Miguel do Rosário: O que o governo espera para aumentar presença no debate político?
Quem tem o controle da narrativa política do governo?
Enquanto isto, a Dilma não esclarece o segredo de Fátima
Miguel do Rosário, no Tijolaço
O apagão político do governo se tornou um problema nacional. O próprio golpismo, com suas conspirações judiciais, o descontrole da Polícia Federal, a psicopatia pró-militar, tudo floresce à sombra desse apagão.
É um mistério de Fátima.
A troco de quê, por exemplo, vender o combate às distorções no seguro desemprego como “ajuste fiscal”? Se havia distorções num universo tão delicado, a única estratégia inteligente seria ressaltar as distorções, com estatísticas, infográficos, vídeos, entrevistas, reportagens, exemplos internacionais. E focar apenas nisso, ao invés de incluir isso num pacotão com uma série de outras coisas.
Associar o governo à imagem de destruidor de direitos trabalhistas, depois do que vimos na campanha no segundo turno é um exemplo raro de estupidez política.
É o PT trabalhando firme para terminar de destruir a sua própria imagem junto à sociedade. Além de um partido de “ladrões”, ele se vende agora como “traidor” da classe trabalhadora.
Resultado: o governo perdeu o último apoio que tinha do movimento sindical, sobretudo de uma já constrangida CUT, que pagou um custo altíssimo para enfrentar a onda de impeachment que a direita, com dinheiro de toda parte, com apoio de todas as mídias corporativas, promoveu nos últimos meses.
A esquerda mais radical, que andava calada, assustada com a emergência de uma direita barulhenta, arrogante, que toma as ruas de São Paulo, que tira selfies com policiais e defende intervenção militar, essa ultra esquerda, que apoiou Dilma no segundo turno de 2014, agora volta a se organizar contra o governo.
Claro que a saída não é o impeachment, nem trocar Dilma por Aécio. Dilma ganhou as eleições e ponto final. E o governo Dilma fez muita coisa boa, mas que ele só consegue mostrar durante a campanha. Terminada a campanha, o governo volta a enfiar a cabeça num buraco, e ninguém mais lembra ou sabe o que ele faz.
À oposição cabe fazer oposição e ao governo cabe governar. E à gente, aqui da planície, cabe fazer as críticas necessárias para que as coisas melhorem.
É o momento, portanto, de muita humildade e ouvir críticas de todos os lados. Ontem, por exemplo, me deparei com um tuíte do jornalista Alon Feuerwerker, que dirigiu a campanha de Eduardo Campos no ano passado, e tenta produzir uma crítica ao PT que seja dura, até mesmo radical, mas inteligente.
Se quiser sobreviver, o PT precisa ser criticado, pois boa parte dos problemas do governo nascem da crise de inteligência política dentro da legenda da presidenta. Aqui no Rio de Janeiro, isso é bem evidente. É uma crise que se avoluma faz tempo.
Por exemplo: há alguns anos, fui entrevistar o presidente da legenda no município, e o sujeito não sabia sequer o que era internet: disse que apenas usava email, de vez em quando, para ler um artigo do “Globo”… Até hoje estou traumatizado. Se fosse o presidente do PT de uma cidadezinha agrícola do interior do Piauí, e o ano fosse 1999, quando a internet ainda era pouco conhecida, tudo bem. Mas em 2000 e cacetada, na segunda maior cidade do país, ouvir o presidente da legenda que governa o país falar isso, é positivamente traumático, sobretudo para um blogueiro!
Voltando a Feuerwerker, eu comentei o seu tuíte:
A entrevista de Unger para o Globo é grotesca. É mais uma prova de que a inteligência humana apenas se prova na realidade concreta, na dinâmica da vida. O sujeito pode ter mil títulos acadêmicos, e ainda sim se portar como um asno.
As posições de Unger não tem pé nem cabeça, e são ofensivas em relação à América Latina e ao Mercosul. Sobretudo, são ignorantes, porque ignoram ou omitem que o Mercosul tem sido, nos últimos 12 anos, o grande mercado de nossos produtos industrializados. O Mercosul é que paga os melhores preços por nossos produtos.
Claro que é importante estabelecermos o máximo de parcerias possível com os EUA, uma grande potência, com um mercado de consumo de mais de 300 milhões de pessoas, mas seria estupidez esnobar a América Latina, onde nossas indústrias encontram seu melhor mercado.
E a estratégia do Mercosul deu certo!
A América Latina se desenvolveu de maneira extraordinária nos últimos 12 anos. Fomos uma das regiões do planeta que mais avançou em termos de superação da pobreza, do analfabetismo. O comércio floresceu. Algumas indústrias avançadas, como a automobilística, a naval, a aérea, cresceram de maneira formidável. Enquanto Europa e EUA se afundavam num desemprego crescente, a nossa taxa se manteve em níveis baixíssimos. Os salários mínimos, em toda a América do Sul, avançaram e registraram recordes.
E agora, diante das primeiras dificuldades, Mangabeira Unger vem se posicionar contra um Mercosul cujo maior problema é, ao contrário, nunca ter se aprofundado, nunca ter enveredado, como era seu destino, para a cultura e a política?
Por que isso acontece?
É a mesma razão pela qual o ministro Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, fala mal da política de conteúdo nacional e do regime de partilha, as principais bandeiras do governo tanto na primeira quanto na segunda eleição de Dilma.
Dilma e o PT estão perdendo o controle político da narrativa política do governo.
E por que?
Porque não se posicionam, não falam nada.
Tivemos tantas esperanças com a entrada de Miguel Rosseto na secretaria geral da Presidência da República! E, no entanto, é um zero à esquerda (esse à esquerda é quase uma ironia). Não dá uma entrevista. Não escreve um mísero twitter.
Berzoini, a mesma coisa. Antes de se eleger ministro, tinha uma presença valente nas redes sociais. Hoje, tornou-se como todos os outros petistas no governo: uma estátua muda, um daqueles guardas ingleses às portas do palácio real, motivo de piada para turistas.
Pode acontecer o que for, eles não falam nada. No máximo, dizem que querem “ouvir a sociedade”, mas qual o sentido de falar com quem não tem opinião própria?
Com um governo assumidamente de direita, ao menos poderíamos estabelecer um diálogo de confronto! A postura pusilânime do governo é, em alguns sentidos, ainda mais nociva do que um conservadorismo assumido, porque amolece os movimentos sociais ao mesmo tempo em que mantém as coisas como estão.
O exemplo, naturalmente, vem de cima. Dilma também não se posiciona. De vez em quando, muito raramente, alguém da equipe dela demonstra vivacidade, e, em momentos de alguma comoção política, como a agressão física de Roberto Freire à deputada Jandira, posta um tuíte em apoio à ela. Mas isso acontece tão raramente que cheira a oportunismo. Porque não se posiciona diariamente?
Dilma resolveu não fazer pronunciamento na TV alegando que investiria nas redes sociais. Pois bem, a sociedade está esperando. Cadê?
Edinho Silva, novo ministro da Secom, andou falando que estava trabalhando para reativar o Café com a Presidenta. Talvez tenha lido isso em algum blog. Se foi isso, ministro, lembro que não precisa repetir o nome. Pode fazer diferente. E deve, sobretudo, fazer com um formato original, com muito mais interação.
Ousem, pelo amor de deus! Chamem gente jovem, jovens de espírito sobretudo, e demonstrem coragem! Montem um conselho político progressista, sem os vícios palacianos de governo, e um gabinete de crise que trabalhe com sentido de urgência, respondendo todas as denúncias e ataques da mídia e da oposição!
Ninguém está pedindo nenhuma iniciativa jacobina, nenhum terrorismo vermelho, e sim medidas que até mesmo o mais conservador dos governos faria, a saber, um grande choque na política e na comunicação !
O que espera o governo para aumentar sua presença no debate político? Que as centrais se juntem aos coxinhas numa daquelas gigantescas marchas esquizofrênicas de junho de 2013, em que um lado pedia redução dos impostos e o outro mais investimentos em saúde e educação?
É o que vai acabar acontecendo…
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