Denise Maia
Jornal `A Verdade`
A campanha nacional `O Petróleo tem que ser nosso`, liderada por diversos setores da sociedade brasileira, tornou-se uma questão fundamental para a soberania nacional diante da geopolítica do petróleo no mundo. Precisamos penmanecer vigilantes e com as nossas bandeiras de luta empunhadas diante da voracidade do capital estrangeiro que quer, à força, tomar o petróleo brasileiro do pré-sal. Contra esses interesses estrangeiros por nossas riquezas, diversas entidades, partidos políticos, estudantes e trabalhadores foram às ruas do Centro do Rio de Janeiro, no final do ano passado, se manifestar contra o 10 leilão. Prontamente, a PolíciaMilitar reprimiu violentamente essa manifestação em defesa do patrimônio público. Essa repressão demonstra a força que as empresas estrangeiras têm sobre o governo brasileiro. Mas a repressão não intimidou as entidades, que decidiram continuar com a campanha `O Petróleo tem que ser nosso`.
Para um aprofundamento dessas questões, A Verdade conversou com Fernando Siqueira, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).
A décima rodada do leilão de licitação de blocos de petróleo e gás ocorreu porque a Agência Nacional de Petróleo (ANP), encarregada de realizar os leilões, é hoje praticamente dirigida pela Halliburton, uma empresa norteamericana que foi mentora da Guerra do Iraque, onde faturou mais de 200 bilhões de dólares sem concorrência. A Halliburton indicou Nelson Narciso para o cargo de diretor de Exploração e Produção da ANP e para gerenciar os leilões e o Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP). Logo que assumiu a direção da ANP, Narciso realizou o 8° leilão e tentou impedir que a Petrobrás participasse com um percentual maior que 8% ou 11 %, dependendo da região, o que significaria que, se a empresa comprasse um bloco no pré-sal, não poderia comprar outro. A Aepet conseguiu suspender o leilão por meio de uma liminar. O interesse da ANP de manter os leilões existe porque o marco regulatório brasileiro é extremamente favorável às empresas estrangeiras.
O governo reconheceu que o marco regulatório é ruim, retirou o bloco do 9° leilão e nomeou uma Comissão lnterministerial para analisar uma proposta de modificação. Mesmo assim, a ANP manteve a política de realizar os leilões, na mesma postura de desobediência civil ao Governo, ao Congresso Nacional e a todos os brasileiros. .
`Essa deliberação da ANP de defender os interesses antinacionais ocorre porque existem pressões externas sobre o governo brasileiro, que de certa forma o paralisa`, explica Fernando Siqueira. O presidente da Aepet aponta três fatos concretos que retratam essas pressões externas sobre _ governo brasileiro.
O primeiro é a reativação da Quarta Frota da Marinha Americana, que, na melhor das hipóteses, atua com a finalidade de pressionar psicologicamente o governo brasileiro para que ele se enquadre e mantenha o marco regulatório feito por FHC, que é absolutamente favorável aos EUA e às empresas norteamericanas.
O segundo fato é que o governo chegou a suspender os 41 blocos do 9° leilão e constituiu uma Comissão lnterministerial para propor um novo marco regulatório. O ministro de Minas e Energia Edison Lobão chegou a anunciar empresas.
As companhias atualmente existentes (Esso, Chevron, Shell, Texaco e BP) terão menos de cinco anos de vida se a situação de suas reservas permanecerem baixando. Hoje, essas reservas baixaram para 3 % das reservas mundiais contra 65% que se encontram em poder das Oito Irmãs, empresas estatais e mistas. São elas: Saudi Aramco (Arábia Saudita), lnoc (Irã), Petrochina (China), Petronas (Malásia), Gazprom (Rússia - renaéionalizada), Petrobras (Brasil), PDVSA (Venezuela) e Pemex (México). Por conta desse cenário petrolífero, as pressões sobre o governo brasileiro tendem a aumentar.
Para Siqueira, a crise mundial é oportuna para os EUA pelos seguintes motivos: O primeiro seria o fato de gue o dólar estava em processo de desvalorização no mundo inteiro, em conseqüência de uma situação que perdurava desde a década de 1970, quando o então presidente dos EUA, Richard Nixon, eliminou unilateralmente a obrigatoriedade de lastrear o dólar com o ouro (1971). Estima-se que tenham sido emitidos até então três trilhões de dólares. De 1971 até os dias de hoje, a estimativa é que 48 trilhões de dólares foram emitidos, dos quais 45 trilhões não possuíam lastro, e
não tinham garantia. Então os demais países estavam mobilizados para mudar essa situação. Começaram assim a esvaziar o dólar, que chegou a cair no mundo inteiro (no Brasil chegou a R$ 1,55). Essa desvalorização do dólar iria destruir a economia americana. Os EUA levam uma vantagem enorme sobre os demais países por emitirem uma moeda, sem lastrear, sem nada gastar em contrapartida; simplesmente emitem papel e com ele compram bens, serviços, tudo.
`É uma vantagem extraordinária afirma Siqueira. - Se essa vantagem fosse eliminada, os EUA não teriam os recursos naturais de que precisa, pois são um grande importador, só possuem tecnologia, ficariam em difícil situação. A crise levou os investidores para os títulos do tesouro americano, que são considerados no mercado um ativo mais seguro, e, com a venda desses títulos, o dólar cresceu, o dólar ressuscitou`.
O segundo ponto da análise se refere ao crescimento da China, que ameaçava os EUA porque estava se tornando um país mais ativo no mercado internacional de bens, serviços etc. A China, segundo algumas revistas especializadas, em 2015 ultrapassaria os EUA no comércio internacional. Então a crise freou o crescimento chinês.
O terceiro ponto dessa reflexão está ligado ao freio dos Fundos Soberanos, que são tratados como nacionalismo de recursos. O novo poder geopolíticos dos_produtores, de petróleo e gás, que se estende do Oriente Médio à América Latina, da antiga União Soviética à África. `Trata-se de uma decisão estratégica de países com recursos energéticos para usá-Ios em seu próprio desenvolvimento, em vez de otimizar as receitas das empresas`, na análise de Roger Tissot, analista do mercado de petróleo para a PFC Energy, de Toronto, Canadá.
No Fórum Econômico de Davos de 2008, a principal discussão girou em torno desses fundos. Os investidores estavam preocupados com o crescimento deles, que estavam no processo de superar o montante do sistema financeiro em circulação e, no momento que isso ocorresse, o sistema financeiro perderia a capacidade.de especular, de dirigir o mercado financeiro a seu favor e ganhar mais dinheiro que os demais segmentos.
Com a crise e a queda do petróleo para um terço do seu preço, a principal fonte dos fundos soberanos diminuiu drasticamente, o que favoreceu o sistema financeiro dos EUA e da Inglaterra, onde estão concentrados.
O quarto ponto está conectado diretamente à questão do petróleo, por causa do pico de produção mundial e, portanto, do terceiro e irreversivel choque do petróleo, que estava prestes a ocorrer, dei -xando os EUA numa situação extremamente complicada, pois eles importam cinco bilhões de barris por ano. Com o petróleo a 150 dólares, os Estados Unidos gastavam 750 bilhões de dólares anuais só com o óleo. Com a queda do barril para 40 dólares, houve um alívio brutal na economia americana, que tem uma dívida externa de 13 trilhões de dólares. Os gastos com a guerra no Oriente Médio, com mais esses 750 bilhões de dólares por ano, com tendência a aumentar, seriam uma catástrofe econômica, a qual foi reduzida com a queda da cotação do barril.
Segundo Siqueira, essa derrubada do petróleo é temporária: `E uma derrubada estratégica, em que o viés do petróleo é de subida, porque nós não deixamos de estar no terceiro choque, nós não deixamos de estar nos aproximando do pico de oferta, a partir do qual a oferta vai cair drasticamente, enquanto a demanda continuará crescendo. A defasagem entre a oferta e a demanda vai começar agora, e nós já estamos hoje produzindo a mesma coisa que consumimos no mundo inteiro, mesmo que haja uma redução de consumo, como aconteceu nos EUA, que reduziu em 8% seu consumo. Por outro lado - avalia -, os investimentos para colocar em funcionamento as fontes descobertas também diminuíram. Assim, segundo dados da ANP de dezembro, a crise não .aliviou o problema do terceiro choque porque os investimentos na produção também caíram`.
No caso do Brasil, a situação é diferente com o pré-sal, onde se encontra o ouro negro, muito acima do que se imaginava: cerca de 90 bilhões de barris de petróleo, uma quantidade inimaginável em recursos.
Fernando Siqueira faz um alerta à nação brasileira: `Precisamos preservar as nossas riquezas. E preciso que a sociedade brasileira se conscientize de que essa é a segunda chance que nós temos de ser um país rico, sair do sufoco, sair da miséria, de acabar com os mais de 60 milhões de miseráveis. A primeira chance foi quando Portugal levou o nosso ouro; agora nós temos a segunda e última chance. Antes, quando o petróleo era apenas um sonho na década de 1940 e 1950, a sociedade se mobilizou e realizou o maior movimento .cívico da história deste pais`.
`O petróleo era um sonho, agora é uma feliz realidade, uma realidade auspiciosa, maior do que a gente imaginava. Então agora temos todos os motivos para defender o petróleo como nosso, porque é uma coisa concreta, palpável, que nos pertence, pela Constituição Brasileira, que nos pode levar a uma total independência. `
A camada pré-sal é um gigantesco reservatório de petróleo e gás natural, localizado nas Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo (região litorânea entre os estados de Santa Catarina e o Espírito Santo). Estas reservas estão localizadas abaixo da camada de sal (que podem ter até 2 km de espessura). Portanto, se localizam de cinco a Sete mil metros abaixo do nível do mar.
Estas reservas se formaram há aproximadamente 1 00 milhões de anos, a partir da decomposição de materiais orgânicos. Os técnicos da Petrobrás ainda não conseguiram estimar a quantidade total de petróleo e gás natural, mas acredita-se que é de aproximadamente 90 milhões de barris de petróleo.
Publicado originalmente no Jornal A Verdade - Edição 103(Março/2009.
Fonte:AEPET.
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