quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A ÉTICA DO COWBOY E O CAPACHO.

Raul Longo

Os caminhos da cucaracha - Edição Especial

Quem não assistiu ao Jornal da Globo ontem, perdeu um clássico do west-spaguetti estrelado pelo Secretário da Defesa dos Estados Unidos, com todos os ingredientes das macarrônicas produções do gênero.

O próprio Secretário de Defesa, General Robert Gates (Bob Gates já não é um nome no estilo?) não fica nada a dever pro John Wayne. Aquela mesma inexpressividade estática. Lembram-se de como beijando, atirando, dando porrada ou cavalgando Wayne mantinha o mesmo olho cambado de quem já nasceu fazendo mira na ponta do cano de uma arma?

Mas Wayne não conseguia manter os braços inalterados. Todo o corpo e o rosto segura a postura de durão, mas os braços se moviam diferentemente em cada cena. Sempre meio afastados do coldre, como quem está pronto a sacar, é verdade, mas dobrava os cotovelos. Não conseguia ficar sempre dobrar os cotovelos.

Já o General consegue. Fosse de outra geração, daria um excelente Robocop.

Agora adivinhem quem fez o papel de bandidão facinoroso de maus-bofes? Stálin? Não! Khruschov? Não! Fidel? Esse já caiu de moda. Mao Tse Tung? Hitler? Ben Laden?

Claro que todos sabem! Ele mesmo! Entrando pela ponta esquerda do ringue para suas vaias: o sujo, o golpe-baixo, o traiçoeeeiro Hu-go Cha-vez!

Mas voltando ao farwest, no papel de heroína, de donzela amarrada aos trilhos do trem da história: Álvaro Uribe, cercado pelas FARCs comandadas por Cavalo Louco, Touro Sentado e Lobo Cinzento.

Emocionante! Tem até a Cavalaria pronta para sair das Bases Americanas (americanas lá deles, porque a nossa América sempre foi outra deste o tempo dos Sioux, Comanches, Crows, etc.) ou Forte Apache com aquela cornetinha tocando o tátá-ra-tá-tá que levava a molecada das matinês ao delírio!

Como em toda boa matinê, apesar do adiantado do horário do telejornal, teve até o momento edificante quando Bob Wayne recorre a clássica ética de bom mocinho de filme de cowboy que sempre oferece a própria arma ao pulha do bandido, antes de ser obrigado a mandar a alma do famigerado para dentro de um caixão de álamo.

Mocinho que se preze jamais atira em bandido desarmado! Por isso armaram o Sadam antes massacrar o Iraque, armaram os Talibãs antes de massacrar os Afegãos. Seguindo o roteiro, Gates explicou ter vindo ao Brasil oferecer armas em troca de um boquinha no Pré Sal da Petrobrás.

Aí é que entra em cena William Wack, concorrendo ao Oscar de melhor ator coadjuvante no papel de El Capacho. Pensam que ele se limitou àquele sorrisinho sardônico que já o notabilizou quando quer sugerir que o Presidente Lula é uma bobagem? Naaada! Bill Wack se superou numa magnífica interpretação capaz de botar qualquer Lee Marvin e Clint Eastwood no papel de coco de cavalo do bandido.

Além de dublar a última fala do galã Gates Wayne num raro momento de savoir-faire na seriedade própria da dureza da vida do velho-oeste, admitindo em natural humor de general norte-americano que do mundo espera, no mínimo, pronta obediência; o que o Wack traduziu babando de gozo: "- Fico muito satisfeito quando retornam meus telefonemas".

Para bom entendedor ficou claro que alguém aqui no Brasil não anda atendendo telefone. Não fosse isso, por certo não receberíamos a visita do cowboy.

Wack não esclareceu se o General veio vender ou apontar mísseis em troca do pré-sal, mas seu olhar e satisfação, sem dúvida foi a melhor interpretação de El Capacho em toda a história da cinematografia internacional.

The End
Raul Longo

Nenhum comentário: