Rodrigo Martins
Quatro dias depois de anunciar o cessar-fogo unilateral e três semanas após o início da ofensiva contra o grupo islâmico Hamas, Israel completou a retirada de suas tropas da Faixa de Gaza, na quarta-feira 21. O confronto deixou 1.314 mortos e mais de 4 mil feridos e mutilados no território palestino. Do lado israelense, as baixas somaram nove soldados e quatro civis. Apesar da supremacia militar, nem mesmo o primeiro-ministro israelense Ehud Olmert se arrisca a dizer que ganhou a guerra. “Neste confronto, no fim do dia, todos nós perdemos”, afirmou no dia seguinte à retirada ao jornal israelense Jerusalem Post.
O tom conciliador da fala do premier não condiz com a lógica da guerra até agora nem com o discurso adotado por integrantes do governo de Tel-Aviv. No retorno das tropas, o líder do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Parlamento israelense, Tzachi Hanegbi, insistiu no revanchismo ao falar à Rádio do Exército. “Se os disparos forem retomados, vamos responder com tanta força e superioridade que eles vão sentir saudade do dia em que a ofensiva da Força Aérea de Israel começou”, ameaçou. A despeito da bravata, muitos analistas israelenses acreditam que a guerra foi um completo fracasso. É o caso do jornalista Gideon Levy, que foi porta-voz do ex-premier Shimon Peres e hoje escreve para o jornal Haaretz. Na sua avaliação, Israel não conseguiu cumprir nenhuma das metas da guerra. Ele lembra que os foguetes palestinos não pararam de ser lançados até o último dia de combate e que as forças de segurança israelenses estimam a existência de mais de mil deles no arsenal do Hamas. O Exército também não foi capaz de acabar com o contrabando nem conseguiu enfraquecer o grupo islâmico. “A grande maioria dos seus combatentes não foi abatida e o apoio popular à organização, na realidade, aumentou”, pontua. “Não há dúvidas sobre quem era Davi e quem era Golias nesta guerra.”
Para cumprir esses objetivos, Israel mobilizou mais de 620 mil soldados contra cerca de 20 mil combatentes do Hamas. A Força Área lançou bombas indiscriminadamente contra o 1,5 milhão de habitantes de Gaza. Do total de baixas, grupos de direitos humanos estimam a morte de ao menos 700 civis palestinos, a maioria mulheres e crianças. Além disso, 53 instalações das Nações Unidas e de organismos internacionais foram alvejadas pelo Exército, incluindo escolas e hospitais.
O ataque indiscriminado contra áreas densamente povoadas e a desproporcional reação aos foguetes do Hamas – que provocaram a morte de quinze civis israelenses entre 2001 e 2008 – isolaram ainda mais o governo de Tel-Aviv. Mesmo países com boas relações com Israel condenaram os ataques. Até os Estados Unidos, tradicionais aliados, abstiveram-se do poder de vetar a Resolução nº 1.860, pelo Conselho de Segurança da ONU, a exigir o cessar-fogo imediato do conflito em 9 de janeiro, dez dias antes de Olmert anunciar a retirada das tropas. No momento, a União Européia pressiona o governo israelense para que o país estabeleça um cessar-fogo acordado com os palestinos. Os diplomatas europeus também propõem a retirada do bloqueio sobre Gaza, bem como a abertura das fronteiras.
Fonte: Carta Capital.
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