"A vida se faz com coragem e olhando para frente. Cada um terá de carregar sua bagagem, mas as bagagens não são exercício para saldar contas quando há o que construir". Com essas belas palavras, José Pepe Mujica, o novo presidente do Uruguai, passou o seu recado às Forças Armadas do país nesse início de seu governo.
"Eu e o ministro estamos entre os que mais conhecem as entranhas das Forças Armadas", disse referindo-se ao novo ministro da Defesa do país, Luis Rosadilla - companheiro de Mujica, quando ambos lutaram pelo Movimento de Libertação Nacional (MLN-Tuparamaro) contra a ditadura naquele país (1973-1985).
A ditadura uruguaia foi iniciada com um civil, o presidente Juan Maria Bordaberry (condenado duas vezes a 30 anos de prisão) que gradativamente abriu mão de seus poderes constitucionais para os militares. Vale lembrar que em outubro passado, em uma ação exemplar, a Justiça uruguaia condenou outro ditador, o general Gregorio Álvarez (1977-1981) a 25 anos de prisão pelo assassinato de 37 rivais políticos.
O recado de Mujica foi claro: não só afirmou que seu passado de luta contra a repressão - tupamaro, ele e sua mulher foram prisioneiros políticos durante 14 anos - não o levará agora a "saldar contas" com a instituição, como prometeu aumento salarial para os militares. O líder uruguaio também reafirmou os novos tempos: "os fanatismos acabaram". O Uruguai deve estar em primeiro lugar, disse o presidente.
Mujica começa a governar o Uruguai dando um belo exemplo de como se relacionar com as Forças Armadas, mostrando que elas não têm razão para temer revanchismo quando se reivindica revisões em leis de anistia feitas pelas ditaduras e a instalação de comissões da verdade.
Fonte: blog do Zé Dirceu
Nenhum comentário:
Postar um comentário