Ficção que agride a realidade
14.09.2013
Amor
à Vida, o folhetim que a TV Globo exibe todas as noites em horário
nobre, é uma afronta aos brasileiros. Um médico rico, adúltero, renega o
filho gay, é pai biológico do próprio neto (do qual o filho gay, casado
com uma ex-prostituta contratada pelo pai, acredita ser o genitor). Até
a semana passada, o protagonista milionário idolatrava a filha.
Orlando Pontes
Médica
como ele, mas fruto de uma relação do ricaço fora do casamento, a moça
acabou enredada num crime que não cometeu. Mas o pai, mais sujo do que
poleiro de pato, por influência do filho gay - que só pensa na herança
do pai que ainda não morreu - apóia a internação da própria filha num
manicômio para tratar de uma dependência química da qual ela não sofre, e
que ele. Ocupado com suas amantes, não teve tempo de investigar.
Tudo
isso se passa apenas numa das famílias do núcleo principal da novela.
Mas existe outro casal gay onde a traição impera. Dispostos a
"engravidar", os dois rapazes contratam uma médica para servir de
barriga de aluguel. A doutora "seduz" um dos moços, e acaba engravidando
dele pelo "método convencional".
Noutro núcleo, uma mãe,
ex-bailarina de programa de TV, sonha em ficar rica usando a filha como
isca para fisgar milionários. Vive orientando-a a dar o golpe da
barriga. A pobre, no entanto, se apaixona por um vizinho, tão
despreparado quanto ela, de quem engravida. De quebra, ele é
desempregado.
O
pai do desafortunado não poupa adjetivos como "corno" ou "piriguete"
para chamar o filho e a moçoila por quem este se derrete e aceita passar
por todo tipo de humilhação - inclusive vê-la se jogando nos braços de
qualquer um que aparente ter muito dinheiro. Ainda assim, ela vive
repetindo que é "difícil, dificílima!", ou "inteligência pura".
Esses
são apenas alguns dos "ensinamentos" que a novela global transmite para
milhões de famílias, repito, em horário nobre. Embora travestida de
ficção, a trama das nove, na verdade, segue o padrão Globo de mostrar a
sociedade e a cultura brasileiras ao mundo - lembremo-nos de que as
novelas da emissora são vendidas para dezenas de países da África e da
América Latina.
Isto
é uma afronta, repito mais uma vez. Evidentemente, o povo brasileiro
não precisa ser homofóbico (e não é!). Nossas famílias não devem ser,
obrigatoriamente, poços de virtudes (e não são!). Nossa gente não tem
obrigação de ser a mais inteligente do mundo (e não é mesmo!).
Entretanto,
também não temos gays em todas as casas, nem pais prejudicando filhos
ou irmãos trapaceando contra irmãos em todas as famílias, ou gente de
pouco estudo se prostituindo ou vendendo os filhos em troca de uma fácil
ascensão social.
Este,
com certeza, não é o perfil médio dos brasileiros. Porém, se não for
imposto algum tipo de controle sobre a programação de nossas emissoras
de TV, em especial a líder de audiência, um dia será. Lamentavelmente.
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