Pedro Porfírio.
Sérgio Nogueira Lopes
“Semana passada, vi as nuvens de fósforo branco sobre as quais os médicos escreveram e as quais condenaram. De um prédio alto na cidade de Gaza, a vista panorâmica mostrou uma linha de veneno que se espalhava, a Leste. O químico queima profundamente, no osso, dizem os especialistas. É considerado um instrumento de guerra ilegal, que não pode ser usado em áreas civis. Ainda assim, os registros de seu uso crescem: uso pesado na região Khosar, Leste de Khan Younis, e no Noroeste de Gaza, e na parte Leste de Jabalyia, Sheik Zayid, Sheik Rajleen, al-Zaitoun, em todos os lugares.”
Eva Bartlett, canadense, vinculada à defesa dos direitos humanos. Se já é difícil imaginar o que Barack Hussein Obama poderá fazer para concretizar suas promessas de mudança nos Estados Unidos, mais imprevisível ainda será avaliar sua capacidade de decidir em relação ao Oriente Médio, sob controle de um estado biônico programado para o genocídio a varejo e a expansão a ferro e a fogo.
Disposição de fazer algo diferente ele já demonstrou. Logo que assumiu ligou para o primeiro-ministro de Israel e o presidente da Autoridade Nacional Palestina. No mesmo momento, reafirmou a disposição de retirar as tropas norte-americanas do Iraque num “prazo responsável”.
Dois dias depois da posse, designou o ex-líder democrata no Senado, George Mitchell, como seu representante pessoal com poderes de negociar um plano de paz para a região. Teve o cuidado também de confiar a Richard Holbrooke, ex-embaixador na ONU, a tarefa de trabalhar na conturbada região do Afeganistão.
Era o que lhe cabia fazer na condição de expoente de uma nova política externa nos Estados Unidos da América do Norte, país que acumula uma gigantesca dívida moral com o resto do mundo em face de sua irrefreável sanha de poder e dominação.
Os limites visíveis
Mas o que advirá desse novo olhar adotado por um governante atípico, que emergiu da noite para o dia como a catártica resposta de um povo manipulado séculos a fio por uma elite ambiciosa e inescrupulosa?
Por tudo o que vivemos até estes dias traumáticos, é-me de todo impossível acreditar que se consiga alguma coisa em termos de paz num contexto em que o Estado imposto está armado até os dentes, com a disposição de estabelecer seus tentáculos por todo o território que vai do Mediterrâneo ao Iraque, segundo sua “predestinação bíblica”.
Pelas funções de comandante-em-chefe de uma potência forjada na dominação de outros países, Barack Obama tem limites muito visíveis no desempenho de seus projetos.
Tais limites são guardados por um sistema de força, no qual as grandes empresas são ostensivamente hegemônicas em relação ao poder público. Este é apenas uma ferramenta dos interesses particulares e pode muito pouco, à medida que até o banco central, regulador da economia, é uma sociedade privada.
Uma visualização mais acurada demonstrará a existência de condicionamentos tão sedimentados que não seria exagero apontar Estados Unidos e Israel como duas faces da mesma moeda.
Isto porque, como já demonstrei anteriormente, o estado sionista não é uma obra de judeus, mas de ambiciosos homens de negócios, que adotaram o livro de Theodor Herz, o sonhador austríaco, como peça de camuflagem de um projeto iniciado 14 anos antes de sua publicação.
Não é por acaso que existem ainda hoje mais judeus nos Estados Unidos do que no Oriente Médio, apesar da proclamação de David Ben-Gurion, o pai do estado sionista, de que esse país criado na terra dos outros só cumprirá sua finalidade histórica no dia que todos os 17 milhões de judeus forem para lá.
Dentro do jogo de poder que resultou da herética decisão da ONU de criar um Estado soberano ferindo a soberania dos outros, há conflitos internos insanáveis.
Pode até ser que uma meia dúzia de judeus idealistas tenha acreditado num projeto de grande alcance para a humanidade, com a produção de uma verdadeira revolução social na área subjugada pelos senhores feudais e chefes tribais que escravizavam o próprio povo e compunham docilmente com as potências estrangeiras, fossem os muçulmanos turcos ou os cristãos do Ocidente.
Estado perverso
Mas o Estado de Israel que vingou é um monstro sobre o qual não vai ser um presidente sonhador que terá autoridade. Ao contrário, segundo o projeto multifacético nutrido por interesses econômicos ilimitados e ressentimentos enraizados, não restará a Barack Obama senão a ilusão de tréguas transitórias.
Na origem desse estado imposto há um complô denunciado pelo autor judeu Barry Chamish como fruto da determinação das “famílias inglesas judaico-maçônicas como os Rothschilds e Montefiores, que forneceram o capital para construir a infraestrutura para a onda de imigração antecipada” e contribuíram para criar um clima que levasse os judeus europeus a se mudarem para a região cobiçada.
Aí cabe reconhecer que o sentimento de combate já motiva os palestinos, submetidos a 60 anos de esbulhos, privações e todo tipo de sofrimento e humilhação. Não adianta o galileu Mahmoud Zeidan Abbas sentar para conversar com os genocidas que há décadas massacram o povo palestino.
Ao seu povo, de índole pacífica, não resta outra alternativa senão correr atrás do prejuízo em ações extremas, que incluem o sacrifício da própria vida no transporte de bombas amarradas ao corpo.
Foram tantas e tais as perversidades cometidas pelos falcões israelenses que hoje nem o carismático Yasser Arafat, morto em circunstâncias suspeitas, teria como conter a ira de um povo que, sem exceção, veste luto pela morte de um ente querido, atingido pelos petardos letais da poderosa aviação sionista.
Em seu saco de maldades, os celerados de Israel foram muito além dos nazistas, seus algozes, responsáveis pelo sentimento de repasse da crueldade. A violência contra a população árabe não está expressa apenas nas milhares de bombas despejadas indiscriminadamente.
Água em contagotas
O que o governo sionista fez com a água da região é uma demonstração de tortura explícita. Israel simplesmente apropriou-se de todas as reservas hídricas, incluindo as fontes do rio Jordão junto às colinas de Golã, tomadas da Síria em 1967.
Na década de 90, o professor Haim Gvirtzman, da Hebrew University, admitiu que dos 600 milhões de metros cúbicos de água retirados anualmente de fontes na Judéia e Samaria, os israelenses ficavam com mais de 500 milhões.
Já então, Israel detinha o monopólio dos recursos hídricos de toda a região, retendo 90% e liberando apenas o mínimo necessário para o consumo urbano dos palestinos.
Esse monopólio inclui a bacia do rio Jordão (o alto Jordão e seus tributários), o mar da Galiléia, o rio Yarmuk e o baixo Jordão, bem como as águas subterrâneas de 3 grandes sistemas de aquíferos: o da Montanha (totalmente sob o solo da Cisjordânia, com uma pequena porção sob o Estado de Israel), o de Basin e o Costeiro que se estende por quase toda faixa litorânea israelense até Gaza.
Como pode um presidente de um país cujos magnatas são da mesma cepa dos israelenses questionar qualquer uma das violências consumadas para eliminar os legítimos donos da terra que usurparam? Que tipo de paz ele poderá obter enquanto os palestinos, legítimos donos da terra, já não podem nem mais usar a própria água para o seu cultivo?
Ou será que essa crise depressiva reduziu o poder de fogo dos donos do mundo, abrindo o flanco do mais irresistível lobismo?
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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