Em 1982, Billy Joya encabeçou um operativo em Tegucigalpa em que foram presos, seqüestrados e torturados seis jovens estudantes da Universidade Nacional de Honduras. Hoje é ministro assessor do governo golpista.
A reportagem é de Angel Berlanga e publicado pelo Página/12, 18-07-2009. A tradução é do Cepat.
O ex-capitão do exército hondurenho Billy Joya é um desses oficiais programados pela CIA para agir nas ditaduras latino-americanas: formado no Chile nos anos 70 por Augusto Pinochet, ligado ao repressor argentino Guillermo Suárez Mason como instrutor para montagem do Batalhão de Inteligência B3-16, ideólogo do esquadrão da morte que operou em Honduras nos anos 80, associado nessa mesma década com John Negroponte, ex-chefe da CIA que participou do Vietnam e cérebro da montagem dos contra nicaragüenses. Nos anos 90, Joya enfrentou acusações por violações aos direitos humanos, assassinatos, seqüestros e torturas e refugiou-se então na Espanha, onde também enfrentou o início de um processo.
Como agora um repressor se converte em estrela?
Com a obscuridade de um golpe de Estado. Assim é como Billy Joya brilha, agora, como ministro assessor do mandatário de fato Roberto Micheletti, nomeado pelo Congresso em 28 de junho passado, em um trâmite grosseiro. Nesse mesmo dia deveria se realizar uma consulta popular para sondar a predisposição popular para uma reforma constitucional, mas na madrugada um grupo de militares encapuzados entrou a tiros na residência presidencial, seqüestraram Zelaya e o deportaram para a Costa Rica.
Como já se viu com outros repressores, Billy Fernando Joya Améndola gostava de usar uma alcunha: na clandestinidade se chamava “Licenciado Arrazola”. Foi chefe da divisão tática do Batalhão B3-16, o esquadrão da morte que operava em cooperação com a Direção Nacional de Investigações, braço repressor do exército. Entre 1984 e 1991 coordenou tarefas com os “conselheiros norte americanos” e os “assessores argentinos”, em plena guerra suja. Antes, em 1982, enquanto era ainda subtenente, encabeçou um operativo em Tegucigalpa em que foram presos, seqüestrados, e torturados seis jovens da Universidade Nacional de Honduras. Também é acusado de uma dezena de assassinatos.
Em outubro de 1995, um juiz hondurenho ordenou a captura de Joya e de outros oficiais do exército em função do caso da tortura dos estudantes. O repressor fugiu. Uns meses depois, após breve passagem pela Colômbia, refugiou-se em Sevilla, Espanha. A ordem de prisão foi conseqüência da denuncia feita pela Fiscalização Especial de Direitos Humanos que apresentou um informe pormenorizado do que aconteceu na madrugada do dia 27 de abril de 1982 e nos dias seguintes. Joya encabeçou um operativo que sem ordem legal, irrompeu com uma vintena de efetivos na casa do subprocurador da República, Rafael Rivera Torres, que estava nessa noite acompanhado por suas duas filhas e outros quatro estudantes.
Sem explicar porque os prendiam, foram conduzidos a uma delegacia. Rivera Torres foi levado de volta a sua casa. Os jovens ficaram incomunicados e foram levados a uma prisão clandestina que funcionava na propriedade de um general, onde os torturaram: golpes, fome, ameaças de que seriam violentados, simulacros de fuzilamento. Ali, contaram os meninos depois, vieram outros presos. Após oito dias, quatro dos estudantes foram libertados após a protocolar ameaça de que não contassem a ninguém o que havia acontecido; outros dois os acusaram de atentar contra a segurança de Estado. Terminaram absolvidos.
Quando o localizaram na Espanha, exercia a função de catequista no Colégio São José, dos Sagrados Corações de Sevilla. Vivia bem, em um dos bairros mais caros da cidade. As organizações de direitos humanos tentaram ajuizá-lo por delitos de lesa-humanidade no marco dos princípios da jurisprudência universal. Enrique Santiago, advogado que defendeu na Espanha a um dos jovens torturados, explicou faz três dias à Rádio Mundial que “foi submetido um procedimento de extradição enviado a Honduras, onde nunca prestou contas ante a justiça pelos graves crimes que cometeu”, porque as autoridades locais “facilitaram a absoluta impunidade”.
Se não fosse por seus antecedentes criminais e pela dramática situação do país, as aparições de Billy Joya na televisão hondurenha, nesses dias, poder-se-ia vê-lo em documentos como o da National Geographic. Há um que se encontra no You Tube: é a entrevista que lhe fez o “jornalista” Edgardo Melgar, que para começar apresenta-o como “analista internacional”. Na “entrevista”, destaca a reportagem, defende Pinochet e acusa Zelaya de ter vendido a alma aos comunistas, a Hugo Chávez e aos irmãos Castro. Quando perguntado se Honduras caminhava para o comunismo, Joya responde: “Isso é o que iria acontecer. É a luta de classes dos enunciados marxistas-leninistas. O militar associa ainda os acontecimentos do Chile na década de 70 com a conjuntura atual de Honduras.
Na denúncia apresentada contra Joya em 1995 se pedia a investigação de 150 casos de pessoas desaparecidas entre 1981 e 1984 com um padrão de ação: “As vítimas eram geralmente pessoas consideradas pelas autoridades hondurenhas como perigosas para a segurança de Estado. Além disso, usualmente as vítimas haviam estado submetidas à vigilância e perseguição por períodos mais ou menos prolongados”.
Fonte:IHU
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