segunda-feira, 9 de março de 2009

OS "CHICAGO BOYS" DE OBAMA.

Blog Informação Alternativa

Naomi Klein;

Barack Obama esperou apenas três dias depois da saída de Hillary Clinton da corrida para declarar, na CNBC: «Olhe, eu sou uma pessoa favorável ao crescimento, ao livre-mercado. Adoro o mercado.»

Para demonstrar que não se tratou de um mero floreio de Primavera, nomeou Jason Furman, de 37 anos, para chefiar a sua equipa de política económica. Furman é um dos mais importantes defensores da Wal-Mart, ungindo a empresa como uma «história de sucesso progressista». Durante a campanha, Obama criticava Clinton por fazer parte do conselho de administração da Wal-Mart e declarava: «Não comprarei ali». Para Furman, contudo, são os críticos da Wal-Mart a verdadeira ameaça: os «esforços para que a Wal-Mart eleve os salários e benefícios» estão a criar «danos colaterais» que são «demasiado grandes e prejudiciais para os trabalhadores e para a economia de forma mais ampla, para que eu me sente preguiçosamente e cante “Kum-Ba-Ya” no interesse da harmonia progressista».

Os amores de Obama pelos mercados e o seus desejo de “mudança” não são inerentemente incompatíveis. «O mercado saiu do equilíbrio», diz, e muito certamente saiu. Muitos remontam este profundo desequilíbrio às ideias de Milton Friedman, que desencadeou uma contra-revolução contra o New Deal do seu poleiro no departamento de Economia da Universidade de Chicago. E aqui surgem mais problemas, porque Obama – que ensinou direito na Universidade de Chicago durante uma década – está profundamente entranhado pela tendência conhecida como Escola de Chicago.

Ele escolheu como principal conselheiro económico Austan Goolsbee, economista da Universidade de Chicago do lado esquerdo de um espectro que se detém no centro-direita. Goolsbee, contrariamente aos seus colegas mais friedmanistas, vê a desigualdade como um problema. Contudo, a sua principal solução é mais educação – uma linha que também é seguida por Alan Greenspan. Na sua cidade natal, Goolsbee tem ligado avidamente Obama à Escola de Chicago. «Se olharmos para a sua plataforma, para os seus conselheiros, para o seu temperamento, o homem tem um saudável respeito pelos mercados», disse à revista Chicago. «Está no ethos da [Universidade de Chicago], o que é algo diferente de dizer que ele é laissez-faire».

Outro dos fãs de Chicago de Obama é o bilionário Kenneth Griffin, de 39 anos, CEO do fundo especulativo Citadel Investment Group. Griffin, que deu a maior doação permitida a Obama, é uma espécie de homem-poster de uma economia desequilibrada. Ele casou em Versailles e teve o copo-de-água no local de férias de Marie Antoinette (com actuação do Cirque du Soleil) – e é um dos mais convictos opositores a fechar as brechas legislativas que favorecem os fundos especulativos. Enquanto Obama fala sobre endurecer as regras comerciais com a China, Griffin tem contornado as poucas barreiras que existem. Apesar das sanções que proíbem a venda de equipamento de polícia à China, o Citadel tem vindo a despejar dinheiro em controversas empresas chinesas de segurança que estão a submeter a população local a níveis sem precedentes de vigilância.

Agora é o momento de nos preocuparmos com os Chicago Boys de Obama e o seu compromisso de desviar as tentativas sérias de regulação. Foi nos dois meses e meio entre a vitória na eleição de 1992 e a posse que Bill Clinton fez uma viragem de 180 graus na economia. Ele tinha feito campanha prometendo a revisão do NAFTA, acrescentando medidas trabalhistas e ambientais e o investimento em programas sociais. Mas duas semanas antes da posse, encontrou-se com o então chefe da Goldman Sachs, Robert Rubin, que o convenceu da urgência de abraçar a austeridade e mais liberalização. Rubin disse à PBS: «Na verdade, o presidente Clinton tomou a decisão antes de entrar na Sala Oval, durante a transição, no que foi uma mudança dramática na política económica».

Furman, um dos principais discípulos de Rubin, foi escolhido para dirigir o Projecto Hamilton da Brookings Institution, o think tank que Rubin ajudou a fundar para defender a reforma, em vez do abandono, da agenda de livre-comércio. Juntem a isso a reunião de Fevereiro de Goolsbee com funcionários do consulado canadiano, que deixou a impressão de que tinham sido instruídos para não levar a sério a campanha anti-Nafta de Obama, e há todos os motivos para o receio de que ocorra uma repetição de 1993.

A ironia é que não há absolutamente nenhuma razão para este retrocesso. O movimento desencadeado por Friedman, introduzido por Ronald Reagan e fortificado sob Clinton, enfrenta uma profunda crise de legitimidade em todo o mundo. Em nenhum lugar isto é mais evidente que na própria Universidade de Chicago. Em meados de Maio, quando o presidente da Universidade, Robert Zimmer, anunciou a criação do Instituto Milton Friedman, de 200 milhões de dólares, um centro de investigação económica virado para a continuação e a ampliação do legado de Friedman, irrompeu uma controvérsia. Mais de 100 membros da faculdade assinaram uma carta de protesto. «Os efeitos da ordem global neoliberal que foi posta em prática nas décadas recentes, fortemente sustentada pela Escola de Economia de Chicago, não foram de forma alguma inequivocamente positivos», declara a carta. «Muitos poderiam argumentar que foram negativos para grande parte da população mundial».

Quando Friedman morreu, em 2006, estas corajosas críticas ao seu legado ficaram largamente ausentes. Os memoriais idolátricos só falaram de grandes feitos, com uma das mais importantes apreciações publicada no New York Times – escrita por Austan Goolsbee. E no entanto agora, apenas dois anos depois, o nome de Friedman é visto como um perigo, mesmo na sua própria alma mater. Então, por que Obama escolheu este momento, quando caíram todas as ilusões de consenso, para seguir a antiquada Chicago?

As notícias não são todas más. Furman afirma que vai usar o saber de dois economistas keynesianos: Jared Bernstein, do Instituto de Política Económica, e James Galbraith, filho do némesis de Friedman, John Kenneth Galbraith. A nossa «crise económica actual», disse Obama recentemente, não veio do nada. É a «conclusão lógica de uma filosofia cansada e equivocada que dominou Washington por demasiado tempo».

É bem verdade. Mas antes que Obama possa purgar Washington do flagelo do friedmanismo, tem também de fazer alguma limpeza ideológica na sua própria casa.

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