Copiado do blog "Tijolaço", do Brizola Neto.
Mario Torós, ex-Santander e diretor demissionário do Banco Central: já viram executivo de banco ter crise de sinceridade?
Vejam se não tem coisa muito feia acontecendo lá para os lados do Banco Central. No mesmo dia, sem mais nem menos, Mário Torós, diretor de Política Monetária - a área mais sensível do Banco - sem mais nem menos, dá uma entrevista dizendo que o “pobre” do Dr. Henrique Meirelles quase se demitiu por causa das pressões do Presidente Lula durante a crise do ano passado e o próprio Meirelles, como publiquei aqui, faz uma palestra atacando, sem citar nomes, o Banco do Brasil que, por determinação de Lula, baixou os juros de suas operações de crédito.
Jabutis, diz o ditado, não sobem em árvores.
O sr. Torós - que está há pouco mais de dois anos no BC, vindo do Santander - e o Mário Mesquita, diretor de Política Econômica foram os dois nomes escolhidos por Henrique Meirelles fora dos quadros funcionais do Banco Central. E os dois eram, coincidentemente, os maiores opositores da que se abaixassem os juros da instituição.
A história de que Torós saiu atirando para “fazer currículo” não cola. Não há uma vaga de topo no mercado financeiro para boquirrotos. O que a trinca Meirelles-Torós-Mesquita faziam no BC no pré-crise está muito bem contada no Blog do Luís Nassif, que conhece os bastidores da economia como poucos neste país.
Meirelles tem pouco mais de quatro meses no Banco Central, de onde vai sair - vai tarde, aliás - para ser candidato ao Governo ou ao Senado por Goiás. Engoliu - minimizando-a - a queda da taxa de juros, suportou, sem qualquer entusiasmo, a implantação do IOF de 2% para a entrada de capital estrangeiro é complacente com a enxurrada de dólares que é a maior ameaça, hoje, à economia brasileira. Todas as alternativas que apresentou para deter a sobrevalorização do real ou são inócuas ou visam dar “proteção” aos recursos dos investidores externos, deixando de internaliza-los em moeda nacional e mantendo seu valor via contas dolarizadas.
Meirelles sabe que, nos quatro meses que lhe restam, é preciso imobilizar politicamente o Governo para que não haja a escolha de um sucessor alinhado com uma política desenvolvimentista e com uma queda dos juros, linha que Lula indicou ser a sua preferência, ao conseguir - a fórceps - que o Banco do Brasil passasse a ser um agente do aquecimento da economia.
Mas parece ter poucas esperanças de conseguir isso. Por isso está lançando mão de uma arma velada. Não briga com o Governo - sem o qual não se elege senão deputado, certamente que não pelo poder econômico, mas por sua história de intenso convívio com as classes populares, não é? - mas o mantém refém do medo que tem de que sua demissão abale o “mercado”.
Já faz tempo que muita gente sabe, a começar por Henrique Meirelles, que Lula não o demite não porque não queira, mas porque acha que não pode fazê-lo sem criar um abalo político e econômico.
Meirelles manobra com isto. O que está em jogo é dinheiro, muito dinheiro, dos rentistas, daqui e de fora. Portanto, se você se defrontar com uma “crise de sinceridade” de um diretor do Banco Central, lembre-se que banqueiro não queima dinheiro e , como disse antes, jabuti não sobe em árvore.
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