Eduardo Guimarães
Acho importantíssimo avaliar friamente os números sobre a popularidade de Lula que foram divulgados na última sexta-feira pelos institutos Datafolha e Ibope. Tentarei fazer isso de forma realista e desapaixonada.
Acredito que entender a realidade, seja ela como gostamos ou não, é o melhor que se pode tentar fazer mesmo quando se acredita que essa realidade seria melhor assim ou assado, pois querendo manter ou mudar as coisas, primeiro se tem é que saber que coisas são essas sobre as quais se quer influir.
Estamos vivendo um processo bastante complicado no Brasil porque o mundo está vivendo esse processo e este país fica nesse mundo. As coisas mais óbvias às vezes têm que ser ditas, sabe-se lá por que.
Minha saudosa vovozinha já dizia que “Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão”. Pois é, quando o bolso dói, meus amigos, dá nisso aí.
Mas, no Brasil, a política está virulenta não apenas por causa da crise. Ela já vinha virulenta desde que estávamos nadando em empregos, negócios e aumento de renda, há alguns meses.
Eu fico me perguntando por que a luta pelo poder está tão acirrada se o governo Lula está sendo tão bom para as elites quanto elas dizem que está. Será que a mídia e os banqueiros do PSDB e do PFL acham que Lula é tão bom assim mesmo?
Venha à zona Sul de São Paulo, aos Jardins, a Moema, ao Itaim Bibi, a Higienópolis e diga o nome de Lula. O ódio é tão denso que pode ser pego com as mãos.
Porém, as pesquisas Datafolha e Ibope revelaram dados surpreendentes que não estão sendo levados em conta.
Não passarei agora a reproduzir um monte de tabelas a vocês. Não darei percentuais. Vocês podem ir ao site do Datafolha e checar por vocês mesmos, ainda que o site da CNI e o link da pesquisa que o Ibope lhe fez, não estejam funcionando.
O interessante é que Lula perdeu aprovação entre os mais pobres e incultos e manteve a aprovação inalterada entre os mais ricos e cultos. Coisa de 60% de aprovação. Um espanto.
Estão levantando suspeitas sobre as pesquisas. Eu não teria dificuldade de achar que foram manipuladas, porque, como sabem meus leitores mais antigos, há anos que afirmo que a mídia, que é dona dos institutos todos, já fraudou pesquisas.
Não se descarta a necessidade de o governo Lula encomendar pesquisas paralelas às que foram divulgadas, mas acredito que se fosse necessário fazer uma recomendação dessas ao PT e ao próprio governo, quem apóia esse partido e o presidente Lula estaria frito. Teríamos um governo e um partido do governo compostos por descerebrados que jamais poderiam ter conduzido o país como conduziram até aqui e muito menos teriam conseguido chegar ao poder.
Mas será que eu estarei sendo exageradamente óbvio se disser que, se algum instituto que faça pesquisa para o governo tiver detectado dados diferentes, esses dados precisam ser divulgados logo?
E se alguém tiver notícias sobre uma reunião de caciques tucanos e pefelistas com donos de meios de comunicação e de institutos de pesquisa, essa pessoa deveria denunciar logo isso. Vocês não acham?
No final de 2005, Lula caiu nas pesquisas do Datafolha e do Ibope. Então, em janeiro de 2006, veio o CNT-Sensus e mostrou um quadro totalmente diferente. Lula começava a subir inexplicavelmente...
É história. Não vou discutir com ninguém. Quem achar que não foi assim, que vá verificar.
O fato é que, agora, pode até ter havido uma forçada de mão, mas não acho que tenha sido só isso. Seria uma atitude totalmente alienada achar que as centenas de milhares de demissões que ocorreram não fariam as pessoas demitidas, seus amigos e seus familiares ficarem contra Lula. E esse universo de pessoas chega aos milhões.
A questão é uma só: a economia. Se continuar a recuperação do nível de emprego verificada em fevereiro e que está acontecendo em março, e se a produção industrial e as vendas no varejo continuarem crescendo, em questão de semanas as coisas poderão mudar muito.
Temos o fator mídia. O bombardeio de más notícias econômicas e a ocultação das boas, é incessante. A mídia cria um clima de desânimo no país. Quem poderia começar a consumir ou contratar, fica com medo.
A questão é saber até que ponto. As pesquisas Datafolha e Ibope deram conta de que aumentou o número de assustados, mas também deixou ver que o número de confiantes ainda é alto.
Se todo estrago entre os mais suscetíveis à mídia já tiver sido feito, se o emprego se estabilizar e começar a se recuperar, o país pode dar um salto enorme no cenário internacional e a volta da direita ao poder estará irremediavelmente barrada.
Se o alarmismo começar a ganhar corpo – e de algumas semanas para cá, vinha perdendo consistência –, tudo pode mudar para pior, pois o efeito dominó importará a crise.
Claro que tudo isso só é válido, também, dependendo do cenário externo. Se as coisas continuarem piorando, pode ser que não existam bons fundamentos econômicos que segurem a onda.
Por outro lado, uma eventual recuperação, por tênue que seja, lá fora, fará o Brasil acelerar como um bólido de Fórmula Um. Daí, não haverá alarmismo que dê conta. O Brasil é um cavalo selvagem sempre pronto a disparar. Só se consegue conter o seu ímpeto, dopando-o.
Enfim, era isso aí que eu tinha para lhes dizer, por hora.
Fonte:Blog Cidadania.com
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