quarta-feira, 18 de novembro de 2009

ANOS DE CHUMBO - Rubens Paiva foi esquartejado.


Ex-agente diz que Rubens Paiva foi esquartejado

Um documentário inédito, a ser exibido amanhã à noite no Festival de Cinema de Brasília, contém uma revelação macabra feita por um ex-agente do DOICodi, o órgão de inteligência e repressão da ditadura militar: a de que vários de seus inimigos, que se tornaram presos políticos — e cujos nomes passaram a figurar na lista de desaparecidos do regime — tiveram os corpos esquartejados. Um deles, segundo um ex-agente, era o deputado Rubens Paiva.

A reportagem é de José Meirelles Passos e publicada pelo jornal O Globo, 18-11-2009.

A afirmação foi feita por Marival Chaves, ex-agente do DOI-Codi, em depoimento ao cineasta Jorge Oliveira para o filme “Perdão, Mister Fiel”, de 95 minutos, cujo tema principal é a morte sob tortura do operário Manoel Fiel Filho, em São Paulo.

— O que me surpreendeu foi que o sujeito contou várias atrocidades de cara limpa, com a maior tranquilidade. Ele disse que havia inclusive uma espécie de disputa entre os torturadores: a de apostar quantos pedaços iam render os corpos de cada uma das vítimas — disse Oliveira.

“Chaves sabe muito mais do que já contou”

Segundo o cineasta, Marival Chaves revela no filme a identidade de torturadores, inclusive a de um coronel:

— Ele conta que esse sujeito dava nos presos uma injeção de matar cavalos. E, para desaparecer com os corpos, mandava esquartejá-los.

Ao receber essa informação, ontem à tarde, o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado morto pela ditadura, reagiu de forma resignada, e relembrou as informações apuradas até hoje, de forma extraoficial:

" Bem, ele (o pai) pode ter sido esquartejado. Como saber? A única certeza é a de que ele foi morto dois dias depois de preso e torturado, e que sumiram com seu corpo. Meu pai foi preso, torturado e morto pelo DOI-Codi do Rio, e enterrado no Rio" — disse ele.

O diretor do filme disse que chegou a Chaves através de um processo simples. Ele tinha em mãos nomes de vários oficiais do Exército que participaram da repressão. E começou a abordá-los:

— Eu fui descendo a lista hierarquicamente, um a um. Ninguém queria falar. Até que cheguei no Chaves, que, na época da repressão, era sargento do Exército, com vinte anos de serviços prestados. E ele decidiu falar. Ele me deu a impressão de que foi uma espécie de desabafo — disse o diretor.

Chaves é velho conhecido do Grupo Tortura Nunca Mais, do Rio de Janeiro. A presidente da ONG, Cecília Coimbra, disse que Chaves era analista de informações do DOI-Codi em São Paulo, e não participava de torturas.

Ela e outras pessoas do grupo já conversaram várias vezes com o ex-sargento:

— Ele embromava muito em nossos encontros. Dizia que estava sendo ameaçado de morte. Eu acho que ele só fala o que lhe permitem falar. Mas, sem dúvida, sabe muito mais do que já contou. Cabe agora ao governo intimá-lo a depor. Chaves mora em Vila Velha (ES) — disse ela.

Repressão mandou queimar arquivos, diz ex-agente

O diretor do documentário contou que, no filme, Chaves faz outras duas revelações.

Uma delas é a de que, no fim do ciclo da repressão, quando o país caminhava para a retomada da democracia, ele foi convocado por seus superiores no Exército para dois serviços: primeiro, esconder e depois queimar documentos que registravam torturas e outras atrocidades.

— O governo anda exibindo na mídia uma propaganda pedindo que as pessoas que têm informações sobre aquela época que as entreguem às autoridades. Espero que, uma vez exibido o documentário, o governo se mobilize para ouvir Chaves. Se o governo quiser, chama, convoca e apura — disse Oliveira.

Outra revelação do filme, também a partir de depoimento de Chaves, é a de que o atual ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, que na época militava no grupo MR-8, seria assassinado em São Paulo:

— Acho que Franklin até hoje não sabia que estava para ser morto, num determinado dia, na capital paulista. Ele vai saber disso ao ver o filme, pois Chaves também conta detalhes dessa perseguição — disse Oliveira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Assisti ao documentário. E uma coisa qu me chamou a atenção foi o FHC dizer que, no ultimo dia de seu governo, assinou o decreto que "trancava" arquivos confidenciais.
Disse ter assinado sem ler... que perguntou ao seu chefe da Casa Civil sobre o que assinara e este tambem não sabia, que veio de algum setor, que colocaram ali.
Mas um caso do "assinei sem ler". E tenta jogar nas costas do Lula que poderia ter revertido esse ato que ele assinara.
OUtra coisa nojenta é o depoimento do Jarbas Passarinho. Ele ri, ao comentar uma situação de tortura.