Pedro do Coutto
O jornalista José Roberto de Toledo publicou um trabalho de análise eleitoral na edição de 19 de abril de O Estado de São Paulo, atribuindo importância ao que classificou de média móvel dos candidatos, método –frisou – muito usado pelos institutos norte-americanos para avaliar tendências quanto à intenção de voto. O critério de média móvel, assim, acompanha todos os lances e momentos da campanha. É estabelecido para identificar tendências e avaliar se elas são permanentes ou não.
Dentro do conceito de mobilidade adotado por Roberto de Toledo, José Serra alcança a média de 34,9 pontos contra 30,5% em favor de Dilma Roussef. Uma diferença, portanto de 4,4 pontos. Tal diferença colide com o mais recente levantamento do Datafolha, que assinalou 38 para o ex governador contra 28% da ex chefe da Casa Civil. Interessante o sistema de média móvel, mas ele funciona mais fortemente como indicador nas eleições que decidem em um turno só, as dos Estados Unidos, por exemplo. Não quando as regras como a do Brasil, prevêem um turno só quando um dos candidatos atinge a maioria absoluta dos votos nominais válidos na primeira etapa. Entretanto, seja por qual sistema de análise for, em nosso caso o panorama está definido para uma decisão final no segundo turno. E este segundo turno, está mais do que claro, colocará em confronto José Serra e Dilma Roussef.
Nem Marina Silva, nem Ciro Gomes, têm condições de quebrar a tendência invariável revelada por todas as pesquisas. Não houvesse a candidatura Marina Silva, que chegou a 10% das intenções de voto, Dilma Roussef estaria hoje pelo menos empatada com Serra. Marina Silva absorve votos que não fosse sua presença no quadro sucessório iriam para Roussef. Podem inclusive ser decisivos no desfecho final.
Já Ciro Gomes retira votos tanto de Serra quanto de Dilma. Mais um pouco de Serra. Porém, por sua capacidade de exposição política, afinal é um deputado que se elegeu com 600 mil votos pelo Ceará, Ciro pode acrescentar muito a Dilma caso, é claro, não seja impedido por seu próprio partido, o PSB, de concorrer na primeira fase. Se não disputar o primeiro turno, pode até se desinteressar do segundo. De qualquer forma, em matéria de desfecho final, Ciro só pode tender mais para Dilma, do que para José Serra, de quem é adversário declarado e total.
O sistema de média móvel, assim, só terá mesmo eficácia no segundo turno. Não no primeiro, turno de classificação, cujos nomes dos classificados já são de muito conhecidos. Se o PSB negar a legenda a Ciro, terá cometido um erro enorme, sobretudo porque, com Ciro, seu poder de barganha para o segundo turno será muito mais ponderável do que sem o ex-governador do Ceará.
A presença de Ciro ao lado de Dilma no desfecho derradeiro possui inclusive importância fundamental para o resultado final das urnas. Pois uma coisa é apoiar alguém com firmeza e disposição, outra é formalizar apenas uma adesão fria e distante. Nesta segunda hipótese, inclusive, cai o potencial de votos que um possa transferir a outro. No caso específico, a transferência de uma percentagem de votos de Ciro para Dilma Roussef.
Ciro Gomes e Marina Silva, vale acentuar, são fatores capazes de funcionar como agentes decisivos tanto para a vitória de uma como para a vitória de outro. A análise política do quadro sucessório deve ser feita a partir desse patamar, uma vez que todos sabem muito bem que os 132 milhões que compõem o eleitorado brasileiro vão ter que escolher, no segundo turno, entre o ex-governador de São Paulo e a ex-ministra do governo Lula. E o potencial de votos transferíveis de Lula funcionará ou não no desfecho derradeiro? São Perguntas que só a realidade poderá responder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário