Pedro do Coutto
Matéria de acentuada importância política, de autoria dos repórteres Flávio Freire e Tatiana Farah, O Globo de 22 de abril, foi publicada em meio a um contexto liderado pela mais recente pesquisa do Ibope (Serra 36, Dilma 29), sem o destaque que deveria ter obtido. Perdeu-se nas ondas do espaço maior voltado para o levantamento, o qual, sem dúvida, confirmou o Datafolha e negou veracidade à pesquisa do Sensus. Mas este é outro assunto. O essencial, no texto baseado nas declarações feitas pelo próprio Serra, é que Aécio – ficou decidido – concorrerá às eleições ao Senado por Minas Gerais.
“Aécio me ajudará” – afirmou o ex governador paulista – “como candidato a senador”. Assim, foi afastada a perspectiva de Aécio vir a ser o candidato a vice-presidente na chapa do PSDB. Serra terá que buscar outro nome capaz de lhe acrescentar votos. Não será fácil escolher o nome, já que, no caso, terá que ser alguém da base oposicionista, e não do PSDB, já representado pelo próprio Serra.
Não há, à primeira vista, muitas alternativas viáveis, uma vez que qualquer nome do PMDB como Pedro Simon ou Jarbas Vasconcelos, está excluído face a aliança entre este partido e o PT em torno de Dilma Roussef. Tasso Jereissati, já é do PSDB, portanto nada acrescenta além dos votos que Serra conseguiu reunir na fase pré campanha eleitoral. Sobra, talvez, Itamar Franco, que está inscrito nos quadros do PPS, legenda presidida por Roberto Freire, de oposição a Lula, portanto contrário à candidatura Roussef. Não seria um absurdo político se Itamar vier a ser escolhido vice, com o apoio de Neves. Aliás, por ironia do destino e para ressaltar a mudança constante das nuvens políticas, Itamar foi uma peça fundamental na vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2002.
Ficam no ar a pergunta e a especulação em torno da participação daquele ex-presidente da República nas eleições deste ano.
Enquanto isso, no Rio, a Igreja Universal do Reino de Deus realizou uma demonstração de força colossal, colocando cerca de um milhão de pessoas no evento que ela própria chamou, não se sabe porque, o Dia da Decisão. Por falta de previsão por parte da Prefeitura da Cidade, a manifestação provocou caos total no Rio de Janeiro, com reflexo em todas as vias de acesso principalmente à zona sul. Este foi um aspecto da questão e vale acentuar que evento semelhante foi realizado, à mesma hora, em Interlagos, São Paulo. Mas Interlagos, onde inclusive se localiza o autódromo, está afastado do centro urbano da capital, e no Rio foi num local em que, por ser feriado, já se encontrava com as pistas do Aterro do Flamengo fechadas.
Era simples calcular o que iria acontecer. E aconteceu. Mas isso se refere à falta de previsão e de ação da Prefeitura. O Dia da Decisão funcionou na realidade para destacar a força da candidatura do senador Marcelo Crivella à reeleição nas urnas de outubro, quando serão disputadas duas cadeiras. Uma, pelo que se viu, está praticamente garantida para o próprio bispo, cuja votação, em todas as eleições majoritárias que disputou oscilou entre 20 a 22%. São muitos os candidatos ao Senado. Vinte por cento já lhe garantiriam uma das vagas. Mas ele já recebeu também o apoio do presidente Lula, apoio que será adicionado àquele fornecido pela organização do outro bispo, Edir Macedo, hoje proprietário da Record, segunda rede de televisão do país. Marcelo Crivella carimbou seu passaporte para uma nova viagem ao Senado. De quem será a segunda vaga? A meu ver, está entre Lindberg Farias e Jorge Picciani. Os demais candidatos são muito fracos. Eis aí uma disputa que pode envolver tanto a sucessão estadual, quanto a presidencial no terceiro colégio de votos do Brasil.
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