quinta-feira, 20 de agosto de 2009

POLÍTICA - "Saída de Marina divide esquerda".

Por Diego Salmen na Terra Magazine:

O PT perde uma “militante histórica e exemplar” com a saída de Marina Silva, avalia o senador João Pedro (PT-AM), até ontem colega de partido da ex-ministra do Meio Ambiente. Dizendo-se preocupado, o congressista faz uma ressalva:

- (Tenho a preocupação) De a história dela, uma história exemplar, encontrar dificuldades por conta da dubiedade e da aproximação do PV com o projeto do PSDB, haja vista que a maioria do PV está aliada aos tucanos.

Nesta entrevista a Terra Magazine, o senador – atual presidente da CPI da Petrobras – faz o prognóstico de uma eventual candidatura de Marina à presidência. E analisa as consequências de um divisão no campo de esquerda para as eleições de 2010.

- Isso ajuda o projeto neoliberal do DEM e do PSDB. Essa divisão ajuda a eles. Paciência… Vamos enfrentar.

Confira a entrevista:

Terra Magazine – Como avalia a saída de Marina Silva do PT?
João Pedro - É uma perda. Você perde uma militante exemplar, histórica, respeitada, que ajudou a consolidar o partido na sua região, no seu estado e em nível nacional. Agora, tudo indica que ela vai pro PV, e aí eu tenho uma preocupação.

Qual?
De a história dela, uma história exemplar, encontrar dificuldades por conta da dubiedade e da aproximação do PV com o projeto do PSDB, haja vista que a maioria do PV está aliada aos tucanos. Eu faço esse registro.

O senhor acha que o histórico de confronto de Marina com interesses do agronegócio pode dificultar a construção de uma candidatura à presidência?
Acho que ela levantou bandeiras corretas. Marina fez um bom combate defendendo políticas públicas em respeito à economia familiar, em respeito às populações tradicionais, em respeito à questão ambiental, social. Ela fez isso, é dela. Mas também é do governo, haja visto que o governo tem um ministério só para cuidar da agricultura familiar (Ministério do Desenvolvimento Agrário), e outro para lidar com exportações e agronegócio (Ministério da Agricultura). Essa é a composição do Brasil. Isso forma a economia e a sociedade brasileiras.

A vinculação da imagem de Marina à defesa do meio ambiente não pode fazer dela candidata do “samba de uma nota só”, como disse o presidente Lula? O senhor compartilha dessa avaliação?
Não, eu tenho outra opinião. Ela representa um tema, e a Marina vai fazer um debate qualificado. Ela tem um foco, mas tem uma formação para fazer um debate mais amplo.

Uma eventual candidatura de Marina à presidência não pode enfraquecer a proposta de eleição plebiscitária defendida pelo PT contra o PSDB? Pode dividir o eleitorado mais à esquerda?
Essa divisão no campo da esquerda eu vejo com muita preocupação. Não é bom. Isso ajuda o projeto neoliberal do DEM e do PSDB. Essa divisão ajuda a eles. Paciência… Vamos enfrentar. A gente se encontra no segundo turno (risos). Não é brincadeira: nós temos um projeto vitorioso no campo popular de esquerda que não se completou. Por isso a candidatura da Dilma, de continuidade, é para nós avançarmos em conquistas sociais. Eu vejo essa divisão com muita preocupação, e não ajuda esse projeto de continuidade.

Por outro lado, Marina sofreu um desgaste grande antes de sair do Ministério do Meio Ambiente, houve desentendimentos com outros ministérios e ela voltou a ser senadora. Não é legítimo ela buscar um espaço próprio nessas condições?
Eu respeito a decisão da Marina, o caminho que ela está escolhendo. Agora, eu fico com meu projeto, eu faço parte de um projeto que eu considero vitorioso. E eu lamento profundamente que ela não faça a defesa desse projeto que eu considero vitorioso, projeto do qual ela foi figura importante no ministério. O debate dentro do governo é permanente; isso (a falta de debate) é um sonho de que você terá um governo sem conflito, sem debate.

Sim…
Nós aprendemos com a vida, com a militância, que a disputa de idéias para viabilizar um projeto é dura, longa, profunda. Então nós temos de ter a maturidade de viver com o contencioso, com o contraditório. Não tem desgaste nem precipitação (na saída de Marina do PT). É normal num governo de esquerda, popular, com um projeto nacional, que haja esse debate. Eu vejo com naturalidade. Vai ser sempre sim.

São contradições inerentes ao processo?
Claro. O Brasil é um país democrático. Vai ter que dialogar com o MST, com o agronegócio, com a Via Campesina, enfim, com todos os setores da sociedade. Esse é o desafio do governo: encontrar o ponto de equilibrio, de chegar ao consenso. E nós avançamos muito nos últimos anos por conta da capacidade que o presidente Lula tem de dialogar, eu vejo isso de forma positiva.

Como vê uma candidatura de Marina em um partido sem a inserção popular que o PT, bem ou mal, poderia oferecer?
Não tenho dúvida (de que Marina sentirá falta da inserção popular do PT). Isso para mim é um fato. O PV é um partido que não está estruturado, não está presente no Brasil. É claro que eu compreendo… interiorizar um partido nas pequenas, médias regiões é um processo longo. O PV está longe de estar no interior do Brasil. Marina pode cumprir o papel de ajudar o PV, porque ela é um nome nacional; no projeto da candidatura, ela vai encontrar dificuldades porque o PV não está presente (no interior do país), mas ao mesmo tempo ela vai ajudar o PV a se consolidar, a se fazer presente.
Fonte:Terra Magazine

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