quinta-feira, 22 de abril de 2010

ANOS DE CHUMBO - Ele quer mudar a história recente da América Latina.

Kissinger nega a óbvia participação dos EUA na Operação Condor

Mais de 30 anos depois de ter-se tornado o mais poderoso secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger volta à cena, aos 87 anos, para negar o óbvio. Em declaração lida nesta quinta-feira (22) por seu porta-voz, Kissinger declarou que não teve participação alguma na Operação Condor — que levou à morte milhares de opositores aos regimes militares da América do Sul nos anos 70 e 80. “A acusação é totalmente falsa”, resumiu.

Em 10 de abril passado, a ONG The National Security Archive (NSA) reacendeu o tema ao divulgar documentos reveladores da omissão do ex-secretário diante da denúncia de assassinatos políticos no Cone Sul. Segundo os documentos, Kissinger desautorizou diplomatas americanos no Chile, na Argentina e no Uruguai a se pronunciarem publicamente contra tais crimes. As ordens iniciais para o pronunciamento haviam partido do próprio Kissinger.

Cinco dias depois de seu recuo, a explosão de um carro-bomba na Avenida Massachusetts, em Washington, provocou a morte do ex-chanceler chileno Orlando Letelier — uma das vozes mais críticas ao ditador Augusto Pinochet. Na opinião da NSA, o atentado foi a ação mais "infame" da Operação Condor — que reuniu os serviços de inteligência militares e os órgãos de repressão de Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia.

“O telegrama do dia 16 é a peça que faltava do quebra-cabeça histórico sobre o papel de Kissinger na ação e a falta de ação do governo americano após ter conhecimento sobre os planos de assassinato”, afirmou Peter Kornbluh, analista da NSA. “O Departamento de Estado iniciou um esforço oportuno para frustrar a campanha de assassinatos no Cone Sul — e Kissinger, sem dar explicações, a abortou.”

CMP

O Conselho Mundial da Paz (CMP) também protestou contra a negativa de Kissinger. “Em nenhuma outra região do mundo a hegemonia norte-americana fez-se sentir com mais peso do que na América Latina — e essa ingerência foi particularmente acentuada durante o ciclo de governos militares”, afirma a presidente da entidade, Socorro Gomes.

Segundo Socorro — que também preside o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) —, “a Operação Condor é indissociável da longa e odiosa condição dos Estados Unidos como potência imperialista do continente. As atrocidades vieram à tona com o aval, o lastro e o patrocínio norte-americano”.

O CMP lembra que a Operação Condor resultou em cerca de 400 mil presos políticos, 80 mil mortos e 30 mil desaparecidos. “Não há dúvidas de que uma operação dessa envergadura não teria perdurado tanto — nem produziria tamanhos estragos — se não fosse a conivência norte-americana em relação a seus governos-satélites na América do Sul”, conclui Socorro.

Da Redação,
André Cintra/Site O Vermelho.

Nenhum comentário: