Por Luciano Martins Costa
De repente, a imprensa descobre que o Senado da República tinha nada menos do que 181 diretores. Como são 81 os senadores, então temos mais de um diretor para cada senador.
Há diretores para assuntos como administração de residências, licenciamento de automóveis, e até um diretor de check-in, para assegurar os embarques de suas excelências em suas viagens para as chamadas bases eleitorais. Ah, e tem até um diretor de autógrafos!
Afinal, onde se escondiam tantos diretores antes de serem descobertos?
São muitos motivos de escândalo em uma só notícia. Primeiro a obviedade do inchaço que caracteriza a gestão do Congresso Nacional. Ali se juntam as maiores sinecuras do país, apoiadas numa estrutura de cargos inventados apenas para garantir os altos proventos dos apaniguados. Segundo, o fato de que, nas sucessivas legislaturas, ninguém percebeu a proliferação de diretorias. Terceiro, o Legislativo não tem uma corregedoria de fato, e somente se movimenta quando as falcatruas chegam ao conhecimento público.
Pois que fique o público sossegado: o presidente do Senado, José Sarney, vai moralizar os costumes. Ele assinou um convênio com a Fundação Getulio Vargas para reorganizar o modelo administrativo da casa. Mas a auditoria deve demorar pelo menos seis meses somente para completar o diagnóstico.
Será que o interesse da imprensa no assunto suporta tanto tempo?
Olho vivo
Talvez fosse o caso de ir cortando desde já os exemplos mais escabrosos, mas para isso também é preciso que a imprensa faça as perguntas pertinentes. Ainda agora, por exemplo, a Câmara está estudando o fim das verbas indenizatórias, mas os deputados querem que o valor seja somado aos seus salários.
A imprensa precisa manter os olhos bem abertos. Afinal, a atual onda de revelações sobre os abusos no Congresso começou quando os jornais redescobriram o castelo do deputado Edmar Moreira, quando ele foi nomeado corregedor da Câmara.
Se o próprio Legislativo não se interessa em manter um mínimo de respeito pelos valores que lhe são confiados, fica-se nas mãos da imprensa. E como se viu em pouco mais de dois meses, não se pode deixar que o poder público cuide de si mesmo. É preciso que o público esteja sempre cuidando do poder.
Fonte:Observatório da Imprensa.
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