Por Raphael Bruno
A mais recente pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial, divulgada ontem, confirmou o que sondagens anteriores já haviam revelado: a pré-candidata do PT, ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, conseguiu, oito meses antes das eleições, pulverizar a ampla vantagem que o governador de São Paulo e provável candidato do PSDB, José Serra, conservava até então. O intenso sobe e desce dos percentuais de intenção de voto deveria ser suficiente para provocar reações alarmadas no ninho tucano. De fato, a pressão para que Serra assuma logo a candidatura e tente rivalizar as ações de pré-campanha, antes que a pequena liderança que lhe resta seja desfeita, parece aumentar a cada novo levantamento.
As interpretações produzidas pelo próprio PSDB para explicar a volatidade dos números, no entanto, parecem, até o momento, repousar mais numa tentativa de amenizar o impacto das pesquisas do que no adequado diagnóstico das tendências de competitividade eleitoral das duas candidaturas majoritárias. O primeiro e mais utilizado argumento tucano para explicar o crescimento de Dilma na preferência do eleitor brasileiro é a exposição contínua e, no entendimento da oposição, ilegal, da ministra em cerimônias oficiais públicas, principalmente aquelas temperadas por discursos provocadores do principal fiador eleitoral da petista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É evidente que o PSDB identifica corretamente um dos fatores que impulsionam a candidatura de Dilma. O equívoco é apostar que a curva ascendente da ministra necessariamente será interrompida no momento em que a petista se descompatibilizar do cargo. Apesar de todos os esforços de Lula e do PT e do crescimento nas pesquisas, Dilma ainda é uma ilustre desconhecida de parcelas significativas do eleitorado brasileiro. Principalmente daqueles setores menos informados e/ou formalmente instruídos que, como também revelam as pesquisas, tendem a avaliar mais positivamente o presidente Lula e seu governo do que o conjunto da população como um todo. Ou seja, a petista ainda tem margem considerável para crescer, sobretudo quando for apresentada, em cadeia nacional de rádio e televisão, como a candidata capaz de dar continuidade aos projetos do popular presidente. Não há como comparar a exposição pública da propaganda eleitoral com a de inauguração de obras Brasil afora, por mais que estas sejam, realmente, muitas, como acusa o PSDB.
O que nos leva à segunda interpretação questionável dos tucanos sobre as oscilações nas pesquisas. A de que a entrada definitiva, oficial e vigorosa de Serra colocará fim ao avanço petista junto ao eleitorado. Isso dependerá da capacidade do PSDB de impor sua estratégia e obter sucesso com ela na disputa eleitoral. É uma possibilidade, não um fato consumado. Tanto que parte dos tucanos ligados ao governador de São Paulo admite que a espera no lançamento da candidatura oposicionista está ligada a uma opção de Serra de não entrar em confronto imediato com Lula. O embate, contudo, será inevitável, por mais que o governador paulista se negue a assumir o posto de “chefe da oposição”, como ele mesmo classificou, e delegue estas funções, por enquanto, a auxiliares próximos.
Por fim, a terceira e mais duvidosa argumentação utilizada por dirigentes da oposição, a de que o crescimento de Dilma era esperado e que sua atual intenção de voto está até mesmo abaixo do patamar histórico de 30% obtido pelo PT em todo início de campanha. O PSDB ignora que Lula inverteu e ampliou radicalmente o perfil social e demográfico do voto petista. O percentual de 30% estava intimamente vinculado a um eleitorado de classe média morador de grandes centros urbanos que simpatizou com o PT durante a década de 90. Hoje, o grosso do eleitorado de Lula e, provavelmente de sua candidata, Dilma, está na população de menor poder aquisitivo do Norte e Nordeste. Não é possível afirmar que este permanece sendo o piso eleitoral petista. Infelizmente para a oposição, no entanto, tampouco deve ser o teto.
Fonte:JB
A mais recente pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial, divulgada ontem, confirmou o que sondagens anteriores já haviam revelado: a pré-candidata do PT, ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, conseguiu, oito meses antes das eleições, pulverizar a ampla vantagem que o governador de São Paulo e provável candidato do PSDB, José Serra, conservava até então. O intenso sobe e desce dos percentuais de intenção de voto deveria ser suficiente para provocar reações alarmadas no ninho tucano. De fato, a pressão para que Serra assuma logo a candidatura e tente rivalizar as ações de pré-campanha, antes que a pequena liderança que lhe resta seja desfeita, parece aumentar a cada novo levantamento.
As interpretações produzidas pelo próprio PSDB para explicar a volatidade dos números, no entanto, parecem, até o momento, repousar mais numa tentativa de amenizar o impacto das pesquisas do que no adequado diagnóstico das tendências de competitividade eleitoral das duas candidaturas majoritárias. O primeiro e mais utilizado argumento tucano para explicar o crescimento de Dilma na preferência do eleitor brasileiro é a exposição contínua e, no entendimento da oposição, ilegal, da ministra em cerimônias oficiais públicas, principalmente aquelas temperadas por discursos provocadores do principal fiador eleitoral da petista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É evidente que o PSDB identifica corretamente um dos fatores que impulsionam a candidatura de Dilma. O equívoco é apostar que a curva ascendente da ministra necessariamente será interrompida no momento em que a petista se descompatibilizar do cargo. Apesar de todos os esforços de Lula e do PT e do crescimento nas pesquisas, Dilma ainda é uma ilustre desconhecida de parcelas significativas do eleitorado brasileiro. Principalmente daqueles setores menos informados e/ou formalmente instruídos que, como também revelam as pesquisas, tendem a avaliar mais positivamente o presidente Lula e seu governo do que o conjunto da população como um todo. Ou seja, a petista ainda tem margem considerável para crescer, sobretudo quando for apresentada, em cadeia nacional de rádio e televisão, como a candidata capaz de dar continuidade aos projetos do popular presidente. Não há como comparar a exposição pública da propaganda eleitoral com a de inauguração de obras Brasil afora, por mais que estas sejam, realmente, muitas, como acusa o PSDB.
O que nos leva à segunda interpretação questionável dos tucanos sobre as oscilações nas pesquisas. A de que a entrada definitiva, oficial e vigorosa de Serra colocará fim ao avanço petista junto ao eleitorado. Isso dependerá da capacidade do PSDB de impor sua estratégia e obter sucesso com ela na disputa eleitoral. É uma possibilidade, não um fato consumado. Tanto que parte dos tucanos ligados ao governador de São Paulo admite que a espera no lançamento da candidatura oposicionista está ligada a uma opção de Serra de não entrar em confronto imediato com Lula. O embate, contudo, será inevitável, por mais que o governador paulista se negue a assumir o posto de “chefe da oposição”, como ele mesmo classificou, e delegue estas funções, por enquanto, a auxiliares próximos.
Por fim, a terceira e mais duvidosa argumentação utilizada por dirigentes da oposição, a de que o crescimento de Dilma era esperado e que sua atual intenção de voto está até mesmo abaixo do patamar histórico de 30% obtido pelo PT em todo início de campanha. O PSDB ignora que Lula inverteu e ampliou radicalmente o perfil social e demográfico do voto petista. O percentual de 30% estava intimamente vinculado a um eleitorado de classe média morador de grandes centros urbanos que simpatizou com o PT durante a década de 90. Hoje, o grosso do eleitorado de Lula e, provavelmente de sua candidata, Dilma, está na população de menor poder aquisitivo do Norte e Nordeste. Não é possível afirmar que este permanece sendo o piso eleitoral petista. Infelizmente para a oposição, no entanto, tampouco deve ser o teto.
Fonte:JB
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