quinta-feira, 12 de março de 2009

PELO DIREITO À PRODUÇÃO E AO CONSUMO DE COCA.

Blog do Sakamoto, por Leonardo Sakamoto


Brasília - Há mais de 3 mil anos, os povos andinos já mascavam a folha de coca, seja para amenizar os efeitos da altitude, reduzir o cansaço ou outras finalidades medicinais. Em certa medida, é equivalente ao café, que serve de estimulante ou revigorante em todo o mundo. Em sua forma natural, não tem os efeitos da cocaína, obtida através de um processo químico de refino.

Posso falar isso por experiência própria, por já ter mascado folhas de coca na Bolívia. Bem mais saudável do que tomar uma dose de uísque, um copo de cerveja ou fumar um cigarro e outras drogas consideradas legais, mas que causam danos ao organismo e deixam multinacionais ricas. Além de destruir comunidades, explorar trabalhadores e o atingir o meio ambiente por impactos não-controlados em suas cadeias proutivas.

Mesmo representando um símbolo da cultura de um povo, o cultivo da coca é durante condenado pela política norte-americana de combate às drogas, que tem pressionado pela eliminação dessas lavouras na América do Sul. Como se isso resolvesse o problema de demanda por psicotrópicos pelos Estados Unidos…

Em reunião da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, hoje em Viena, o presidente boliviano Evo Morales mastigou folhas de coca em frente aos ministros de mais de 50 países para defender que a planta seja retirada da lista de entorpecentes proibidos, organizada por uma convenção internacional de 1961. Tem esperança de que o mundo evoluiu de lá para cá.

Morales, que também é líder cocaleiro, defendeu o combate à cocaína e refutou a pecha de narcotraficante dado a produtores dessa planta. “Isto é uma folha de coca, não é cocaína. Não é possível que esteja na lista de entorpecentes da ONU”, disse. Foi aplaudido.

Acho quase impossível o governo dos Estados Unidos, mesmo sob uma administração mais progressista como a de Barack Obama, mudar sua política ineficaz e violenta de guerra contra as drogas. Ou deixar que ocorra alguma alteração em convenções internacionais sobre o tema. Quando se pode confortavelmente jogar a culpa em um inimigo externo por um problema interno, para que mudar?

Enquanto isso, mesmo considerado um louco pelas elites dos países vizinhos, ele vai cumprindo um papel histórico ao atuar para derrubar estigmas contra seu povo. Espero que seu gesto incomode muita gente.
Fonte:Blog do Sakamoto.

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