Pedro do Coutto
A decisão sobre a perspectiva de Ciro Gomes ser ou não candidato a presidente da República, examinando-se friamente a questão, depende muito mais da vontade de Lula que do próprio PSB, partido do ex-governador do Ceará. Individualmente, Ciro não tem chance de vitória, como demonstrou claramente a pesquisa do Datafolha publicada pela FSP de 17 de abril. Relativamente à posição dos quatro candidatos – Serra, Dilma, Marina e Ciro – ela confirma a tendência de intenções de voto registrada no levantamento anterior da empresa da Folha de São Paulo.
Não estava, portanto, correto o levantamento do Sensus, realizado sob o patrocínio da Força Sindical. O Sensus apontou 32,7 para José Serra e 32,4 para a ex chefe da Casa Civil. Um empate. Surgiram dúvidas quanto à solidez da pesquisa. Não estava de fato firme. O Datafolha aponta agora uma diferença de 10 pontos favor de Serra: 38 a 28%. Marina Silva atingiu 10 pontos e Ciro desceu para 9. Trinta e oito para José Serra não surpreende, pois a pesquisa do Datafolha foi feita depois do lançamento de sua candidatura, fato que lhe forneceu grandes espaços nos jornais e na mídia de modo geral. Antes tinha 37. Subiu um degrau. Aliás 38% parece ser o teto do ex-governador de São Paulo. Mas esta é outra questão.
Numa simulação para o segundo turno, hoje Serra venceria Dilma por 50 a 40 dos votos úteis. Bem, no primeiro turno somando-se os pontos dos candidatos, verifica-se uma indefinição da ordem de 15%. Mas eu disse no título que, sendo candidato, Ciro ajuda mais a Dilma do que não disputando. Simplesmente porque as eleições são em dois turnos. Não há dúvida. No segundo turno, Marina Silva deve apoiar Serra. Não sei se consegue transferir toda a votação que obtiver no primeiro.
E Ciro? Aí é que está o problema. Em primeiro lugar, o quase candidato do PSB tira mais votos de Serra que de Dilma. Em segundo, se não disputar a presidência da República, por rejeição de sua própria legenda, Ciro Gomes perde a motivação para apoiar com firmeza a candidatura de Roussef no desfecho final.
O presidente Lula, portanto, a quem no fundo cabe decidir o rumo do Partido Socialista Brasileiro, deve agir no sentido de que o PSB concorra mesmo com Ciro à presidência da República. Inclusive porque nem ele, nem Marina, têm a menor possibilidade de ultrapassar Serra e Dilma no primeiro confronto do embate. Este vai ocorrer pela lei em vigor no primeiro domingo de outubro. Porém a decisão final vai acontecer três semanas depois, no último domingo do mês. Se Ciro não obtiver a legenda de que necessita para concorrer no primeiro turno, perderá espaço na televisão e vai se desinteressar do segundo e decisivo embate. Lula e Dilma devem levar este aspecto em consideração.
Um outro assunto. Lula, efetivamente, é um quebrador de recordes. Além de ser o único político do mundo que disputou a presidência da República cinco vezes, bate o recorde de popularidade com 73% de aprovação, de acordo com o Datafolha. Na pesquisa anterior, chegava a 76 pontos. De qualquer forma, 73 é algo inédito. As singularidades, entretanto não terminam aí. Tem mais uma: passou ser o presidente da República aplaudido por todos os candidatos, inclusive José Serra. Mais do que isso parece impossível. Será? E se, de fato, conseguir transferir seus votos para sua candidata?
Incrível a sequência de recordes se tal desfecho acontecer.
Fonte: Tribuna da Imprensa.
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