terça-feira, 18 de agosto de 2009

HONDURAS - Podiam arrumar outra desculpa.

Será que esses caras não viram que já passou o tempo de "guerra fria"?

Medo de expansão do comunismo bolivariano. Um dos motivos que levaram os militares a apoiarem o golpe em Honduras


Temendo “a expansão do comunismo” bolivariano, em defesa da Constituição e, concretamente, para evitar que o papel das Forças Armadas fosse suplantado, os militares hondurenhos optaram por apoiar o golpe de Estado que depôs o presidente Manuel Zelaya em 28 de junho.

A reportagem é de Claudia Jardim e publicada no Brasil de Fato, 17-08-2009.

Os argumentos são parte essencial da “explicação” que dois coronéis do país levaram à Washington para tentar mudar o parecer dos Estados Unidos, que, assim como o restante da comunidade internacional, condenaram a destituição de Zelaya. Essa justificativa militar está compilada em uma série de relatórios denominados “Documentação para o Pentágono”, elaborados antes do golpe e a cujos arquivos o Brasil de Fato teve acesso.

No documento intitulado “Análise das Forças Armadas sobre a quarta urna”, os militares argumentam que “existe a possibilidade de que possam aparecer setores políticos, que visualizando uma tendência institucional de apoio a essa iniciativa, em um futuro busquem mecanismos para minimizar ao extremo as funções das Forças Armadas, com tendência a desaparecê-las, e fortalecer a Polícia Nacional”.

Quarta urna

As negociações secretas da comissão do Exército hondurenho com políticos estadunidenses gerou ruído no interior das Forças Armadas. A informação publicada pelo jornal argentino Clarín – anunciando o velado encontro – levou o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Romeo Vásquez, a sair a público para negar a realização de tal reunião e apaziguar os rumores de uma possível ruptura no interior da instituição.

Apesar da tentativa da administração de Barack Obama de se desvincular dos bastidores da crise, o embaixador dos Estados Unidos em Honduras, Hugo Llorens, admitiu recentemente a um dirigente da Frente de Resistência Contra o Golpe que a reunião entre militares hondurenhos e políticos estadunidenses realmente existiu. “O embaixador confirmou que houve esse encontro”, afirmou o dirigente.

Na parte conclusiva da análise destinada ao Pentágono, os militares analisam as supostas consequências da chamada “quarta urna”. “A conformação da Assembleia Nacional Constituinte poderia ter implicações para a instituição [Forças Armadas], já que a Assembleia poderia tomar em consideração a posição [dos militares, contrária à nova Constituição] no momento de fazer reformas no capítulo de Defesa da Constituição da República”, diz o documento.

A realização de uma consulta popular, considerada inconstitucional pelos setores golpistas, e que havia sido pautada para o dia em que foi dado o golpe de Estado, tem sido o principal argumento para justificar a deposição do presidente hondurenho. O referendo perguntaria se a população estaria de acordo ou não com a instalação de uma quarta urna durante as eleições nacionais de novembro, na qual a população votaria a favor ou contra a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Em nome da democracia

“Que alternativas tinha o Estado?”. Essa é a pergunta de uma série de questionamentos elaborados pelas Forças Armadas para justificar sua atuação no dia 28 de junho. No documento levado aos Estados Unidos, os militares contemplaram três cenários diferentes. A primeira seria “ficar de braços cruzados e esperar que [o presidente deposto Manuel] Zelaya dissolvesse de forma irreversível os demais poderes do Estado”.

Outra possibilidade seria “substituir o presidente de uma forma diferente da atuada, dando tempo para que ele recorresse a seus aliados políticos, ideológicos e militares da Alba [Alternativa Bolivariana para as Américas], dirigida por Hugo Chávez”. Essa opção, de acordo com o documento, “implicava derramamento de sangue”.

A última alternativa, de acordo com a análise militar, era “executar uma ação surpresa e incruenta para evitar que Zelaya consumasse seus planos de perpetuar-se no poder e destruísse o sistema democrático”, diz o documento.

As Forças Armadas negam a existência de um golpe de Estado. Argumentam apenas terem cumprido ordens do Tribunal Supremo de Justiça, que emitiu uma ordem de prisão contra Zelaya, no dia 26 de junho. Na véspera, dia 25, o presidente havia ordenado a destituição do chefe do Estado Maior do Exército, Romeo Vásquez, porque ele tinha se negado a distribuir as urnas para a realização do referendo sobre a instalação da quarta urna nas eleições de novembro.

Fontes consultadas pelo Brasil de Fato acreditam que a demissão de Vásquez “foi a gota d'água” que desencadeou o golpe. De acordo com os golpistas, nesse mesmo dia, Zelaya teria assinado uma carta de renúncia, fato que o presidente deposto nega. “Deixemos de chamar de golpe de Estado a um processo que, na verdade, historicamente, será reconhecido como de defesa e fortalecimento da democracia”, conclui o documento elaborado pelas Forças Armadas e que teria sido levado a Washington.
Fonte:IHU

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