quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SÓ FALTA O GABEIRA!

Mair Pena Neto

Agora só faltava o Gabeira, se senador fosse, aparecer de dedo em riste dizendo “ou vossa excelência fica calado ou vamos iniciar um movimento para derrubá-lo” para completar a cena que ser armou no Senado contra José Sarney, o presidente da Casa.

Sarney está na vida pública há 50 anos, depois da morte de Antonio Carlos Magalhães tornou-se o último grande coronel da política nordestina, é dono de meio Maranhão e só agora nossos nobres senadores descobriram que ele se vale do público para o privado, entre otras cositas mas.

Alguém poderia dizer antes tarde do que nunca, mas a descoberta das falcatruas de Sarney não se compara à caça do FBI a Al Capone, que sabia das atividades criminosas do mafioso, mas só pode prendê-lo por problemas com o imposto de renda. Há muito tempo que o mundo político sabe das jogadas de Sarney e toda a campanha atual está ligada à sucessão presidencial de 2010.

Sarney é merecedor do pior fim político possível, mas é preciso entender o que está por trás do moralismo udenista da atual campanha. Não para absolvê-lo, porque não é merecedor, mas para não servir ingenuamente aos interesses que estão colocados. Sarney está sendo devassado por estar aliado a Lula, e o objetivo primordial dos que o atacam é atingir o presidente da República e evitar que ele faça o seu sucessor.

Ou alguém acredita piamente que o interesse dos senadores que atacam Sarney, principalmente os que foram seus companheiros em governos passados, é preservar o bem público? O Senado está totalmente dissociado da sociedade e boa parte dos seus integrantes pensa, no íntimo, como aquele deputado que disse estar se lixando para a opinião pública.

Os senadores buscam personificar em Sarney, e por extensão no governo, todos os males que praticam. Ele é o responsável pelos atos secretos, “desconhecidos” pelo DEM, por exemplo, que está há 14 anos na primeira secretaria da Casa. Afastar Sarney é uma medida cômoda. Com a sua saída, todos os pecados estariam expiados e se daria uma satisfação à opinião pública, impressionada pela ressonância midiática. Foi assim com Severino Cavalcanti, na Câmara, o tal interpelado por Gabeira. Houve alguma melhora moral na Câmara após a saída de Severino, que aliás só precisou renunciar pela descoberta de um esquema de propina no restaurante da Casa, ou as notícias mais recentes que nos vêm à memória não são de farra de passagens aéreas e absolvição do deputado do castelo?

Na verdade, os senadores nem querem ferrar Sarney como ele mereceria. Ninguém fala em cassá-lo. O que propõem é que se afaste da presidência da Casa enquanto é investigado no Conselho de Ética. Conselho este semelhante ao da Câmara, que absolveu o dono do castelo em Minas Gerais, e no qual tem maioria. Os atos e negociações secretas já estão sendo negociados e não será surpresa se o Senado continuar tendo a honra de contar em seus quadros com o ex-namorado da neta de Sarney, indicado pelo filho do senador para manutenção da cota da família.

Sarney é um Severino elevado a enésima potência. O ex-presidente da Câmara é um ingênuo político que expôs sem pudores suas ambições e a de seu partido, como a de ficar com a diretoria da Petrobras que “fura poço”. Sarney atua com muito mais habilidade e trafega em área muito superior, ocupando ministérios e diretorias de estatais com seus aliados sem maiores alardes.

Se os senadores quisessem, de fato, melhorar a situação do país, deveriam debater a sério uma reforma política que impedisse que governos ficassem reféns de partidos fisiológicos para conseguirem maioria no parlamento e poderem governar. A fisiologia explícita do PMDB e de outros partidos da base do governo que hoje se vê na defesa de Sarney é fruto de um sistema eleitoral ultrapassado e ineficiente, que não atende mais as necessidades da sociedade brasileira.

Seja o caminho que Sarney decidir tomar, nada muda de substancial na política brasileira. Como Severino, ele pode voltar em eleição futura ou mesmo se manter senador, deixando a presidência, e recuperar o velho poder, como Renan Calheiros. A porta dos fundos não intimida os caras de pau, que ao voltar são recebidos com todas as mesuras e rapapés que caracterizam a hipocrisia do nosso parlamento.
Fonte:Direto da Redação.

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