domingo, 5 de julho de 2009

IRAQUE - Tropas dos EUA partem, as dúvidas aumentam.

O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, comemorou a retirada norte-americana da maioria das cidades iraquianas, que qualificou de "grande vitória", e assegurou que "estamos a entrar numa fase na qual se dará impulso à soberania iraquiana. Mas nem todos os iraquianos se mostram optimistas. Na semana passada, duas centenas de civis morreram em vários atentados, especialmente em bairros de maioria xiita.

Por Jared Levy, de Washington, para a IPS

As tropas de combate dos Estados Unidos retiraram-se da maioria das cidades iraquianas um dia antes do prazo, fixado pelo acordo alcançado no ano passado entre os dois países. As forças de segurança do Iraque deverão, agora, ocupar o vazio deixado pelos norte-americanos, cuja cúpula se mostra publicamente disposta a apoiar a transição.

"Do ponto de vista militar e de segurança, é hora de abandonarmos as cidades", disse à rede de notícias CNN o comandante das tropas dos EUA, general Ray Odierno. "Creio que os iraquianos estão preparados. Vemos constantes melhorias nas suas forças de segurança. É hora de assumirem definitivamente a responsabilidade", afirmou o militar.

"As forças de segurança iraquianas estão preparadas para isso. Saímos de muitas cidades no último ano", disse, por sua vez, o presidente do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas, Almirante Mike Mullen. Mas restam muitas dúvidas a respeito. Na semana passada, duas centenas de civis morreram em vários atentados, especialmente em bairros de maioria xiita. É a crença generalizada de que estas operações partem de extremistas sunitas, corrente do islamismo minoritária no Iraque, mas maioritária no mundo árabe. O perigo que se avizinha é um reinicio da violência entre comunidades religiosas que surgiu no país depois do ataque sunita contra a mesquita xiita de Samarra, em 2006.

O primeiro-ministro, Nouri al-Maliki, comemorou a retirada norte-americana, que qualificou de "grande vitória", e assegurou que "estamos a entrar numa fase na qual se dará impulso à soberania iraquiana. É uma mensagem ao mundo: agora podemos salvaguardar a nossa segurança e administrar os nossos assuntos internos". Nem todos os iraquianos se mostram optimistas. O ex-conselheiro de Segurança Nacional do governo desse país e actual legislador xiita Qassim Daoud disse ao jornal The New York Times: "Espero que o primeiro-ministro se dê conta de que ainda não temos forças de segurança competentes". O acordo bilateral, que fixa 2011 como prazo para a retirada completa, "deveria ser ampliado até 2020, 2025...", acrescentou Daoud.

Ninguém acredita que os soldados norte-americanos vão desaparecer da paisagem iraquiana como consequência da sua retirada das cidades. "Não veremos uma gigantesca nuvem de poeira a afastar-se", explicou o porta-voz das tropas, brigadeiro-general Stephen Lanza. O tenente-coronel da reserva John Nagl, actual director do Centro Para Uma Nova Segurança Norte-americana, explicou em recente conferência que grande quantidade de soldados de combate converter-se-á em "treinadores" de militares iraquianos depois da retirada, e que, portanto, estarão autorizados a permanecer nas cidades. De qualquer modo, acrescentou, a diferença entre um soldado dos Estados Unidos e um do Iraque pode não ser clara a um olho pouco treinado.

As actuais preocupações de Nagl concentram-se em "decisões políticas" de Maliki, que "entrará em razão pelo bem de seu povo em 2010 ou 2011" para admitir a permanência de tropas norte-americanas, segundo o militar. Ninguém duvida que a violência vai aumentar, pois os insurgentes vão tentar ganhar vantagem. "Esperamos um aumento dos ataques", disse ao canal de televisão Al-Arabiya um porta-voz do Ministério do Interior iraquiano. Nagl pensa o mesmo, embora duvide da possibilidade de o recrudescimento da violência ocorrer através de atentados suicidas "cujo custo humano é terrível, apesar de não serem estrategicamente desestabilizadores". Resta saber se Nagl está certo.

A desconfiança em relação às forças de segurança iraquianas domina boa parte da população sunita, que as vê como ferramenta de controle nas mãos do governo de predomínio xiita. Os insurgentes sunitas que se uniram em 2007 às forças dos Estados Unidos para combater a organização extremista Al Qaeda no Iraque não foram recompensados, como afirmam que lhes foi prometido, com empregos no aparelho de segurança do Estado iraquiano. Ao mesmo tempo, são frequentes as acusações de abusos contra as comunidades sunitas por parte de forças regulares iraquianas, o que constitui uma preocupação adicional diante da redução da presença militar norte-americana.

A falta de sunitas nas fileiras pode sair caro nas próximas semanas e meses. Os ex-insurgentes que colaboraram com as tropas norte-americanas carecem de intenções e de capacidade de ajudar a deter uma possível onda de violência. A violência entre sunitas e xiitas não é a única preocupação diante da retirada dos Estados Unidos. Também cresce a tensão entre árabes e curdos no norte. 01/07/2009.
Fonte:Esquerda.net

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