Mário Augusto Jakobskind.
A alta classe média venezuelana que odeia o presidente Hugo Chávez conseguiu dar um tiro pela culatra. A história, praticamente desconhecida pelo público porque não foi divulgada, envolve contas bancárias e a crise econômica.
Envenenados pela mídia conservadora local, o que os jornalões e televisões brasileiras repetem diariamente, venezuelanos de alto poder aquisitivo decidiram confiar seu dinheiro à sucursal em Caracas do banco texano Stanford Financial Group. Eles acreditavam que os recursos estariam mais seguros do que nos bancos venezuelanos. E o que aconteceu? Depois de algum tempo, a Comissão de Valores dos Estados Unidos denunciou o Stanford Financial Group por um esquema gigantesco de fraude no valor de oito bilhões de dólares envolvendo transferência para o exterior.
A irresponsabilidade midiática, o tal esquema de fazer cabeças com mentiras e meias verdades, que os brasileiros conhecem bem, principal estimulador no sentido dos venezuelanos confiarem no Stanford, levou os correntistas a se arrebentarem. Correram atrás da fantasia do lucro fácil e da suposta segurança financeira, investiram em certificados de depósitos fraudulentos. Acabaram perdendo cerca de dois bilhões de dólares com a falência do Stanford, segundo informações mantidas quase em sigilo.
Mas a mídia hegemônica, que não se conforma com as transformações que estão ocorrendo na República Bolivariana, prefere linchar Chávez a noticiar fatos, como, por exemplo, o informe da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), uma das cinco comissões econômicas regionais das Nações Unidas, segundo o qual de 1998 (quando Chávez se elegeu pela primeira vez), até 2008 a taxa de pobreza caiu de 54% para 26% da população.
Nestes dias, na base da técnica do dividir para governar, vários jornais, a começar pelo espanhol El Pais, “informaram” que o presidente Barack Obama e Lula fariam um grande acordo no sentido de o Brasil substituir a Venezuela nas importações estadunidenses do petróleo. Em seguida, O Globo não fez por menos ao assinalar em um editorial que “o Brasil deve credenciar-se como uma voz sensata na América do Sul”. O alvo, claro, foi o “caudilho” Chávez, que, segundo o jornal, enfrenta uma “grave crise” e está precisando da “mediação” de Lula com Obama.
E vocês acham que as análises da mídia conservadora antichavista são mera coincidência?
Há 45 anos, na antevéspera do golpe que derrubou o presidente João Goulart, os mesmos jornais que hoje expressam seu ódio a Chávez e a revolução bolivariana estavam numa cruzada para fazer cabeças contra a ordem constitucional. Deu no que deu.
Guardando-se as devidas proporções, toda vez que o esquema conservador se sente ameaçado, esta mesma mídia hegemônica põe as mangas de fora. Ou seja, o antichavismo desses espaços midiáticos pode ser melhor entendido neste contexto.
Enquanto isso, a crise econômica, que tem como epicentro os Estados Unidos, segue o seu curso deixando boa parte dos analistas meio como cegos em tiroteio. Insistem em situar o que está acontecendo como algo provisório e afeto apenas ao âmbito financeiro. Claro, os defensores do ideário do Estado mínimo querem porque querem convencer a opinião pública que em breve a maré adversa vai passar e tudo voltará ao leito natural.
A propósito de leito natural, nas últimas semanas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem aparecido nos mais diversos espaços com declarações professorais sobre a crise. Critica o governo atual, que considera inoperante etc e tal. Parece que o príncipe sociólogo esqueceu que os seus oito anos de mandato foram uma tragédia para o Brasil. Aliás, é por aí que o governo Lula aparece com um bom desempenho, quando isso não corresponde a realidade. Claro, na comparação com FHC, o atual presidente dá um salto e pode ser considerado muito bom. Mas se não houvesse um FHC, a realidade seria diferente e Lula também não escaparia do julgamento com uma nota baixa.
Na verdade, o país se ressente de sucessivos governos medíocres, a começar pelos dos generais de plantão, de 64 a 85, passando por Fernando Collor de Mello e José Sarney. Cardoso, que seguiu o ideário de Collor, é sem sombra de dúvidas o pior de todos, até porque ficou mais tempo.
Sarney e Collor, por sinal, estão a toda. Sarney presidindo o Senado, Collor a Comissão de Infraestrutura daquela Casa, ditando regras e pousando de “fiscalizador” das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Seria cômico se não fosse trágico. Nos conchavos para a eleição de Sarney em que Renan Calheiros teve grande destaque no troca-troca de favores, Collor foi contemplado com o posto que ocupa e lhe dá visibilidade na mídia conservadora.
O Brasil merece coisa melhor.
Fonte: Direto da Redação.
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