quarta-feira, 1 de julho de 2009

CANADÁ - Empregados ameaçam paralisar as operações da Vale no Canadá.

O poderoso sindicato que representa os trabalhadores da Vale no Canadá está ameaçando paralisar as atividades da companhia no país, numa tentativa de preservar diversos benefícios que eles conquistaram no passado e que a empresa pretende reduzir agora.

A reportagem é de Ricardo Balthazar e publicada pelo jornal Valor, 01-07-2009.

O sindicato e a mineradora estão discutindo desde abril um novo contrato coletivo para substituir o atual, que expirou em maio. Os trabalhadores realizarão assembléias na próxima semana para decidir o que fazer se não houver acordo até o prazo estabelecido para as negociações, que se encerra no dia 12.

"Estamos negociando há meses e a empresa não tem se movido", disse Wayne Fraser, diretor dos Metalúrgicos Unidos (USW, na sigla em inglês) na província de Ontario, onde estão as principais operações da Vale no Canadá. "A possibilidade de uma greve parece muito real."

A direção da companhia não quis se manifestar sobre as conversas com o sindicato, mas informou que espera fechar um acordo na semana que vem. "Preferimos discutir na mesa de negociações, que é onde isso deve ser feito", afirmou o diretor de comunicações da Vale Inco, a subsidiária canadense da companhia, Cory McPhee.

O impasse nas negociações com os trabalhadores ocorre num momento em que a mineradora está procurando reduzir custos para se adaptar aos efeitos da crise internacional, que fez cair a demanda por seus produtos e provocou uma queda abrupta nos seus preços.

No início do mês, a Vale suspendeu a produção nas minas e nas refinarias de níquel de Sudbury, cidade onde estão os ricos depósitos desse metal que a empresa controla desde a aquisição da mineradora canadense Inco, em 2006. A retomada da produção está prevista para 27 de julho, se os trabalhadores não entrarem em greve.

A principal concorrente da Vale no Canadá, a Xstrata, também suspendeu suas operações para reduzir custos. A empresa cancelou investimentos que estavam programados e anunciou centenas de demissões em fevereiro. Seu contrato com o USW só termina em janeiro de 2010.

As minas canadenses foram responsáveis no ano passado por 31% da produção de níquel da Vale, que processou um quinto da demanda mundial pelo minério. Os preços do níquel no mercado internacional se recuperaram nos últimos meses, mas ainda estão 70% abaixo do pico que atingiram em maio de 2007.

Em 2006, quando a Vale chegou ao Canadá, os preços do níquel e de outros minérios estavam subindo e a empresa brasileira assumiu vários compromissos para obter a aprovação das autoridades canadenses à aquisição da Inco e desfazer desconfianças que sua chegada despertou em lugares como Sudbury.

A companhia se comprometeu a não efetuar demissões no Canadá durante três anos, manter diversos investimentos que estavam programados e continuar pagando os generosos benefícios assegurados pelo contrato coletivo dos trabalhadores.

Agora, a Vale está tentando convencer o sindicato a aceitar limites para o bônus que os funcionários recebem quando os preços do níquel sobem e os negócios vão bem. A empresa também quer mexer nos fundos de aposentadoria dos empregados, oferecendo aos novos contratados planos menos vantajosos do que os oferecidos aos mais velhos.

O confronto com o sindicato poderá criar riscos para a reputação da companhia. "A Vale quebrou as promessas que fez quando chegou", disse Fraser. "Sabemos que estamos numa recessão, mas a empresa ainda é lucrativa e tem compromissos assumidos com a comunidade local e seus funcionários."

Com a suspensão das operações em Sudbury, 2,2 mil dos 3,5 mil empregados da Vale foram mandados para casa. Enquanto não forem chamados de volta, eles ficam sem ganhar salário e recebem apenas o seguro-desemprego do governo, equivalente a menos de um terço do pagamento normal. A empresa continua custeando o plano de saúde dos funcionários afastados.
Fonte:IHU

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