os assassinatos, a tortura e os campos de concentração. Hitler provocou a guerra, mas ela também foi possível pela incapacidade dos governantes democratas de compreender a violência desatada pelo nacionalismo moderno e pelo conflito ideológico.
Fonte:IHU

POLÍTICA - O arsenal udenista está de volta, o que poderá detê-lo?

Nós que somos de uma geração mais antiga, compreendemos muito bem o que o Saul Leblon pretendeu mostrar nesse seu artigo.Ele lembrou, com muita propriedade, uma citação famosa do grande pensador italiano, Gramsci.Além do mais, tal artigo é uma aula da história golpista e os golpistas de hoje, defendem os mesmos interesses explicitados na "Carta Testamento de Vargas", que continua atual e deveria ser leitura obrigatória das escolas desse nosso país continente.Basta vêr a campanha contra a mudança do atual "marco regulatório" do petróleo, uma das heranças da política entreguista do FHC, campanha essa desenvolvida pelas mesmas forças que foram contrárias a criação da Petrobrás,no início da década de 50.
Carlos Dória

A moralidade de quase todos os grandes órgãos da imprensa brasileira está empenhada em corroer a candidatura Dilma Rousseff, custe o que custar. A observação de Gramsci sobre a "imprensa que adquire funções de partido político" se aplica como uma luva ao jornalismo praticado hoje no país. Carlos Lacerda (foto), caracterizado como "o Corvo" nas charges publicadas pelo jornal getulista Última Hora, manejava com maestria o ferramental de fraudes & ofensas, que hoje encontra aprendizes excitados nas redações.O artigo é de Saul Leblon.

Saul Leblon

O método da calúnia é tão antigo no arsenal político da direita quanto o seu objetivo de alcançar o poder a qualquer custo, seja pelo voto, o impeachment, o golpe, a fraude ou uma mistura das quatro coisas simultaneamente, como fez a UDN nas eleições de 1955, na primeira chance real de chegar ao poder pelo voto, depois da tentativa de golpe abortado pelo suicídio de Vargas.

Não deu certo. Os udenistas Juarez Távora e Milton Campos tiveram 30% dos votos contra 36% dados a Juscelino. A vitória apertada, mas indiscutível da chapa que tinha como vice João Goulart, herdeiro político de Vargas, não desanimou os udenistas.

Derrotados nas urnas em outubro de 1955, desencadearam uma campanha agressiva para impedir a posse de Kubitschek, marcada para janeiro do ano seguinte. Na linha de frente do golpismo estava o jornal O Estado de São Paulo - alter-ego da UDN paulista. O mesmo que hoje lidera a pressão pela derrubada de Sarney em nome da "moralização" do Congresso e da faxina ética na política nacional.

Não é preciso ser simpatizante da oligarquia maranhense para suspeitar que existe algo mais do que mau jornalismo no bombardeio que atribui a Sarney todas as malfeitorias praticadas no Senado, desde a sua criação em 1824, na primeira Constituição do Império. O que está por trás é a volta do arsenal "democrático" udenista em pleno aquecimento para 2010, quando o PMDB terá peso decisivo na sucessão de Lula, que cultiva o apoio da legenda num acordo de reciprocidade com Sarney.

A ressalva é tão óbvia que chega a ser admitida nas entrelinhas de editorialistas espertos, funcionando mais como salvaguarda cínica do texto, do que uma crítica efetiva ao jornalismo praticado em nome da moralidade.

A moralidade de quase todos os grandes órgãos da imprensa brasileira está empenhada em corroer a candidatura Dilma Rousseff, custe o que custar. A observação de Gramasci sobre a "imprensa que adquire funções de partido político" se aplica como uma luva ao jornalismo praticado hoje no país.
(meu comentário:vejam os "factóides" lançados pela Veja, tipo grampo do Gilmar Mendes,e os "escândalos" quase diários lançados pela mídia corporativa golpista. O último agora é o Blog do Planalto.)

Cada flanco que se abre nas fileiras do governo aciona pautas especiais; mini-editorias específicas; forças-tarefas montadas a toque de caixa. "Analistas" e acadêmicos são requisitados para teorizar sobre "a decadência irreversível do petismo", ao mesmo tempo em que petistas hesitantes, e ex-petistas recorrentes, endossam a dissolução da pureza vermelha contaminada pelos vícios do poder.
Comentário meu: estamos fartos de saber quem são os "analistas ou especialistas" convocados pela mídia corporativa, para dizerem o que esta mídia quer ouvir.Para falar das contas públicas, Raul Velloso; para falar mal do Bolsa Família,Marco Antônio Villa;para dizer que o governo Lula é chavista, Demétrio Magnolli, que se faz passar por sociólogo, mas que é formado em Geografia;para falar mal do PT,Leôncio Rodrigues.Para falar de petróleo, o ex-genro do FHC, e por aí vai. São os chamados "intelectuais delivery", pois têm em comum a função de assumir a opinião dos veículos de comunicação, para camuflar artigo como reportagem).
Desprovida de partidos de massa, a direita sempre teve nas campanhas midiáticas um valioso instrumento de intervenção na ordem institucional.
(Meu comentário:isso vale para toda a mídia da América Latina,sempre defendendo os interesses das classes dominantes minoritárias, principalmente nos países andinos, onde descendentes dos colonizadores espanhóis sempre trataram as massas indígenas como uma sub-raça. Vejam o tratamento que é dado ao Evo Morales).

Se desta vez a mutação flagrada por Gramasci ganha acentuação inédita é porque os resultados acumulados pelos dois mandatos de Lula deixaram um minúsculo campo programático para a coalizão demotucana se movimentar em 2010. O braço midiático deve compensar com denúncias a fragilidade propositiva.

Malgrado as limitações da aliança que o sustenta, Lula superou a pior crise do capitalismo desde 1930, acentuando as linhas de vantagem do seu governo em relação à estratégia conservadora abraçada pelo PSDB e predominantemente apoiada pela mídia. A saber: o desastroso recuo do Estado em todas as frentes do desenvolvimento; o alinhamento carnal com os EUA na política externa e comercial; a terceirização dos grandes desafios sociais à "eficiência dos mercados auto-regulados". Hoje esse cardápio se traduz na tentativa de desconstrução caluniosa da candidatura Dilma Rousseff; nas denúncias contra a Petrobras e na torcida mal-disfarçada com o êxito do país no pré-sal.

Tivesse o Brasil persistido nessa rota, seria hoje uma terra arrasada por desemprego e quebradeira, a exemplo do que sucede no Leste europeu - última fronteira de expansão do neoliberalismo e seu obituário mais dramático.

Ocultar esse flanco substituindo o principal pelo secundário, portanto, sobrepondo à transparência da crise o que o monopólio midiático pauta como relevante, é o recurso precioso de Serra para contrabalançar sua opacidade programática em 2010.

Trata-se de uma das especialidades legadas pelo udenismo à política nacional. Carlos Lacerda, caracterizado como "o Corvo" nas charges publicadas pelo jornal getulista Última Hora, manejava com maestria o ferramental de fraudes & ofensas, que hoje encontra aprendizes excitados nas redações.
(comentário meu:Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e outros "jornalistas de esgoto", como alguém os denominou,estão longe de ser um Carlos Lacerda. O Mainardi por exemplo, tem a pretensão de ser um novo Paulo Francis.

Exemplos: dia 22 de agosto o comentarista político Fernando Rodrigues, classificou o senador Mercadante de "vassalo" do Planalto, com chamada na primeira página da Folha; antes dele, Danuza Leão comparou a ministra Dilma Rousseff , na mesma Folha, a um misto de pai autoritário e diretora "carrasca". Analista das Organizações Globo, o que não significa apenas uma inserção profissional, Lucia Hippolito espetou no título de um comentário sobre o PT (Globo online) o vocábulo-síntese de sua filiação carnal ao udenismo: "a pelegada".

A fome dos petizes lacerdistas encontra fontes obsequiosas nas fileiras oposicionistas.

Olhos, ouvidos e bocas de Serra na capital federal, ao lado de Virgílio, Agripino, Sergio Guerra e Jereissati, o senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) definiu o PT, em recente entrevista, como uma sublegenda do "lulismo". Na boa tradição udenista equiparou o "lulismo", portanto o Presidente da República, aos "caudilhismos latinoamericanos, a exemplo do peronismo argentino". O conservadorismo do senador evoca um tema recorrente no cardápio lacerdista, que inspirou violenta campanha contra Vargas nos anos 50, fartamente difundida pela rádio Globo, dirigida pelo jovem udenista, Roberto Marinho.

Vale a pena rememorar esse "case" do modo udenista de abduzir a realidade e derivar daí vale-tudo de aniquilação dos adversários.

Em abril de 1954, o governo Vargas sangrava. Uma ciranda de ataques descomprometidos de qualquer outra lógica que não a derrubada de um projeto de desenvolvimento nacionalista fustigava o Presidente que criara a Petrobras, o BNDES e aplicava uma política de fortalecimento do mercado interno com forte incremento do salário mínimo.

O clima pesado de acusações e ofensas pessoais atingia Getúlio e sua família de forma indiscriminada. Lutero, irmão do Presidente, era tratado nas manchetes como "bastardo" e "ladrão". O ministro do Trabalho, João Goulart, era reduzido a "personagem de boate". Faltava, porém, um ponto de coagulação para transformar o tiroteio desordenado em míssil capaz de abrir um rombo na legalidade institucional.

Em meio à radicalização, em março de 54 surge a denúncia de que "os caudilhos" Vargas e Perón planejavam um suposto "Pacto ABC" (Argentina –Brasil –Chile), cuja meta era "a integração sul-americana num arquipélago de repúblicas sindicais contra os EUA".

Carlos Lacerda, na Tribuna da Imprensa e na rádio Globo, e a Banda de Música da UDN no Congresso – um pouco como o jogral que hoje modula as vozes da coalização demotucana e da mídia "ética" - martelavam a denúncia incansavelmente, testando por aproximação as condições para o impeachment de Vargas.

A notícia do pacto foi vigorosamente desmentida pela chancelaria argentina, mas um ex-ministro rompido com Getúlio, aliou-se a Lacerda para oferecer "evidências" das negociações entre o Brasil e Perón.

A inexistência de provas – exceto a menção genérica de Perón à uma aliança regional — não demoveu a mídia que deu à declaração ressentida do ex-ministro contornos de verdade inquestionável, repetida à exaustão até acuar o governo.

Vargas reagiu na única direção que lhe restava. No 1º de maio de 1954 anunciou o famoso reajuste de 100% para o salário mínimo num discurso marcado por elogios a Goulart, o ministro do Trabalho, mentor do reajuste, afastado pela pressão udenista.

Ao conclamar os trabalhadores a se organizarem para defender seus próprios interesses, o discurso de 1º de Maio soava como um ensaio de despedida. Talvez até mais radical, na convocação aos trabalhadores, do que a própria Carta Testamento deixada quatro meses depois, quando o Presidente atirou contra o próprio peito para não ceder à pressão da mídia pela renúncia.

"A minha tarefa está terminando e a vossa apenas começa. O que já obtivestes ainda não é tudo. Resta ainda conquistar a plenitude dos direitos que vos são devidos e a satisfação das reivindicações impostas pelas necessidades (...) Como cidadãos, a vossa vontade pesará nas urnas. Como classe, podeis imprimir ao vosso sufrágio a força decisória do número. Constituí a maioria. Hoje estais com o governo. Amanhã sereis o governo" (Getúlio Vargas, 1º de Maio de 1954).

A dramaticidade do suicídio iluminou o quadro político gerando transparência e revolta diante do golpismo em marcha. Porta-vozes da oposição a Getúlio foram escorraçados nas ruas do Rio; uma multidão consternada e enfurecida cercou e depredou a rádio Globo que saiu do ar; veículos do jornal de Roberto Marinho foram caçados e queimados nas ruas da cidade. Para Carlos Lacerda não sobrou um centímetro de segurança em terra: o "Corvo" foi obrigado refugiar-se no mar, a bordo do cruzador Barroso.
(comentário meu: fui um dos muitos que foram apedrejar a Rádio Globo e jornal Tribuna da Imprensa).

A determinação conservadora de arrebatar o poder, todavia, não esmoreceu.

Poucas semanas depois do suicídio, em 16 de setembro de 1954, uma segunda "denúncia" associada ao Pacto ABC explodiria nos microfones da rádio Globo. Era a largada, com 12 meses de antecipação, para a primeira disputa eleitoral em vinte e quatro anos que não contaria com a presença divisora de Getúlio na cena nacional.

O alvo agora era João Goulart, o herdeiro político do presidente morto e adversário certo da UDN no pleito de outubro de 1955. Na voz estridente de Lacerda, comentarista de diversos programas da emissora de Marinho, foi lida em primeira mão a "Carta Brandi". Uma suposta correspondência do deputado argentino Antonio Brandi a João Goulart , apresentada como a prova "definitiva" da conspiração para implantar "uma república sindicalista no Brasil".

Na efervescência da guerra eleitoral, o escândalo levou o Exército a abrir inquérito imediatamente, enviando missão oficial a Buenos Aires para aprofundar as investigações.

A conclusão oficial de que tudo não passara de uma grosseira fraude, forjada por Lacerda e alimentada pela imprensa anti-getulista, não abalou seus protagonistas. Lacerda rapidamente mudou o foco da denúncia, invertendo os termos da equação: fora vítima de uma cilada, uma isca arquitetada por adversários eleitorais para desmoralizar a democracia e acelerar a implantação de uma república sindical no país - exatamente como descrevia a (falsa) "Carta Brandi".

"(...) Se a carta não é verdadeira", escreveu na Tribuna de Imprensa, um mês depois da derrota da UDN para JK e Jango no pleito de outubro de 1955, "seu conteúdo está de acordo, mais ou menos, com o que se sabe da vida política do sr. Goulart..."

Qualquer semelhança com o malabarismo denuncista que povoa a mídia tucana nos nossos dias não é mera coincidência. Os mesmos objetivos, os mesmos métodos, a mesma elasticidade ética e democrática estão de volta.

A vitória apertada de JK em 1955 foi tratada pelo udenismo como uma sintoma de "ilegalidade das urnas". Inconformada, a chamada "imprensa da UDN" iniciou uma nova campanha, desta vez liderada pelo jornal Estado de São Paulo, que não poupou papel e tinta na luta para impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek.

Se chegaram a esse ponto contra JK em 1955 e fracassaram, muito se deve ao desbloqueio do discernimento popular causado pelo suicídio do estrategista genial que foi Getúlio Vargas. O arsenal udenista, porém, está de volta e seu partido midiático não disfarça a determinação de transformar 2010 na nova inflexão conservadora na vida do país. Resta saber que força poderá detê-los agora, a ponto de despertar na sociedade o mesmo efeito esclarecedor do tiro que sacudiu o país na manhã de 24 de agosto de 1954.
Fonte:Agência Carta Maior.

BLOGS - Blog do Planalto II - 18 mil acessos por segundo derrubam blog do Planalto.

O Blog do Planalto, me informa o Emerson Luis, foi preparado para receber até 6 mil usuários de banda larga por segundo.

Mas isso foi superado, multiplicado por três vezes já nas primeiras horas. O que explica a dificuldade de acesso.

Eu diria que, sem querer, o pessoal que fez o projeto acertou. Na internet, o buzz que acompanha qualquer novidade é multiplicado sempre que há dificuldade de acesso. Desde que o problema não se estenda indefinidamente. Aí, será preciso "privatizar" o blog.

Se o Dataprev tiver dificuldade com a hospedagem, podem procurar o Kauê Linden, da Hostnet.
Fonte:Blog Vi o Mundo.

BLOGS - Blog do Planalto.

Bem-vind@s!

Estamos aqui para compartilhar com vocês informações sobre o cotidiano da Presidência da República. A equipe do Blog do Planalto (ver foto) vai acompanhar de perto os eventos, atos e a agenda do Presidente para que você, seus amig@s, familiares e companheir@s de navegação na internet possam compreender melhor as ações, programas e políticas do governo.

Vamos usar textos, fotos, vídeos, áudios e infográficos para ilustrar nossas mensagens. Sempre buscando a melhor sintonia com o público que está cada vez mais plugado nas novas mídias digitais. Acreditamos que este é apenas um primeiro passo para estabelecermos um diálogo cada vez mais próximo e informal entre governo e sociedade.

Aproveite e boa leitura!

ANOS DE CHUMBO - Papel secreto esclarece morte de guerrilheiro.

Quando é que o exército vai abrir seus arquivos?

Exército anotou em 1969 que líder do sequestro de Elbrick morreu por ''ferimentos recebidos''

Em relatório secreto de 8 de outubro de 1969, o Exército assume a responsabilidade pela morte do guerrilheiro Virgílio Gomes da Silva, codinome Jonas, que chefiou o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, de 4 a 7 de setembro de 1969. A ação marcou a luta armada contra a ditadura e está registrada no filme O que é isso, companheiro?, baseado em livro homônimo do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que participou do sequestro.

A informação é do jornal O Globo, que teve acesso ao documento confidencial, intitulado "Informação n. 2.600", produzido nove dias após Jonas ter sido capturado e morto.

Os militares não citam a palavra tortura - segundo relatos de presos políticos, ele foi morto a pontapés -, mas admitem que o guerrilheiro morreu em decorrência de "ferimentos recebidos". O prisioneiro estava sob guarda da Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo.

"Virgílio Gomes da Silva, vulgo Jonas, vulgo Borges, reagiu violentamente desde o momento de sua prisão, vindo a falecer em consequência dos ferimentos recebidos, antes mesmo de prestar declarações", diz o papel secreto. As informações teriam circulado, segundo o jornal, por dez órgãos militares.

O dossiê sobre Jonas inclui cópias de três documentos e fotos 3x4, com e sem bigode, acompanhadas de uma anotação à mão: "Jonas - Morto - Participou do Sequestro."

FUGA

A versão oficial foi dada em 12 de outubro de 1969, quatro dias após o relatório secreto. O registro - "Relatório de Informações n. 28" -, assinado pelo general Aloysio Guedes Pereira, indica que o preso "evadiu-se na ocasião em que foi conduzido para indicar um ?aparelho? da ALN".

A sigla refere-se à Aliança Libertadora Nacional, que teve 19 militantes capturados após o sequestro de Elbrick.

A viúva de Jonas, Ilda Martins da Silva, de 78 anos, disse que ainda espera encontrar a ossada do marido para fazer o enterro. Segundo ela, esse é um desejo de "toda a família".

Procurado para esclarecer as circunstâncias da morte de Jonas, o Exército respondeu por nota. "O Centro de Comunicação Social do Exército informa que não existe documento na Instituição que registre a ocorrência mencionada em sua mensagem."
Fonte:Blog Brasil, Brasil

AMÉRICA LATINA - Uma UNASUL com bases firmes.

Foram horas de discussão com tranmissão ao vivo do Hotel Llao Llao. Os presidentes da Unasul discutiram sobre a instalação de bases norte-americanas na Colômbia. O documento estabelece limites e inspeções.

A reportagem é de Daniel Miguez, publicada no jornal Página/12, 29-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

As bases já estão. E não há volta atrás. Isso ficou claro nas palavras do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, já que os esforços para manter a Unasul de pé se concentraram, finalmente com sucesso, no consenso de um documento que indicou que "a presença de forças militares estrangeiras não podem ameaçar a soberania de qualquer país sul-americano" e habilitou ao Conselho de Defesa do organismo a inspecionar a atividade das tropas norte-americanas e seus radares, aviões e armamentos nas bases militares colombianas. O mínimo, mas suficiente para poder mostrar que a Unasul, mesmo com dificuldade, continua respirando. Foi ao cabo de uma tensa reunião de mais de sete horas sem recessos e bastante desvirtuada pela televisão ao vivo, à qual o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se opôs sem êxito.

A tensão precedeu ao começo formal da cúpula. Ficou em evidência quando a presidenta Cristina Kirchner recebeu os presidentes na porta do Hotel Llao Llao, sob uma chuva que não cessou durante todo o dia. Não estavam nem Uribe, Lula nem o venezuelano Hugo Chávez, três dos atores principais. Lula e Chávez mantinham nesse momento uma reunião bilateral para aproximar posições, e Uribe, quando Cristina já falava na abertura da cúpula, foi à sala de imprensa denunciar que haveria censura, porque o debate não seria televisionado ao vivo.

Foi uma forma de pressionar, porque esse foi o primeiro ponto que os presidentes tiveram que decidir: finalmente, aceitaram a tranmissão ao vivo. Lula não disse nada, mas quando lhe coube a palavra queixou-se porque a modalidade fazia com que os presidentes falassem para seus eleitorados e não o faziam com franqueza.

Cristina começou pedindo que se abordasse a reunião "com muita responsabilidade histórica", cujo final estava previsto para as 13h30 e terminou quatro horas depois. "Não pode haver pior fotografia do que aquela de Quito (a cúpula do dia 10 de agosto), onde o presidente da Colômbia não esteve e houve algumas expressões ostentosas". Era um chamado para se evitar o fracasso da cúpula. Quando a presidenta saiu para falar com a imprensa, às 19h, ela considerou que o objetivo foi conquistado. A Unasul continuava viva.

Houve duas etapas na maratona de discursos. As primeiras quatro horas foram mais ou menos tranquilas. "Vejo avanços e frutos concretos na integração dos países da Unasul. Vejo também sinais de esperança, como esta reunião, onde estamos processando dúvidas e incertezas de forma diplomática e fraterna", disse Correa ao falar depois de Cristina como presidente pro tempore do órgão.

Depois, Correa convidou os presidentes para expor suas posições. O silêncio indicava que ninguém queria ser o primeiro. "Se ninguém quer falar, encerramos a sessão", brincou. Uribe aceitou o desafio, para afirmar que a ajuda militar norte-americana é "prática e eficaz" e que "essa eficácia é o que estamos dispostos a examinar com vocês nesta reunião de hoje da Unasul". "O acesso dos EUA para ajudar a Colômbia na luta contra o narcoterrorismo é um acesso sem renúncia da Colômbia à soberania sobre um milímetro do território", assegurou Uribe, enquanto um Lula modesto batia os dedos de sua mão direita contra a mesa.

Depois, pediu que a Unasul considerasse as FARC como um grupo terrorista. "Preocupa-nos muito que esses grupos sejam encontrados com armas provenientes de outros países. Pedimos que sejam responsabilizados e investigados nesses casos", completou, com um dardo que apontava para Chávez.

Uribe terminou sua exposição sem bombas, e o uruguaio Tabaré Vázquez seguiu-lhe no uso da palavra, dizendo que "o Uruguai advoga pela soberania, por isso rejeitamos a instalação de bases estrangeiras" e lembrou que recentemente seu país rejeitou que um avião britânico carregasse combustível em sua viagem às Ilhas Malvinas.

"Que bom que estamos todos", exclamou Chávez quando começou. Em tom moderado disse que "seria necessário ter o texto do convênio" da Colômbia com os EUA para saber do que estava se falando, "já que o tema central é a instalação de sete bases militares norte-americanas na Colômbia". Depois leu parágrafos do "Livro Branco" do Comando de Mobilidade Aérea do Comando Sul dos Estados Unidos, nos quais, segundo sua interpretação, se detalha a estratégia norte-americana para a região, a qual considerou claramente ameaçadora.

Depois, falaram o peruano Alan García e o boliviano Evo Morales, que teve palavras duras para Uribe e os Estados Unidos. Seguiu-lhes a chilena Michelle Bachelet para solicitar "moderação e vocação integracionista", para poder obter "acordos que sejam cumpridos e não que, se alguém não gostar daquilo que se devide, vai embora". "O futuro da Unasul depende da nossa vontade política, e espero que possamos avançar e superar o ânimo de atrito que vimos nos últimos dias", indicou.

Lula se reservou para fechar a rodada. "Muitas vezes, pedimos muito a nós mesmos e isso não permite que vejamos a qualidade dos avanços políticos que já conseguimos na América do Sul", começou, e na mesma linha lembrou que "até pouco tempo, a doutrina estabelecida na América do Sul era a que nós éramos inimigos uns dos outros e que nossos aliados estavam nos EUA ou na Europa". "Eu não queria que se transmitisse o debate, porque estamos falando para o nosso público, e as diferenças profundas aparecem. Eu não queria parecer antidemocrático com a imprensa e agora estou aqui buscando as palavras mais adequadas", queixou-se.

Depois, subiu um degrau em suas críticas aos EUA e se dirigiu a Uribe. "O companheiro Uribe tenta mostrar que as bases norte-americanas já existem na Colômbia desde 1952. Eu gostaria de lhe dizer de maneira muito carinhosa que, se ainda não se solucionou o problema (a luta contra a guerrilha e o narcotráfico), devemos repensar quais outras coisas podemos fazer na Unasul para solucionar o problema".

"Os grandes consumidores de droga não estão no nosso continente. Seria bom que, em vez de combater o narcotráfico dentro de nossas fronteiras, o façam dentro de suas fronteiras, mas os consumidores são eleitores", continuou Lula. Finalmente, advertiu sobre o perigo do aumento da presença norte-americana na Colômbia. "Teríamos que ter as garantias de que é algo específico do território colombiano". Ele também repetiu sua proposta de pedir a Obama uma reunião para que esclareça as intenções dos EUA para com a região, algo que não chegou a um consenso e não ficou assentado no documento final.

Lula encerrou convidando outra vez à moderação ao dizer que "a única maneira de evitar conflitos entre nós é que nos contenhamos em nossas palavras. Na política, a palavra tem um poder impressionante".

Pareceu uma advertência sobre o que ia vir. Porque quando parecia que tudo havia acabado Correa pediu a palavra e, apoiado em um Power Point, fez o contrário do que Lula havia pedido. Com um tom muito duro, negou as acusações de que o Equador protege as FARC e os narcotraficantes. "O Equador é vítima porque o Estado colombiano não faz nada para solucionar o problema dentro do seu território". Depois, lançou frases como: "A Colômbia é o principal produtor de droga na região"; "Há plantações de coca ao lado da fronteira com o Equador e ao redor de uma base militar"; "Esses grupos (FARC e narcotraficantes) extorquem agricultores equatorianos".

O clima voltou a ficar pesado, e uma resposta forte de Uribe estava quase caindo de madura. O colombiano começou respondendo a Lula: "Não nos parece que tenhamos que chamar o presidente Obama para lhe pedir contas". Depois, defendeu as bases militares, ao dizer que só haverá 800 militares norte-americanos, e que eles atuarão exclusivamente em território colombiano. Também disse que estava disposto a deixar que o convênio com os EUA fosse "analisado" pelo Conselho de Defesa da Unasul, mas "sem prescindir da OEA", onde os EUA tem a voz principal. Enquanto isso, mostrava fotos de cadáveres, vítimas da FARC e dos narcotraficantes.

A essa altura, o almoço havia sido suspenso, e cada presidente comia em seu assento como podia. Chegava a vez de Chávez, que já estava explodindo. Cristina Kirchner talvez também notou isso, pedindo uma interrupção. E usou isso para colocar gelo sobre as palavras que vinham da boca de Chávez.

Ela disse que era preciso reencaminhar a conversa e falou da necessidade de recompor a confiança entre alguns presidentes e concluiu pedindo que se firmasse um documento. Então, Chávez, em uma mudança evidente, só disse que estava disposto a assinar o documento se se respeitasse "um princípio geral de que as forças extrarregionais não afetem a soberania de outros países". A Unasul, por enquanto, continua a salvo.
Fonte:IHU

POLÍTICA - Collor prepara-se para voltar ao cargo. que o projetou ao Planalto

O sonho delle é retornar ao Planalto e já começou a pavimentar o caminho.
Carlos Dória


Vinte anos depois de sua eleição à Presidência da República, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) prepara-se para tentar retomar o cargo de onde saiu para disputar o Palácio do Planalto: o governo de Alagoas. Aos 60 anos, voltou à velha forma agressiva que marcou sua ascensão à política. Controla a TV, rádio e jornal das Organizações Arnon de Mello que o projetaram no Estado, selou uma reaproximação com um antigo aliado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), e explora, com eficiência, perante os alagoanos, a aura de injustiçado pelo impeachment.

A reportagem é de Caio Junqueira e publicada pelo jornal Valor, 31-08-2009.

Além de velhos companheiros de 1989, agregou novos entusiastas, muitos dos quais na mira da Polícia Federal. Entre os principais articuladores, está o deputado estadual Cícero Ferro (PMN), preso pela Operação Taturana, que apurou desvios de mais de R$ 280 milhões de recursos públicos. Ferro é ardoroso defensor da candidatura: "Collor é carismático, tem serviços prestados ao Estado e junta todas as lideranças".

O deputado federal Augusto Farias (AL), irmão de Paulo César Farias, é outro importante articulador de Collor. Com reduto eleitoral no litoral norte alagoano, a família Farias permanece envolvida em acusações de corrupção. A mais recente foi nas eleições de 2008, quando a PF prendeu seu irmão, Rogério Farias, candidato à reeleição em Porto de Pedras; sua cunhada, então prefeita de Barra de Santo Antônio, Rume Farias; e a filha deles, Camila Farias, candidata em São Miguel dos Milagres. Todos são do PTB.
Ainda integra o grupo do senador no Estado mais dois deputados presos na Taturana: Antonio Albuquerque, ex-presidente da Assembleia Legislativa, então no DEM, hoje sem partido; e o deputado estadual João Beltrão (PMN). Junto com Ferro, os dois são acusados pela PF de crimes de pistolagem. Afastados do cargo, puderam retornar, junto com outros indiciados, por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

Nenhum desses "colloridos", no entanto, faz sombra ao poder de articulação de Renan Calheiros (PMDB-AL). O dueto de Renan e Collor no Senado, repete-se no Estado. Renan afastou-se do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), candidato à reeleição em 2010 e contra quem Collor pretende concorrer. O afastamento foi selado pela Operação Navalha da PF, em 2007, que prendeu Adeilson Bezerra, secretário de Infraestrutura de Alagoas, apontado como responsável pela ordem de pagamento à construtora Gautama em troca de propina. Ele havia sido indicação de Renan.

Constrangido, Vilela o demitiu e não devolveu o posto a Renan. Depois disso, o MST invadiu a principal fazenda dos Calheiros, em Murici, e o governador não se esforçou para retirá-los de lá. Some-se a isso o afastamento da dona do cartório da cidade suspeita de favorecer os Calheiros em processos de grilagem de terras e a fiscalização do frigorífico Mafrial, acusado de passar notas frias da compra de bois para abate a Renan.

No início deste ano, Renan retirou a última Pasta que tinha no governo, a da Saúde e, pouco depois, indicou Collor para presidir a poderosa Comissão de Infraestrutura do Senado. O movimento teve por objetivo sinalizar que, em 2010, estarão juntos. Segundo seus aliados, Renan avalia que, com Collor, sua reeleição ao Senado corre menos risco, tendo em vista que seu prestígio no eleitorado alagoano caiu muito devido às denúncias feitas pela ex-namorada de seu envolvimento com a Andrade Gutierrez, que culminaram com a renúncia à presidência do Senado em dezembro de 2007.

Renan é presença pública rara em Alagoas. Ausentou-se do evento que deu publicidade à aliança entre Collor e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Palmeira dos Índios, em 14 de julho. Além disso, há concorrentes fortes às duas vagas do Senado, como Heloísa Helena (P-SOL), e o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), favoritos nas pesquisas. Renan vem em terceiro.

Collor, por sua vez, tem interesse em auxiliá-lo como retribuição à indicação à comissão do Senado e porque Renan é melhor articulador político. Embora em baixa no eleitorado, goza de muito prestígio entre os 102 prefeitos alagoanos, que veem nele canal direto e eficiente com Lula e os ministérios. Apenas do PAC, até 2010, em transporte, energia, irrigação, saneamento e habitação, serão cerca de R$ 3,5 bilhões em investimentos - 17 vezes o que o governo estadual pretende investir em 2009.

O trabalho é para que essa chapa Collor/governador e Renan/senador aglutine, além de PTB e PMDB, o PDT do ex-governador Ronaldo Lessa, PR, PCdoB, PV, PT, PMN, DEM, PTdoB, PRB, PSC e o PP, o que somaria mais de 80% dos municípios do Estado.

Considerado imprevisível em seu Estado, Collor, por ora, nega qualquer tentativa de retorno ao Executivo - federal ou estadual. Ríspido e monossilábico, não quis fazer prognósticos em conversa com o Valor, em seu gabinete em Brasília. Instado a avaliar cenários políticos de 2010, abusou de respostas como "não acho nada" e "não sei". Solicitado a aprofundar alguma declaração, afirmou que já tinha respondido à questão. Alegou não ter pesquisas para traçar um perfil de seu eleitorado em Alagoas. Em relação ao fato de o Estado ser um dos recordistas em fraudes e assassinatos eleitorais, disse não ser "muito afeito" a esta agenda.

A cautela sobre o que fará em 2010 pode ser atribuída à existência de um obstáculo a ser contornado para que seu plano dê certo: Cícero Almeida (PP), prefeito de Maceió, reeleito em 2008 com 81,5% dos votos válidos. Nas pesquisas, é ele quem lidera a disputa com cerca de 30%, contra 25% de Collor e 4% de Vilela.

Dono de uma uma carreira política meteórica - foi vereador, deputado e prefeito em menos de dez anos - lembra Collor no apelo à religiosidade e Lula na habilidade para composições. No primeiro mandato, governou com partidos conservadores e investiu na infraestrutura tanto de áreas ricas quanto pobres. Foi criticado pela pouca ênfase na área social e no segundo mandato deu ao PT a secretaria da Educação e Assistência Social; ao PCdoB, a Fundação Municipal de Ação Cultural; e ao PDT, Governo e Economia Solidária.

Em seu gabinete, repleto de imagens de santos e de quadros em que aparece sorridente, Cícero, que costuma usar a terceira pessoa para falar sobre si, promete decidir se sai ou não candidato até dezembro. "Preciso ter os pés no chão, um grupo consolidado. Não sendo Collor o candidato, a gente tem a eleição ganha. Se a situação ficar dividida, tenho que pensar duas vezes", afirma, propenso a ser o palanque da provável candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff. "As pessoas gostam de olhar no olho e sentir confiança. E a ministra olhou nos olhos do prefeito Cícero Almeida e sentiu isso." Resume algumas das razões de sua popularidade: "Tenho anos de trabalho como repórter policial no rádio, um programa de forró, sete CDs gravados, 40 composições. Todo mundo tem Cícero Almeida em casa."

O possível racha do bloco idealizado por Renan e Collor também se baseia na força do PP, sigla que mais cresce no Estado, muito em razão dos recursos do Ministério das Cidades, comandado pelo ministro Márcio Fortes, da mesma legenda. Desde 2004, o partido passou de cinco prefeituras em Alagoas para 22, à frente do PMDB de Renan (19), do PTB de Collor (19) e do PSDB de Vilela (13).

Com 43 anos de vida pública, o presidente estadual da sigla, deputado federal Benedito de Lyra, ex-Arena, PDS, PFL e PTB, é uma espécie de mentor político do prefeito de Maceió. De antemão, avisa quais poderiam ser os termos de uma eventual coligação com Collor: "Sempre ajudei a eleger, nunca a governar. O que disse a ele foi que o projeto de 2010 não pode ser pessoal, mas de Alagoas". Tem certeza de que os dois senadores estarão juntos em 2010: "Renan é o principal articulador dele. Para onde um for, o outro vai."

O receio maior do PP é partir para uma concorrida disputa contra Collor ao governo e correr o risco de deixar a Prefeitura de Maceió, depois de um ano e três meses de mandato, nas mãos da vice Lourdinha Lyra (PRB), irmã de Thereza Collor e filha do usineiro João Lyra. Cícero e Lourdinha não confiam um no outro, apesar de o prefeito garantir que os desentendimentos fazem parte do passado. Outro problema é que Cícero foi indiciado pela PF na Operação Taturana, sob a acusação de ter contraído um empréstimo irregular quando era deputado, usando como garantia a verba de gabinete da Assembleia e o aval do Legislativo alagoano. Na semana retrasada, foi denunciado pelo coordenador do Movimento Nacional de Combate à Corrupção Eleitoral em Alagoas por enriquecimento ilícito e movimentação financeira fraudulenta. Para Cícero, tudo não passa de campanha difamatória, tendo em vista que lidera as pesquisas para o governo.

O provável principal adversário de Collor, governador Teotonio Vilela, tem assumido um discurso de composição com os cotados para enfrentá-lo. Por ora, é de que tanto Collor quanto Renan são bem vindos ao seu lado em 2010. "Nas duas únicas eleições em que não concorremos eu e Renan do mesmo lado, perdemos. Em 1990 não o apoiei ao governo, e em 1992 ele não me apoiou para prefeito. Pode ser coincidência, mas é fato", disse.

Palanque tucano em 2010, Vilela é só elogios a Lula. "O presidente tem tido uma postura mais que republicana, solidária, amiga, conosco. Nunca me pediu nada em troca", afirmou, às vésperas da terceira visita de Serra em menos de dois anos.

Atribui seu baixo índice nas pesquisas ao fato de suas ações ainda não terem aparecido à população. "É um trabalho de reconstrução de um Estado. Melhoramos a máquina administrativa, enxugamos o Estado". Vilela afirma que avanços sociais serão notados em 2010. Cita como feitos saltos na habitação popular, no saneamento e na redução da mortalidade infantil.

Nos primeiros dois anos da gestão fez um ajuste fiscal para que o Estado recuperasse sua capacidade de endividamento, o que ocorreu apenas este ano. Foram tomados cerca de R$ 380 milhões junto ao Banco Mundial. Como contrapartida, o governo se comprometeu em consolidar o ajuste fiscal. Ocorre que esse ajuste afetou sua popularidade. Logo que assumiu, Vilela baixou decretos cancelando aumentos do funcionalismo público, concedidos no fim da gestão de seu antecessor, Ronaldo Lessa (PDT). Além de ser o estopim para o rompimento de Lessa com o governo que ajudara a eleger, o episódio serviu também para reavivar o movimento sindical no Estado, que estava fechado com Lessa. A partir daí, as greves não cessaram.

Os críticos apontam um governo solitário, centralizado na figura do governador, do seu secretário-chefe do Gabinete Civil, Alvaro Machado, e do seu secretário de Planejamento, Sérgio Moreira, que blindam Vilela do acesso aos aliados - hoje restritos ao PSB e ao PPS. Um retrato disso é que uma antiga aliada, a ex-prefeita de Arapiraca Célia Rocha, militante histórica do PSDB alagoano, rompeu com Vilela e foi levada por Collor ao PTB. Com alta popularidade em sua cidade, a segunda maior do Estado, deve conduzir o Agreste -um terço do eleitorado de Alagoas- a uma maciça votação em Collor. "Cara-pintada só apareceu com Collor, mas corrupção houve com todos os presidentes. E ele ainda foi inocentado depois", afirma ela, pré-candidata a deputada federal, que completa: "Collor e Renan juntos são muitos fortes".
Fonte:IHU

ECONOMIA - Aracruz e a incorporação pela Votorantim - a compra da vergonha.

Concordo plenamente. A Aracruz especulou com os chamados "derivativos", se deu mal e vem o governo, depois de dizer que não ajudaria os especuladores, e permite a ajuda do BNDES.
Carlos Dória

"A “compra” de capital da Aracruz por parte da Votorantim é uma vergonha nacional por ter sido financiada pelo BNDES e sem consulta de nenhum tipo para a população contribuinte (e que no fundo sustenta a todo o aparelho de exercício das relações assimétricas)", avalia Bruno Lima Rocha, cientista político, em artigo que publicamos a seguir.

Bruno Lima Rocha, cientista político com doutorado e mestrado pela UFRGS, jornalista formado na UFRJ; docente de comunicação e pesquisador 1 da Unisinos; membro do Grupo Cepos e editor do portar Estratégia & Análise.

Eis o artigo.

O Grupo Votorantim que já detinha 84% das ações da empresa conhecida como Aracruz Celulose e Papel, oficializa a incorporação e chama a atenção da mídia de sempre que louva a criação de uma nova empresa. Sim, o nome da gigante da celulose e derivados é Fibria e orgulhosamente as fábricas de sentido desassociados de uma sociedade justa (a chamada mídia corporativa) exaltando a “maior empresa de celulose do mundo”. Nada mal. Para consumir boa parte da água disponível no segundo maior manancial de águas do planeta, teremos sobre o Cone Sul uma malha de deserto verde com vocação para usurpar os recursos naturais não renováveis do Aqüífero Guarani.

A situação beiraria o absurdo se não fosse uma construção de discurso que abafa o volume do problema. Sob o manto das premissas capitalistas mascaradas com valores socialmente construídos a partir da lógica do sistema, vivemos o mundo das hipocrisias e da inversão conceitual. Vejamos o porquê de tanta ira. A Aracruz totaliza uma dívida de R$ 12 bilhões. A desculpa esfarrapada vem sob o eufemismo da “exposição” dos riscos que a empresa correra ao ver-se diante de um cenário inseguro no mercado dos derivativos e do dólar futuro. Pura balela! Compraram papéis podres, jogaram em pirâmides digitais, apostaram em cima de recurso oriundo do financiamento produtivo e aumentaram a quebradeira! Assim como no Congresso Nacional tem acórdão para todos os tipos de crime de colarinho branco, no mundo dos negócios em geral e das finanças em específico, vale tudo desde que ninguém fale um idioma compreensível pelos mortais.

O Grupo Lorentzen, o Grupo Safra através de sua Arainvest, a VCP (subsidiária do grupo econômico da família Ermírio de Moraes) foram para a jogatina descontrolada apostando na roleta com o dólar futuro. O resultado foi igual o da Sadia do ministro Furlan. Veio a quebradeira e os arigós pagaram o pato, entrando por tabela na operação salva vidas através do dinheiro do BNDES, ou do BNDES participações, subsidiária do maior banco de fomento do mundo e especialista em praticar a versão tupiniquim da Reaganomics – Tirar dos pobres para dar aos ricos! Nada disso é novidade e em matéria da excelente Eco Agência (Núcleo de Ecojornalistas do RS, NEJ/RS), datada de 25 de janeiro de 2009 já se expunha o volume da transferência para fins privados do recurso coletivo. Ou seja, do ROUBO por vias legais!

Segundo a Ecoagência, a VCP pôs no negócio o valor de R$ 4,5 bilhões que obviamente estavam subsidiados. Da parte da União, o BNDES entrou com R$ 2,4 bilhões de subsídio – sabe-se lá as condições de pagamento, se é que não acabará indo tudo a fundo perdido depois de várias renegociações – para que um gigante adquirisse a maior empresa “brasileira” de celulose e que estava à beira da falência total. De sua parte, o Banco Safra tirava da frente, informando que não tinha relação direta com a empresa. Quem sim tinha eram apenas os dois irmãos fundadores da casa bancária mui peculiar e outras passagens nebulosas a mais. O Safra, segundo o Valor Econômico de 10 de outubro de 2008 (no olho do furacão de derivativos), este banco de “investimentos” estaria com imagem abalada pela perda da Aracruz de R$ 1,95 bilhão com os ativos tóxicos e outros derivados.

O que a nota do Valor esquuceu de relacionar foi a participação do Safra nas pirâmides do Sr. Madoff, o autor da maior estafa individual da história da humanidade. Luis Nassif nos apresenta a pérola do fundo Safra Zeus (nome inspirador para financistas levantinos), Segundo o Nassif, nem todos dos cerca de uma centena de investidores podem apresentar a origem dos recursos aplicados, que extrapolam e muito qualquer razoabilidade de comprovação de gastos. Enfim, este dinheiro que sumira, tem boa dose de chances de ser do contribuinte e não dos titulares das contas.

Agora o cenário está completo. Sai de vez a Lorentzen e o Banco Safra, entra com tudo a VCP (Votorantim, família Ermínio de Moraes) assume o controle e muda o nome. Isso, mais a ajuda de sempre do BNDES, prova que as relações assimétricas do Capitalismo financiado por seu Estado seguem vivas e fortes no governo de Lula, o ex-dirigente sindical que nunca foi de esquerda. Percebam que eu sequer mencionei até agora detalhes mais técnicos da desertificação de cor verde e outras mazelas. A própria natureza das operações já atesta nosso fundo teórico. O botim se organiza na composição de seu Conselho Diretor, entrando os homens de confianças de Antônio Erminio com quatro vagas de sete, o BNDESPar com dois assentos e o rstante bem que poderia ficar para o governo do estado do RS, que tanta força fez para assegurar a incorporação na base do financiamento estatal e cuja orientação estratégica passa pela derrubada da legislação ambiental ainda vigente no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil.

Para concluir

Gostaria de me permitir uma ilação, apenas uma. Na 5ª anterior ao assassinato do colono sem terra Eltom Brum da Silva na cidade de São Gabriel (fronteira oeste do RS), a chiadeira geral do latifúndio sob a bandeira de plataforma de exportações de bens primários com tecnologia transgênica era quanto ao aumento do índice de produtividade. "Absurdo"; todos eles gritavam (incluindo na grita os editoriais e falas dos âncoras das mídias corporativas), assim como gritaram e esperneiam diante da proposta de aumento da reserva legal. Um dia depois, em 21 de agosto de 2009, Eltom é assassinado com tiros de 12 com balins de chumbo nas costas. Uma semana depois, no sábado 29 de agosto se consuma a aliança financiada com dinheiro do FGTS e outros recursos públicos. A Fibria, que já nasce devendo a R$ 12 bi é isso.

Uma poça de suspeita coletiva cai sobre o modo transacional, sobre os benefícios dados aos CEOs com cargo na nova empresa e a mácula de tentar (s seguir tentando) derrubar o código de legislação ambiental mais respeitado do planeta. É óbvio que esta agenda não é marcada por uma conspiração em escala nacional (ainda que esta hipótese nunca pode deixar de ser levada em conta), mas sim por um poder de agendamento e demonstração de forças dos gigantes corporativos.

Mais do que xingar (embora este recurso sempre seja válido), entendo que o dever de ofício dos que vivem para analisar é retirar o véu das premissas e descortinar tanto as indústrias predatórias (como na celulose) como o linguajar supostamente técnico e que atenta contra nossos ouvidos. Esta “compra” de capital da Aracruz por parte da Votorantim é uma vergonha nacional por ter sido financiada pelo BNDES e sem consulta de nenhum tipo para a população contribuinte (e que no fundo sustenta a todo o aparelho de exercício das relações assimétricas).

Temos de abrir a agenda corporativa, traduzir o linguajar “técnico” e pautar o debate em cima das decisões políticas que atravessam nossa vida e pelas quais nunca somos consultados. No que depender deste modesto analista, esse tipo de compra jamais terá existência e convivência pacífica.

Nota final

Este artigo vai em homenagem ao companheiro libertário venezuelano José Mauricio Torres, falecido de um câncer no 19 de agosto de 2009. O que a Disip (polícia política) dos escuálidos do período da vergonha de Ponto Fixo não fez, uma maldita doença conseguiu. Eu o conheci em Caracas no último janeiro, apresentado por gente maravilhosa e que, junto de Mauricio, me ensinaram o significado mesmo de que um compa é um pana. Neste link é possível ler uma síntese de sua trajetória militante. José Mauricio Torres, até sempre!
Fonte:IHU