sexta-feira, 14 de agosto de 2009

AMÉRICA LATINA - Líderes vacilaram.

Mair Pena Neto


Os presidentes dos 12 países que compõem a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) vacilaram ao não se manifestarem contra a utilização de bases militares colombianas pelos Estados Unidos, na reunião que mantiveram em Quito esta semana. Podiam até evitar o termo condenação, mas deveriam incluir na declaração final um sentimento de apreensão e sugerir uma mudança de postura na relação dos EUA com a América do Sul.

No momento em que o continente reforça seus laços e avança para a construção de um Conselho de Defesa, se descobre, às vésperas da reunião dos líderes, que os EUA poderão, por acordo com a Colômbia, utilizar não uma, mas sete bases no território de um dos países mais conflagrados da região. O general Jim Jones Jr, assessor de segurança para a América Latina, fala candidamente que os EUA esqueceram de conversar com todos os governos antes de o assunto sair na imprensa.

A primeira conseqüência do acordo da Colômbia com os EUA é implodir o Conselho Sul-Americano de Defesa. A criação do órgão tem como premissa fortalecer a confiança mútua com base na integração e cooperação em matéria de defesa. Como isso vai se dar com bases americanas instaladas em um dos países do grupo e a desconfiança de suas reais intenções?

A presença dos EUA na região cresce militarmente e não na cooperação como prometia o presidente Barack Obama. Antes de sua chegada à Casa Branca, houve a reativação da Quarta Frota, que voltou a operar em águas latino-americanas após 60 anos. O argumento para a sua reativação foi semelhante ao utilizado agora para o compartilhamento das bases militares colombianas: melhorar a capacidade operativa no combate ao terrorismo e ao narcotráfico.

Os EUA dizem que vão ficar apenas em território colombiano, mas quem pode garantir? Foi com base em informações da inteligência dos EUA que tropas colombianas invadiram o Equador para atacar guerrilheiros ano passado, gerando o maior conflito entre países da região nos últimos tempos. Para adequar as bases militares da Colômbia às suas necessidades, os EUA falam em investimentos de 86 milhões de dólares.

Segundo o jornal espanhol El Pais, um documento do Comando Sul, que fala do interesse dos EUA na base de Palanquero, a mais poderosa unidade de combate da aviação colombiana, afirma que dali, com um avião desses, “pode se cobrir quase a metade do continente sem reabastecer combustível”. Para que tanta autonomia se as operações ficarão circunscritas a território colombiano?

São muitas perguntas que precisam ser esclarecidas e os países sul-americanos precisam cobrar dos EUA qual é a sua política para região. Reforçar militarmente a Colômbia para combater a guerrilha das Farc é insistir no confronto e abandonar qualquer solução negociada. Será isso que o melhor para o continente?

O presidente Lula propôs que a Unasul convide Obama para discutir sua política para o continente. Foi um bom movimento, mas nada garante que o presidente americano aceitará. Uma reunião de chanceleres e ministros de Defesa da Unasul vai discutir a utilização das bases colombianas, mas o fórum não tem a mesma força de um encontro de presidentes. A reunião em Quito foi uma oportunidade perdida de manifestação conjunta de repúdio que poderia levar os EUA a repensarem a questão se de fato pensam em mudar o velho estilo big stick de relação com a América do Sul.
Fonte:Direto da Redação.

Um comentário:

Prof. DiAfonso disse...

Bom dia, Carlos Augusto!

Convido este excelente blog (e quem mais deseje) a participar do MOVIMENTO "DEIXEMO DE SÊ BÊSTA!", colaborando com informações, retificações, sugestões e reprodução em rede das postagens originais e adicionadas. O Blog Terra Brasilis e parceiros pretendem ser uma tentativa de dar um basta nesta crise ética por que passam as instituições. Comecemos com o Senado Federal, publicizando o perfil dos que não deverão ser re-eleitos no próximo pleito.

Abração e conto com o importante papel de seu blog como contraponto à hegemonia das grandes corporações midiáticas.