sexta-feira, 23 de abril de 2010

MÍDIA - O recuo do PIG.

Do site da TRIBUNA DA IMPRENSA.

Globo retira propaganda para não repetir 1989

Pedro do Coutto

A direção da Rede Globo, a meu ver agiu certo ao retirar do ar a propaganda promocional pelos 45 anos da emissora, uma vez que dirigentes do PT identificaram semelhança com símbolos da campanha de José Serra. Interpretaram como um lance subliminar usado, aliás, na reta final da sucessão de 89, quando o então diretor de telejornais, Alberico Sousa Cruz, editou a seu modo o último debate nacional entre Fernando Collor e Lula.

Alberico Sousa Cruz selecionou os melhores momentos de Collor, colocando-os em confronto com os piores instantes de Lula. Foi um escândalo a 48 horas das urnas. Uma propaganda mais que subliminar, até de efeito decisivo para o destino da sucessão. Claro que o então diretor de telejornais só pôde fazer isso porque Luís Inácio da Silva não tinha ido bem no debate derradeiro, dirigido por Marília Gabriela, com imagem gerada na Rede Manchete.

Nesse debate, nem Lula, nem qualquer dos jornalistas participantes cobraram de Collor a utilização sórdida de depoimento da Sra. Miriam Cordeiro, que recebeu para dar um depoimento sobre episódio de um passado distante envolvendo o nascimento da filha Lurian. Mas esta é outra questão.

O fato é que a Rede Globo não poderia ter agido da forma com que agiu, sobretudo depois do exemplo do caso Proconsult, ocorrido em 82, quando Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro. Armando Nogueira, diretor de Jornalismo nos dois episódios, foi demitido pelo diretor-presidente das Organizações Globo no início de 1990, logo após a posse de Collor. Numa entrevista a Isto É, Armando Nogueira fez várias críticas à atuação de Roberto Marinho, inclusive no episódio do Riocentro, quando a reportagem filmou a existência de uma segunda bomba no carro do hoje coronel Wilson Machado, o que inviabilizaria a tese de um acidente. A edição das 13 horas mostrou a segunda bomba. Esta segunda bomba desapareceu da tela do Jornal Nacional, o de maior audiência, que começava (e começa) às 20 horas e 15 minutos.

Com base certamente nesses precedentes, a Globo evitou envolver-se em novo conflito em torno de campanhas e resultados eleitorais. Foi a decisão final. Mas quem propôs e formulou a sequência comemorativa com a participação de artistas do seu amplo elenco de qualidade inegável? Inclusive porque ela chegou a começar a ser veiculada no domingo que passou, para ser suspensa na segunda-feira pela manhã. A idéia, portanto, como se constata, teve a duração de uma rosa.

Os canais de televisão são concessões do poder público. Assim, não devem agir para acrescentar à campanha de qualquer candidato. Muito menos de forma subliminar, espécie de forma inclusive proibida pela legislação. Porém usada algumas vezes. Em 94, por exemplo, quando o presidente Itamar Franco empenhou-se pela vitória de Fernando Henrique Cardoso sobre o Lula do passado, como maneira de destacar a importância do Plano Real, principal bandeira do candidato, o governo reduziu o preço da gasolina nas bombas de abastecimento. Eis aí um exemplo de uma ação assumida para gerar efeito paralelo em outra área, no caso as urnas do confronto.

Na mesma ocasião, outro exemplo de propaganda subliminar: a Revista Veja, para acentuar o efeito do Plano Real, diminuiu o preço nas bancas e nas assinaturas. Luís Inácio Lula da Silva estava sendo cercado por todos os lados. Foi a sua segunda derrota. Perderia mais uma vez, em 98, antes das vitórias de 2002 e 2006. Agora está no poder. Em tal condição, os autores da idéia mal-sucedida na própria rede deveriam ter avaliado melhor as conseqüências. Pois os atos humanos, de modo geral, não se esgotam neles próprios. Têm reflexos e desdobramentos, consequências. Reflexo negativo, neste momento, é o que menos interessa à Globo.

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