A discussão política tornou-se tão previsível, enfadonha, tão repetitiva que às vezes cansa. É um jogo pequeno, miúdo, menor, de pegar cada frase, cada declaração, montar uma interpretação sobre o que fulano quis dizer e pautar a discussão pública com essa interpretação.
Às vezes me dou o direito de me poupar de alguns desses temas, tal a quantidade diária de pautas novas e irrelevantes levantadas pela velha mídia.
Mas não tem jeito. Um leitor, o Roberto, me cobrou insistente e educadamente posição sobre a tal declaração do Lula a respeito da greve de fome do preso cubano.
Então repito a resposta que lhe dei, um pouco mais elaborada do que a que enviei.
Prezado Roberto,
Há uma tradição na diplomacia brasileira de não interferência nos assuntos internos de outro país. É tradição antiga.
Lula apenas expressou essa opinião, de um modo que abre margem a interpretações de quem não quer entender o contexto das declarações. Disse que a pessoa foi presa de acordo com as leis cubanas. E se cada greve de fome desse ao preso o direito de ser libertado, todos os bandidos brasileiros estariam soltos. Exagerou na imagem, possivelmente porque não existem presos políticos brasileiros.
O Brasil tem interesses maiores na Venezuela (país com quem o Brasil mantém o maior superávit comercial entre todos), em Cuba (poderá abrir um grande espaço para empresas brasileiras participarem da reconstrução econômica do país pós-Fidel). Manifestações oficiais sobre problemas de direitos humanos em outros países, além de inócuas, servem apenas para enfraquecer a posição nacional (de qualquer país) frente a outros rivais diplomáticos e comerciais.
Não é por outro motivo que jamais EUA ou outras potências condenaram posições políticas de países onde havia interesses estratégicos maiores.
O que não impede que a opinião pública proteste contra abusos. Mas a velha mídia, com sua ideia fixa, protesta contra o não protesto do governo brasileiro. Fidel é apenas álibi. A referência é sempre o governo, sempre o Estado, sempre o bolivarismo, o chavismo, o fidelismo, ectoplasmas que não tem a menor relevância para a vida política interna – mas têm para as estratégias externas do país.
Não externei minha posição por algumas razões. Há uma discussão relevante sobre as estratégias diplomáticas do país. Nem digo que a realpolitik tenha que ser o único mote da diplomacia. Mas a discussão tem que ser em torno dessa estratégia – para mostrar ou não sua eficácia, entendendo as suas razões. Então é algo que vai além do mero julgamento moral da posição brasileira.
Da maneira como a mídia pauta, tudo fica reduzido a um maniqueísmo, a uma forma de fazer oposição sem precisar avançar em discussões mais aprofundadas. E tudo com o objetivo de fazer oposição sem precisar apresentar ideias.
Quando o Merval cita Aristóteles e decreta que a imagem internacional do Lula acabou por conta desse episódio, eu que não tenho acesso a Obama, Sarkozy, Merkel e Brown como ele – para ter tanta certeza assim – poupo a minha insignificância para temas menos candentes.
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