quinta-feira, 13 de agosto de 2009

HONDURAS - O candidato anti-golpe.

Carlos Reyes ) é candidato independente à presidência de Honduras. Dirigente sindical há mais de 40 anos, é hoje um dos líderes do Bloco Popular (BP) a frente da resistência contra o golpe de Estado de 28 de junho. “Participo do movimento popular desde 1959. Sou um militante histórico contra os partidos tradicionais e a oligarquia que oprime meu país. Minha candidatura é apenas mais uma etapa nesta luta”, disse ao Página/12 por telefone desde Tegucigalpa.

A reportagem é do Página/12, 11-08-2009. A tradução é do Cepat.

Faz dois meses a sua candidatura era praticamente testemunhal. Mas, desde o golpe, a situação mudou. Sua figura começou a crescer. Hoje, em Honduras, Reyes é o único candidato anti-golpe. Pouco a pouco, Reyes começa a ser visto por vários setores populares como o candidato do deposto presidente Manuel Zelaya. “As pessoas estão interpretando dessa forma”, se limita a comentar. Rápido, Reyes esclarece, entretanto que ainda não decidiu se será mesmo candidato e que o principal é o retorno de Mel [Manuel Zelaya].

Segundo Reyes, a população não é a única em identificá-lo como o candidato que tem afinidades com o presidente constitucional. “O curioso é que desde a ditadura não param de difamar-me como o candidato de Zelaya, como o candidato chavista e até comunista”, comenta sorrindo. “Tudo isso se coloca como um duplo desafio” destaca. Duplo porque, segundo ele, cada vez mais pessoas saem às ruas de Tegucigalpa e o parabeniza, lhe dão força e lhe dizem que precisar colocar o seu nome na cédula para ser a opção para os hondurenhos.

Quanto mais é atacado pelo governo de plantão, maior reconhecimento ganha nas ruas. “E o mesmo não acontece com os outros candidatos”, diz Reyes, em referência a Elvin Santos, o candidato do Partido Liberal (PL), o partido de Zelaya, e Porfirio Lobo Sosa, do Partido Nacional (PN), ambos conservadores. “O primeiro foi expulso pelos estudantes com bombas de água quando foi a Universidade na semana passada e o segundo nesses dias de campanha, tinha pensado em ir até Olancho, o seu departamento natal, porém também de Zelaya. Os movimentos camponeses lhe avisaram que era melhor nem passar por lá, diz Reyes. E Lobo Sosa não foi.

A ditadura encabeçada por Roberto Micheletti não o ataca apenas politicamente. Faz alguns dias, em uma manifestação que bloqueava uma estrada próxima a capital, a polícia lhe bateu com cassetetes. Como resultado da ação policial, Reyes de 68 anos, passou a última semana no hospital. Durante esses dias, Zelaya lhe telefonou. Nessa conversa, o presidente constitucional lhe disse que chegada a hora, pensará numa possível aliança, se despediu desejando melhoras.

Reyes conta que durante os anos do governo de Zelaya, o Bloco Popular não era precisamente situação. “Acompanhávamos o governo de maneira crítica, fustigando quando acreditávamos que não estava certo”, explica. “Mas apoiamos o aumento do salário mínimo, o acordo com a Petrocaribe e a entrada na ALBA. Apoiamos a consulta popular”, detalha.

Reyes conta ainda que no último domingo aconteceu um encontro da ala do Partido Liberal que apóia Zelaya e que durante o encontro, um amplo grupo de dirigentes decidiu impugnar Elvin Santos, o atual candidato do partido por sua conivência com os golpistas. O que começa a se especular admite Reyes é que estes liberais convoquem ao seu eleitorado a votar em sua candidatura.

Nesse momento, segundo admite o dirigente do Sindicato de Bebidas em Honduras não existem pesquisas, nem dados confiáveis sobre a campanha. De fato, quase ninguém arrisca o que pode acontecer. Sobre sua candidatura Reyes afirma que “tudo depende da evolução do quadro de repressão e se de fato haverá alguma garantia internacional. Não iremos nos apresentar se as pessoas assim decidirem”, diz. Para saber o que desejam as pessoas que o apóiam, de acordo com Reyes, em poucas semanas começaram a consultar as quase 70 mil pessoas que fizeram um abaixo assinado por sua candidatura.

E quando se recuperar voltará a marchar pelas ruas junto ao movimento de resistência, ainda que a sua segurança não esteja garantida. “Sou um alvo fácil, ainda mais com o rótulo de candidato zelayista”, afirma.
Fonte:IHU

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