sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ANOS DE CHUMBO - José Dirceu se defende.

Filho do ditador Médici atenta contra a verdade.

Roberto Médici, filho do general ditador de plantão no turno 1969/1975, Emílio Garrastazu Médici, em entrevista ao O Globo de hoje para a série de reportagens sobre o AI-5 que o jornal começou a publicar no último fim de semana, afirma que “dois bichos são imortais, a verdade e a liberdade”.

Mas nessa reportagem, ao me citar e a um artigo que publiquei ontem no Jornal do Brasil (acesse-o aqui no blog na seção Artigos do Zé), Roberto Médici diz textualmente: ”É irônico ler um artigo do José Dirceu sobre o AI5. Ele fugiu para Cuba, cujos muros estavam manchados de sangue derramado pelo ditador Fidel Castro. A obrigação de meu pai era reprimir os grupos armados que queriam fazer do Brasil uma grande Cuba. Mas nem por isso o presidente deixou de ser popular.”

Ninguém fugiu do Brasil, Roberto Médici! Fui preso, cassado nos meus direitos políticos por dez anos, banido do país, minha nacionalidade foi cassada, e virei um sem pátria. Aliás, a ditadura era tão "moderna" que essa figura jurídica do banimento era resgatada da legislação da época do Império!

Fui, então, um exilado por força de um ato complementar e do AI-5, assinados pelo general-ditador Emílio Garrastazu Médici (ainda na condição de chefe do SNI), que entrou para a história como o chefe do pior período dos chamados "anos de chumbo", a fase mais violenta, truculenta e arbitrária dos 21 anos de ditadura militar.

Hitler também foi popular

Mais, ainda, não fui preso por atividades armadas, mas por defender a democracia e a liberdade, sacrificadas para o general-ditador Emílio Garrastazu Médici ser “popular”, como agora seu filho sacrifica a verdade, inventando esse conto sobre a ditadura militar. Hitler também foi popular e isso não o isenta dos crimes que cometeu e nem o regime nazista de seu caráter totalitário.

Mais um pequeno detalhe: não aceitei que três generais, em nome de uma tal junta militar, decretassem que eu não era mais brasileiro e não podia mais voltar a minha pátria. Clandestino, pela Colômbia, via Bogotá, voltei do exílio e entrei no Amazonas, em Manaus, onde pisei de novo o solo brasileiro, numa das tantas vezes que entrei e sai do país para lutar pela democracia.

Pouco depois dessa volta, no 19 de novembro de 1971, assisti no Recife a cerimônia cívica comemorativa do Dia da Bandeira e chorei de emoção e tristeza pelos companheiros presos, torturados, mortos pela ditadura, nessa época presidida pelo general Emílio Garrastazu Médici.

Para a história e para vocês, meus amigos leitores, nunca é demais registrar que a tal Junta, substituta do general-presidente Costa e Silva, a quem interditaram por enfermidade, era constituída pelos oficiais generais, os ministros do Exército, general Aurélio de Lyra Tavares, da Marinha, almirante Augusto Rademaker Greenwald, e da Aeronáutica, brigadeiro Márcio de Souza Mello, denominados de "os três patetas" pelo grande timoneiro da oposição, dr. Ulysses Guimarães.
Fonte:Blog do Zé Direceu.

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