segunda-feira, 6 de julho de 2009

HONDURAS - A batalha de Tegucigalpa.

Copiado do blog Cidadania.com, do Eduardo Guimarães

5 de julho de 2009 entrará para a história. O mundo acompanhou um triller de suspense digno de Hollywood: a tentativa do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, de pousar no aeroporto da capital de seu país com o avião em que viajava acompanhado, inclusive, do presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel D’Escoto.

Outro destaque do dia foi a cobertura simplesmente espetacular do episódio todo pela tevê pública venezuelana Telesur. Minuto a minuto, cada lance do que já pode ser chamado de Batalha de Tegucigalpa foi visto por milhões nos quatro cantos da Terra.

A emissora venezuelana foi a única a ter um repórter viajando no avião de Zelaya e D’Escoto. Em pleno vôo, o presidente constitucional hondurenho, declarado único e legítimo pela ONU e pela OEA, pôde falar ao povo nas ruas de Tegucigalpa por meio de reprodução em alto-falantes de suas palavras àquela emissora.

A Telesur mostrou imagens e sons da maré humana que convergiu do campo, de Tegucigalpa e de outras cidades para o centro da capital hondurenha, de onde a multidão marchou para o aeroporto. Se não fosse a emissora, não teria sido possível ao mundo saber que os manifestantes foram vítimas de uma emboscada dos soldados do regime golpista.

O exército formava um cordão de isolamento ao redor do aeroporto. Durante algum tempo, os manifestantes foram barrados pelos militares. Quando a multidão já chegava a incontáveis dezenas de milhares, os soldados golpistas deixaram-na passar, cercaram-na e começaram a disparar e a lançar bombas de gás lacrimogêneo. Há notícias de três mortos e dezenas de feridos, até o fim da noite de domingo. Golpistas, até agora, só admitem uma vítima fatal.

A cobertura da Telesur constitui um exemplo de ousadia jornalística que há muito não se via nesta parte do mundo. Ficou absolutamente claro que os enviados da emissora venezuelana correram risco à própria integridade física. Durante o ataque dos soldados golpistas, a equipe perdeu até parte do equipamento e era possível ouvir gritos de desespero, ver sangue no pavimento, fumaça negra rolando pelo céu...

Quando o avião de Zelaya foi visto no horizonte no entardecer deste domingo, a Telesur transmitiu os sons da ovação popular. Pode-se ver o avião sobrevoando o aeroporto em círculos até um momento de extrema tensão em que, ao tentar pousar, os soldados golpistas atravessaram obstáculos na pista para impedir a aterrissagem, obrigando o avião de Zelaya a desistir da manobra.

Estratégia golpista

A estratégia golpista se revelou inexpugnável. A menos que alguma nação banque uma ação militar contra Honduras, os golpistas terão como “legitimar” um processo que, por si só, a comunidade internacional considera inaceitável por constituir precedente que pode abrir caminho para novas aventuras golpistas na América Latina.

As sanções internacionais terão pouco tempo para se fazer sentir em Honduras. Os golpistas poderão, como já prometeram fazer, antecipar as eleições e, depois de concluídas, haverá um novo governo eleito em Honduras. O golpe contra Zelaya terá funcionado. O golpismo terá vencido.

Que fazer?

A única alternativa aceitável para esse caso será a condenação internacional dos golpistas e sua posterior prisão, sobretudo por ameaçarem abater a aeronave em que viajavam o presidente constitucional de Honduras e o presidente da Assembléia Geral da ONU. A comunidade internacional deve discutir até que ponto irá a fim de impedir que se materialize o precedente golpista nas Américas.

EUA

ManoelZelaya instou o governo Barack Obama a tomar uma atitude. Na verdade, por ter um aparato militar em Honduras, os EUA certamente serão chamados a tomar uma posição, nem que a potência termine por se omitir.

Obama terá que decidir se faz em Honduras o que acusaram seu antecessor de fazer no Iraque, apesar de, no caso hondurenho, haver uma situação muito diferente da que havia no Oriente.

O problema é que qualquer ação militar resultaria em baixas civis e não se imagina que hoje algum governo, inclusive o dos EUA, queira patrocinar algo dessa natureza. Enquanto isso, a cada minuto o golpe vai se consolidando e o precedente antidemocrático vai se materializando.

Uma batalha, mas não a guerra

Resta de consolo ao mundo que essa não foi mais do que uma batalha da guerra desencadeada há cerca de uma semana pelos golpistas hondurenhos. Outras batalhas virão. Espera-se que sejam poucas e que, à diferença desta, não sejam sangrentas. Todavia, confesso que se trata de uma esperança um tanto quanto fugidia.

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