quarta-feira, 18 de novembro de 2009

OS DOUTORES HONORIS SEM CAUSA.

OS DOUTORES HONORIS SEM CAUSA

Sylvio Massa de Campos

A senadora e Secretária de Estado Hillary Clinton, em memorável artigo - Tempo de Agradecer - (revista manchete, 9/12/1995), dirigindo-se aos norte-americanos, esclarecia que o bem estar deles e a longevidade alcançada tinham origem, “em grande parte porque milhões de outros povos pagam o preço pela vida que aproveitamos hoje”. Por essa razão, pedia mais parcimônia nas exigências de aumento de outras vantagens.

Em 3 de novembro de 2OO9,os poucos líderes sindicais do Rio de Janeiro e de outros estados, que ainda resistem à tentação do poder,ocuparam por 15 dias uma das sedes da Petrobrás como expressão de indignação às propostas da Empresa sobre níveis salariais, equivalência de valores entre ativos e aposentados e ameaças ao Plano de Saúde (AMS).

A Petrobrás, classificada como a terceira maior empresa das Américas, com patrimônio atual de US$ 205 bilhões, se nega a reconhecer, respeitar e fazer cumprir os contratos de trabalho assinados à época da constituição do Fundo de Pensão (Petros), utilizando espúrios instrumentos de enganação, manchando uma tradição de seriedade na relação com os seus empregados e aposentados.

Há 13 anos -, os verdadeiros construtores da atual Petrobrás - os aposentados- lutam com cerca de 30 mil ações na Justiça em busca de seus direitos. Deixar o tempo correr, recorrer com artifícios jurídicos protelatórios, apresentar novos planos, é a vil estratégia utilizada pela. Direção da Petrobrás, torturando a alma e o corpo e encolhendo o tempo de vida que resta.

Em 1997 a Lei 2004 foi extinta e promulgada a Lei 9478. Esse foi o inicio do fim da Petrobrás que construímos. A síntese desse momento pode ser traduzida na sentença do ex-presidente da ANP, David Zilbersztayn: `0 petróleo agora é vosso`, disse ele ao celebrar o advento da era de doações dos bens públicos, que foi o governo Fernando Henrique Cardoso.

Aquela nossa empresa construída ao longo de 44 anos, enfrentando e superando todos os tipos de dificuldades técnicas/políticas e financeiras, tinha atingido o auge de seu amadurecimento gerenCial e amplo domínio na sua `expertise`, se descaracteriza com o novo marco legal. Deixa de ter exclusivamente objetivos nacionais e transmuda-se em `Papel de Bolsa`, sendo que, no momento, mais de 80% de suas ações são comercializadas na Bolsa de Nova Iorque (NYSE).

Surge então um novo endereço para as decisões da Empresa.

São 400.000 norte-americanos que hoje detêm ações da Petrobrás na Bolsa de Nova Iorque - 40% de ações ordinárias e 61% de ações preferenciais - e que passam a exigir, entre outras coisas, redução nos custos de pessoal, migração nos planos de aposentadoria e alteração nos planos de saúde. Esperam, como contrapartida, crescentes dividendos e juros para os seus papéis, o que é a lógica de remuneração e valorização desses investimentos.

O total de investidores na Bovespa - São Paulo -, em todas as aplicações mobiliárias, aproxima-se de 550.000 pessoas, constituindo-se os papéis da Petrobrás e da Vale em um dos fatores principais de valorização da Bolsa.

De novo é “Tempo de Agradecer` à perspectiva da Petrobrás conseguir ser a gestora do Pré-Sal e, quem de direito, não movimentar-se para a recompra daqueles papéis, aplicando parte das Reservas Internacionais, com rendimento nulo, em suas próprias ações, beneficiando-se, assim, de rendimentos reais e evitando a ingerência em sua administração.

A família de aposentados e pensionistas da Petrobrás é de 60.000 pessoas, que lutam na Justiça para fazer valer seus contratos de trabalhos incorporados ao Fundo de Pensão (Petros), à época de suas vidas laborativas e que vêm sendo desrespeitados.

YES, a Petrobrás também é minha`, esse é o slogan divulgado pelo blog da Petrobrás - Fatos e Dados (01/10/2009) - referindo-se à matéria publicada na revista Exame (nº 953), onde destaca o inusitado acontecimento do alto executivo da Petrobrás ao chegar no aeroporto JFK ser reconhecido e identificado, numa forma de aplauso, por um modesto funcionário americano, que, talvez, por ser investidor da Petrobrás, fareja os seus novos padrinhos.

Esse alto funcionário da Petrobrás conclui suas declarações a revista Exame dizendo:

`O contraste com o que acontecia antes é grande. Há alguns anos, muitos investidores estrangeiros não sabiam o que era a Petrobrás. Várias vezes ouvi de gente graúda do mercado: PETROWHAT?`

Petrobrax`, `O petróleo é vosso`, `Yes,a Petrobrás também é minha`, `Petrowhat?`, eis os epitáfios que deveriam ser colocados nos diplomas desses nossos `Doutores Honoris sem Causa.`

Sylvio Massa de Campos é economista, empregado aposentado e um dos fundadores da Petrobrás Distribuidora. É autor de livros e artigos técnicos.

16/11/2009

Nenhum comentário: