Pedro do Coutto
Reportagem de Adriana Vasconcelos, publicada em O Globo de 14 de abril, revela com nitidez a inviabilidade da coligação PT-PMDB em torno da candidatura Dilma Roussef vir a funcionar em Minas, também a nível estadual. Hélio Costa, candidato a governador pelo PMDB, queixou-se frontalmente da decisão assumida pelo PT de realizar uma prévia entre o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ex-ministro Patrus Ananias para ver qual dos dois será o candidato da legenda ao Palácio da Liberdade nas urnas de outubro.
O ex-ministro das Comunicações sentiu-se traído, embora a divisão já estivesse mais do que prevista. Os dois partidos apóiam Dilma, mas em Minas – pelo que destacou a reportagem – um deles disputa com Hélio Costa, o outro com Pimentel ou Patrus. Claro. Por que motivo o PT deveria abrir mão da possibilidade de eleger o governador quando possui em seus quadros dois postulantes fortes, a meu ver especialmente Fernando Pimentel? O panorama mineiro inclusive é favorável à disputa, uma vez que as eleições são em dois turnos. Antônio Anastasia, candidato de Aécio Neves, Hélio Costa e Fernando Pimentel ou Patrus Ananias, dois deles vão se classificar no primeiro e decidir o pleito no desfecho final do segundo turno.
Sem uma candidatura própria, sobretudo tendo chance de vitória, o PT perderia a motivação para entrar na campanha da candidata do presidente Lula. No caso, assim, não existe traição, apenas uma consequência lógica do balanço de forças existente. Um roteiro para o PMDB, outro caminho para o PT. Tal solução só contribui para fortalecer Dilma, cuja candidatura para o Planalto, é claro, é mais importante que a de Hélio Costa para governador. Em síntese, Lula não conseguiu, talvez sequer tenha tentado conter o ímpeto de sua legenda na terra de Tiradentes.
Política é assim mesmo. Adriana Vasconcelos apontou paralelamente dificuldades de a aliança PMDB-PT se manter, não só em Minas, mas também no Rio de Janeiro, na Bahia, no Pará, no Maranhão e na Paraíba. Isso, por enquanto, já que o número de divisões regionais tende a crescer. A repórter esqueceu o Rio Grande do Sul, estado e que o PT, com Tarso Genro, PMDB com José Fogaça, se enfrentam numa luta equilibrada. Lá encontra-se o exemplo mais forte do não funcionamento estadual da coligação projetada para o plano nacional. O mesmo acontece na Bahia, onde o governador do PT, Jaques Wagner, disputa a reeleição contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
No Rio de Janeiro, a divisão já se consolidou para o Senado, com o presidente Lula apoiando Marcelo Crivella, que é do PRB, e Lindberg Farias, do PT, contra Jorge Picciani, do PMDB, apoiado diretamente pelo governador Sérgio Cabral. Há ainda a questão controvertida para definir se Dilma Roussef sobe no palanque de Anthony Garotinho, ou cede à ameaça de rompimento colocada por Sérgio Cabral e somente aparecerá a seu lado no Rio de Janeiro. Uma aliança exclusiva, como exige o governador. É muito difícil que isso se concretize. Tanto a exclusividade quanto a ruptura, pois neste caso o maior perdedor seria Sérgio Cabral, que, sendo do PMDB, não tem condições de deslocar seu apoio para José Serra.
Serra, por seu turno, enfrenta a divisão que está ocorrendo na aliança de Fernando Gabeira com o DEM, o PV e o PPS, já que PSDB aceita, mas o PV e o PPS rejeitam a presença de César Maia na chapa para o Senado. Se esta crise não se resolver, levando Gabeira a abandonar a disputa pelo governo, a candidatura do ex-governador de São Paulo é quem fica sem palanque algum no terceiro colégio eleitoral do país. Coligação nacional é uma coisa. Coligações estaduais são outra muito diferente.
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