Pedro do Coutto
Domingo passado, O Globo publicou entrevista do senador Jarbas Vasconcelos, da oposição a Lula, revelando-se desesperançoso com os rumos da sucessão. Na mesma edição, outra matéria apontava a ausência ainda, nesta altura dos acontecimentos, de uma estrutura política de propaganda. Fechando o triângulo, a Veja ainda focalizava o empenho de José Serra de ter Aécio Neves como candidato a vice na sua chapa. Três fatos extremamente negativos para o governador de São Paulo, que, além do mais, ainda parece vacilar na tentativa de tentar o vôo do Planalto.
Uma campanha eleitoral tem que estar planejada há muito tempo. Não pode ser montada ou improvisada no prazo de seis meses, que nem seis meses a rigor são, uma vez que oficialmente começa em Junho. Está havendo sem dúvida alguma desorganização mo hangar dos tucanos enquanto isso há organização na rampa de lançamento do Planalto. Em tais condições, dificilmente Dilma perderá a disputa, com a ppre4sença ou ausência de Ciro Gomes. Ela tem tudo para avançar. E está avançando, como demonstrou a mais recente pesquisa do Datafolha.No espaço de 60 dias subiu 5 pontos, Serra desceu cinco degraus. Ciro avançou um ponto e Marina Silva ficou onde estava.
Por falar em campanha estruturada, em 1955, Juscelino disse numa entrevista coletiva no Rio, onde estavam Vilas Boas Correa, Murilo Melo Filho, Carlos Castelo Branco, que tinha iniciado sua campanha à presidência no dia primeiro de Janeiro de 55 quando assumiu o governo de Minas Gerais. Tinha ímpeto, simpatia, mobilidade, vontade de vencer. Tinha enfim todas as qualidades que Serra vem demonstrando não possuir. Sem emoção, campanha alguma dá certo.
Inclusive até porque os recursos financeiros se retraem. Telefonemas não são respondidos, depósitos deixam de ser feitos. E o resto já se sabe. As alianças políticas nos Estados deixam de ser feitas. Enfim, um clima prévio de derrota envolve o candidato. E um clima antecipado de vitória impulsiona a candidata. Além do mais como já disse, Lula está montado numa popularidade de 80%.
Transferir votos é difícil? É. Mas basta transportar metade dos votos para garantir a vitória. E é impossível que não o faça. Quarenta por cento do prestígio é mais do que suficiente para levar Dilma à vitória. Portanto, as matérias do Globo e da Veja deixaram claro que há entusiasmo de um lado e desencanto de outro. E ninguém pode vencer uma eleição sem entusiasmar os eleitores. Algo contagiante. Passa como uma corrente elétrica de um grupo para outro. E se Lula conduzir a disputa como deseja, para o plano plebiscitário, melhor ainda para o Planalto.
Outro dia, alguém escreveu um artigo dizendo que JK não tinha conseguido passar prestígio para o general Lott. É verdade. Mas sequer tentou. Num jantar na residência do ex ministro Armando Falcão, Juscelino havia encarregado de transmitir o recado de que se manteria absolutamente neutro. Foi o que fez. Murilo Melo Filho é testemunha do episódio. Não quero dizer que, se tentasse levaria Lott à vitória. Estou afirmando que JK sequer tentou. Sua meta era retornar em 64. O destino impediu seu projeto. Os fatos a partir de 63 e 64 já pertencem a história do país. Acabava a democracia. Começa o ciclo dos generais no poder. Durou 21 anos.
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