Pedro do Coutto
Finalmente, durante jantar em Belo Horizonte, o governador José Serra tornou pública e direta sua disposição de concorrer à presidência da República. Tarde demais. Como candidato de oposição, deveria ter se antecipado a Dilma Roussef, há vários meses praticamente oficializada como a escolhida pelo Planalto. Nesta condição, isso sim, deveria ter se antecipado e não esperado por uma definição mais do que certa. Lula, inclusive, deixou claro essa intenção desde o início, até porque não possuía outro nome em melhores condições eleitorais. Serra ficou esperando por quê?
Por nada viu o tempo passar à espera de quê? Da ofensiva publicitária que o governo Lula desencadeou no final do carnaval? Além do mais sentiu esperar por demais por Aécio Neves aguardando sua resposta se aceitará ou não ser vice em sua chapa. Percebendo que o governador de São Paulo dependia de mais dele, Aécio retirou-se para a sombra temendo uma derrota dupla, a de Serra e a sua de vice. Escolheu o Senado por Minas e o futuro. Não achou que valesse à pena optar pelo presente. E pior: escolheu o momento para encerrar o enigma logo após a pesquisa do Datafolha que encurtou em dez pontos a diferença entre Serra e Dilma ao dizer publicamente que não aceitava a vice-presidência, mais do que ofertada como solução eleitoral. Mas o fato concreto é que o destino dos candidatos à presidência não pode depender dos candidatos selecionados à vice-presidência. Nesta hipótese, estaria invertida a equação. O vice passaria a ter mais importância fundamental que o presidente. E isso não pode fazer sentido. Eu me lembro bem das eleições diretas de 89. A chapa articulada contra a de Tancredo-Sarney era a de Paulo Maluf-Mário Andreazza.
Andreazza desistiu e deixou a bomba no colo do governador de Alagoas, Divaldo Suruagy. Paulo Maluf não podia sair às ruas sem que recebesse manifestações de hostilidades. Quando um político experiente ou bem assessorado desiste do páreo, é claro que algo não vai bem. Aconteceu ontem. Está acontecendo hoje. Quem afinal deseja ser vice de José Serra? A dificuldade da resposta sintetiza a dificuldade da pergunta e da colocação. Serra esperou demais para iniciar uma campanha de oposição. Desejou um debate com Dilma que não vai haver. Haverá com Lula e com Dilma que é muito diferente. Como no futebol, a equipe da oposição pode vencer partindo para a ofensiva. Mas nunca na defensiva. É preciso não só considerar a aliança com o PMDB, como também a forte influência da máquina estatal, incomparavelmente mais forte que a de Serra.
E o que dizer das alianças regionais com o tempo que o PMDB tem a oferecer na televisão? Não sobra muito espaço para a oposição. Que dependia de Aécio e hoje não depende de mais ninguém. Serra ficou sozinho na Arena. Adiando sua definição que agora assume tardiamente, fica isolado. Depende apenas de suas próprias forças. Forças em queda. Ao contrário do ímpeto de Lula que transfere para Dilma Roussef. E mais um detalhe: o Datafolha provou que Ciro tira mais votos de Serra que de Dilma. Ainda que dispute apenas o governo de São Paulo. Retira uma fração importante. Francamente, a impressão que se tem hoje é a de que Serra jogou fora, pela vacilação e por adiamentos sucessivos, acha que teria de chegar ao Planalto. Talvez tenha preferido ficar no Bandeirantes.
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