Pedro do Coutto
Os dados mais importantes que uma pesquisa pode oferecer, como a do Datafolha publicada domingo pela Folha de São Paulo forneceu, é cotejar a subida e a descida dos principais candidatos. Foi exatamente o que revelou a matéria publicada. No espaço de dois meses, Serra desceu 5 pontos e Dilma subiu outros 5. A diferença agora ficou de 32 para 28%. Um decréscimo, uma ascensão. Questão de ritmo, de disposição para a campanha, efeito do peso do apoio de Lula, tudo isso somado, não importa. Importam os fatos contidos nos números.
A presença de Ciro Gomes na disputa que, no mesmo período cai de 13 para 12, deixou de ser importante, em termo de sucessão presidencial. Talvez seja mais útil ao Planalto disputando o governo de São Paulo, ou se candidatou a deputado federal pelo estado do que propriamente como pela destinada a assegurar o segundo turno em outubro. Disputando o governo paulista, poderá reduzir a vantagem que o PSDB poderá obter lá, o que influirá na eleição na eleição de modo geral.
Mas o fato predominante, nesta altura dos acontecimentos, é que se percebe muito mais entusiasmo popular em torno da ministra chefe da Casa Civil do que do lado do governador José Serra. Este inclusive pelos adiamentos que marcou o lançamento de sua candidatura passou a impressão que poderia recuar. E se recuar o PSDB poderá contar com quem? Com Aécio Neves? As pesquisas apontam muito abaixo de Serra. Com Fernando Henrique? Muito menos.
Pois foi exatamente a comparação que tentou fazer entre o seu governo e o de Lula que deu início plenamente ao que Lula mais deseja: transferir o pleito de outubro numa espécie de plebiscito entre sua administração que tem aprovação de 70% com a de FHC. A política salarial adotada num caso e no outro completamente oposta. Num terceiro capítulo as tentativas de desestatização.
Mas esta é outra questão. O essencial como o Datafolha revelou em 60 dias, é que a diferença entre Serra e Dilma desceu 10 pontos. Muita coisa. O ritmo da campanha mudou. E é preciso levar em conta que o presidente Lula ainda não entrou com o peso pleno da máquina federal. Nem com a capacidade de, com o poder central nas mãos, influir em acordos regionais importantes. Lula traz consigo uma oferta concreta, Serra, como é natural, em cesto de promessas.
Programas sociais como o Bolsa Família, pesam e muito na decisão dos eleitores de menor renda. Serra, claro, poderá assegurar sua continuidade, mas com as mesmas 12 milhões de famílias? Não é impossível que cumpra tal programa. O difícil é fazer com que a população pobre acredite que as promessas se revelem realidade.
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Todos estes fatores somados favorecem nitidamente a candidata do Planalto que, além do mais, tem se mostrado mais disposta pela luta que o governador de São Paulo.
José Serra, por tudo isso, terá que alterar seu comportamento, mostrando-se mais disposto ao combate, mais disposto à luta, mais motivado para um enfrentamento inevitável. Contar só com alianças regionais não é suficiente. É preciso mais ação sobretudo mais emoção. Serra não tem passado estas características. Dilma Roussef sim. E mais um detalhe fundamental: Dilma tem penetrado bem mais nas classes de renda mais alta do que Serra nas de renda mais baixa. Caso contrário, a diferença não teria se reduzido a apenas 4 pontos.
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