Filho de João Pinheiro, a quem se atribui a constatação de que “Minas tem o grave senso da ordem”, Israel Pinheiro repetia sempre que, em política, só são possíveis as “soluções naturais”. A frase de João Pinheiro sempre teve interpretação conservadora – mas o político do Serro havia sido ativo republicano, e foi dos pioneiros do desenvolvimento econômico do Estado, com o estímulo ao ensino profissional, às pesquisas no campo da agricultura e a importação de máquinas. Afastado da política ativa durante alguns anos, criou indústria cerâmica avançada para a época, em Caeté.
O filho, Israel, pragmático desenvolvimentista, foi secretário de Benedicto Valladares, incorporador da Cia. Vale do Rio Doce e construtor de Brasília. Último governador de Minas a ser eleito em 1965, logo em seguida ao golpe, manteve hábil relação com o governo federal, defendendo, com paciência, mas firmeza, os interesses do estado. Idêntica postura teve Negrão de Lima, que se elegeu governador da Guanabara na mesma ocasião. O segredo mineiro da política (ou de uma corrente mineira da política) é a busca do “caminho do meio”, que não é, como muitos imaginam, posição de comodismo. Governar pelo centro é conter os arroubos inconsequentes de uns e a reação histérica de outros, na ativa defesa dos interesses permanentes da nação.
Os mineiros sempre buscaram o desenvolvimento de seu estado e do país, e nisso nunca lhes faltou ousadia. Articular os conservadores e os reformistas em torno de um projeto de progresso econômico e social é atitude que sempre tem dado certo. Assim atuou também Juscelino, tanto no governo do estado quanto na Presidência da República.
No governo do estado, ele entendeu que não bastava contar com os parcos recursos orçamentários para retirar Minas do atraso relativo em se encontrava, emperrada pela agropecuária conservadora. Buscou os recursos da poupança privada, mediante a emissão de títulos do estado (apólices do binômio Energia e Transportes). Assim nasceu a Cemig e se abriram as principais rodovias mineiras. Foi-lhe possível fazer tudo isso, porque soube conduzir bem a vida política e convencer os opositores da importância dos projetos que interessavam à comunidade montanhesa.
Essa mesma atitude ele a levou para a Presidência da República. Embora mantivesse os ritos administrativos rotineiros, rompeu a burocracia conservadora da União, criando os grupos interministeriais de trabalho, os famosos “grupos executivos”, que se encarregaram de atingir as suas metas de governo, estabelecidas ainda durante a campanha eleitoral. A retórica doutrinária era contida, mas ousada a ação administrativa. Na ação administrativa se expressava o discurso político. Ele discursava com números, prometia com objetivos, regozijava-se com os resultados. Seu marketing (para usar-se esse estrangeirismo incômodo) estava nas imagens do feitor de obras de Brasília, no desbravador da selva, ao lado de Bernardo Sayão, no incansável cobrador de tarefas, muitas vezes madrugada alta, em telefonemas que arrancavam seus auxiliares da cama para saber se determinada tarefa havia sido cumprida.
Se o atual governador de Minas será candidato, ou não, à Presidência, vai depender das volúveis circunstâncias da vida partidária. Mas ele está cumprindo os ritos da velha política montanhesa, ao indicar o caminho do centro. A disputa do poder não pode transformar-se em luta ensandecida, no confronto de posições antagônicas. É certo que haverá açodados, como sempre os houve, defendendo passos insensatos, ou retorno a algumas práticas do passado. Mas não é possível governar nos extremos. Como na barra da balança, o ponto de equilíbrio é o meio exato; como na alavanca, o apoio deve localizar-se no centro do arco de gravidade. Faça-se ou não candidato, eleja-se ou não se eleja, Aécio está dando ao Brasil o velho recado de Minas. O objetivo da política é a soma, a aglutinação das pessoas em torno de projetos para o bem comum. A fronteira do entendimento, na política, é a da soberania do país. Cavalgando essa razão, Aécio não se põe como anti-Lula, mas disposto a avançar no mesmo projeto de Brasil.
Aécio almoçou ontem com Ciro Gomes. O ex-governador do Ceará, que já anunciou sua postulação presidencial, dispôs-se, como se noticiou, a dela desistir – se Aécio for candidato. Conforme apontam as pesquisas, trata-se de um apoio poderoso.
Fonte:JB online
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