Ricardo Kotscho
BRASÍLIA _ “Lula, estou com um problema sério. Eu já tinha planejado tudo para morrer, até o cemitério, e agora, de uma semana para cá, vi que vou ter que replanejar tudo”, confidenciou o vice José Alencar durante a feijoada em que só parentes e velhos amigos da família Silva, umas 30 pessoas, comemoraram, neste sábado, os 64 anos do presidente, na Granja do Torto, em Brasília.
Feliz da vida com os resultados dos últimos exames, que mostraram uma regressão dos tumores no intestino, José Alencar chegou animado à festa acompanhado da mulher, dona Mariza. A presença dele foi uma surpresa que a outra Marisa, mulher de Lula, preparou para o presidente, porque a festa oficial de aniversário, com os membros do governo, já tinha acontecido na terça-feira, no Alvorada.
Maior foi a surpresa do presidente Lula quando, já no final do almoço, meio brincando, meio falando sério, o vice-presidente revelou a ele seus planos para 2010:
“Diante dos últimos exames, meu nome está de novo à disposição. Só não posso ser candidato a vereador nem a prefeito porque no ano que vem não tem eleição municipal. Fora isso, posso ser candidato a qualquer cargo em 2010″.
Virando-se para as outras pessoas na mesa principal _ as respectivas mulheres, os médicos Roberto Kalil, Nana Miura e Cláudia Cozer, e o cantor e compositor Noca da Portela _ José Alencar falou dos seus novos planos:
“O Lula está me devendo… Eu tinha mais quatro anos no senado e saí para ser vice dele… agora ele tem que me apoiar para devolver estes quatro anos…”
Em outras palavras: o vice José Alencar está “colocando à disposição” o seu nome para disputar uma das duas vagas para o Senado por Minas Gerais. Comentário meu: do jeito que anda seu prestígio em todo o país, Alencar seria um dos poucos candiodatos majoritários no ano que vem não precisaria nem do apoio do presidente Lula para se eleger.
Na festa de Lula, a
estrela é Noca da Portela
Outra surpresa preparada para o presidente Lula por dona Marisa, que cuidou da feijoada, e pela nora Marlene Araújo, encarregada da “produção”, foi um show do velho sambista Noca da Portela, autor, entre outros grandes sucessos, nos seus 55 anos de carreira, do jingle “Estrela da Esperança”, que fez em parceria com Riko Dirolêo, para a campanha de 2002.
Aos 76 anos, mesma idade de José Alencar, ele contou que veio prestar uma homenagem ao presidente, “com cachê zero”, e já chegou entoando os versos iniciais da música:
Está em festa o meu país
Nossa gente está contente
O Brasil está feliz
Lula é o nosso presidente
Acompanhado de apenas quatro ritmistas (dois deles alunos do Pró-Uni) e do parceiro Toninho Nascimento, Noca da Portela cantou a tarde toda e, nos intervalos, contou passagens da sua vida desde que deixou a sua pequena Leopoldina, em Minas gerais, e foi para o Rio de Janeiro, com cinco anos.
Nascido Osvaldo Alves Pereira, Noca fez seu primeiro samba enredo, o “Grito do Ipiranga”, com apenas 14 anos, para a escola Irmãos Unidos do Catete. Em 1966, seria levado para a Portela por Paulinho da Viola e de lá nunca mais saiu.
A família era da roça em Minas, mas o pai, Ernesto Domingos Araújo, seu mestre, foi um importante violonista no Rio de Janeiro, embora nunca tenha gravado um disco. Sua casa era frequentada por Cartola, Noel Rosa, Chico Alves, entre outros grandes nomes da nossa música popular.
Antes de se tornar famoso e ganhar a vida como músico, Noca foi feirante de frutas e legumes, dos 18 aos 28 anos. Como o pai, também foi militante do Partido Comunista Brasileiro, o antigo Partidão. “Desde jovem, a política e a música sempre se misturaram na minha vida. Meu ídolo era o Luiz Carlos Prestes. Viajei o Brasil inteiro junto com o taiguara fazendo shows para o Partidão”.
Depois de participar de toda a Campanha das Diretas ao lado de Ulysses Guimarães, Tancredo, Brizola e Lula, no final dos anos 1980, ele ainda faria o jingle da campanha de Roberto Freire, o candidato do PCB a presidente da república. Logo em seguida, aproximou-se do PT.
“Eu quero ajudar o meu país. Quando o Partidão acabou, a maioria foi para o PT e, em 2002, fiz o jingle da primeira vitória do Lula. Esse Brasil do nosso Lula deu oportunidade para mostrarmos o nosso rosto, um rosto bonito. Antes a gente escondia o rosto de vergonha”.
Músicos e convidados tomaram chope e caipirinha, menos Lula, que está fazendo a dieta da proteína e só comeu as carnes da feijoada. Foi uma festa bem caseira. Milhares de outros Silva devem ter comemorado deste jeito, com samba, cachaça e feijão, os seus aniversários por todo o Brasil neste sábado. Quando a música parou, a lua cheia começou a aparecer no horizonte da Granja do Torto. Foi o penúltimo aniversário que Lula comemorou aqui.
Fonte:Balaio do Kotscho
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