Foxconn: a hora da revolta dos escravos hi-tech
A forja chinesa do progresso e do consumo global volta ao teatro dos mais duros confrontos contemporâneos contra a exploração dos trabalhadores. Mais de mil operários da Foxconn, a maior fábrica do mundo, com mais de um milhão de empregados só na China, se rebelaram contra a segurança privada da empresa, e só a intervenção da polícia impediu o saque do estabelecimento de Chengdu, em Sichuan. Dezenas de detenções e de feridos, com o cercamento pelos agentes dos pavilhões da cadeia de montagem e os dormitórios onde vivem 120 mil empregados.
A reportagem é de Giampaolo Visetti, publicada no jornal La Repubblica, 12-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Protesto e violência explodiram depois que os seguranças privados detiveram um operário, acusando-o de roubo. Os colegas de trabalho se revoltaram contra os dirigentes, e por algumas horas a situação da fábrica fugiu do controle das forças de segurança.
A Foxconn é o símbolo da deslocalização ocidental e do novo "made in China" hi-tech. Ela produz os aparelhos eletrônicos mais vendidos no planeta para as marcas mais famosas: da Apple à Nokia, da HP à Dell. A oficina de computadores, celulares e tablets tornou-se um caso internacional depois que, em 2010, 14 operários se suicidaram por causa das condições de trabalho desumanas. Justamente em Chengdu, no ano passado, uma explosão provocou duas mortes e 16 feridos. O escândalo Foxconn-Apple deu origem na Europa e nos EUA a um amplo movimento para o boicote dos produtos da gigante liderada por Taiwan e Hong Kong. Tanto que em março, Tim Cook, o sucessor de Steve Jobs, voou para a China, assegurando que Cupertino estava "comprometida para melhorar as condições dos estabelecimentos chineses".
Duas investigações independentes revelam, no entanto, agora, que, depois de suicídios e de promessas, "de fato, não se virou a página na Foxconn". Ao contrário, a situação teria piorado. Segundo os relatórios da Sacom e da Fair Labor Association, abusos, violências, punições e humilhações "geram os novos e ignorados escravos do século". Os empregados, pagos entre 90 e 240 euros por mês e livres durante cinco dias por ano, seriam forçados a 80-100 horas extras por mês. Quem não obedece aos chefes de repartição "é obrigado a limpar os gabinetes, a escrever cartas públicas de 'confissão e arrependimento', a trabalhar de pé, transportar 3 mil caixas por dia, varrer os jardins e se ajoelhar diante dos gestores".
As intimidações, para quem não acompanha os ritmos de 16 horas por dia, chegam a negar a possibilidade de voltar para casa uma vez por ano para ver os entes queridos. Na Foxconn, mantida sob a proteção dos segredos industriais e das patentes de clientes, é proibido possuir um telefone, os operários são revistados várias vezes e dormem em dormitórios com 30 beliches. As investigações, apresentadas em Hong Kong antes da assembleia anual dos acionistas, revelam que, nos primeiros cinco meses do ano, os acidentes de trabalho entre Chengdu e Shenzhen foram 728. A direção oferece aos feridos duas possibilidades: aceitar um bônus ou se demitir. Daí a última revolta de Chengdu, à qual a Foxconn respondeu nessa segunda-feira com um "sem comentários".
Fonte: IHU
A reportagem é de Giampaolo Visetti, publicada no jornal La Repubblica, 12-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Protesto e violência explodiram depois que os seguranças privados detiveram um operário, acusando-o de roubo. Os colegas de trabalho se revoltaram contra os dirigentes, e por algumas horas a situação da fábrica fugiu do controle das forças de segurança.
A Foxconn é o símbolo da deslocalização ocidental e do novo "made in China" hi-tech. Ela produz os aparelhos eletrônicos mais vendidos no planeta para as marcas mais famosas: da Apple à Nokia, da HP à Dell. A oficina de computadores, celulares e tablets tornou-se um caso internacional depois que, em 2010, 14 operários se suicidaram por causa das condições de trabalho desumanas. Justamente em Chengdu, no ano passado, uma explosão provocou duas mortes e 16 feridos. O escândalo Foxconn-Apple deu origem na Europa e nos EUA a um amplo movimento para o boicote dos produtos da gigante liderada por Taiwan e Hong Kong. Tanto que em março, Tim Cook, o sucessor de Steve Jobs, voou para a China, assegurando que Cupertino estava "comprometida para melhorar as condições dos estabelecimentos chineses".
Duas investigações independentes revelam, no entanto, agora, que, depois de suicídios e de promessas, "de fato, não se virou a página na Foxconn". Ao contrário, a situação teria piorado. Segundo os relatórios da Sacom e da Fair Labor Association, abusos, violências, punições e humilhações "geram os novos e ignorados escravos do século". Os empregados, pagos entre 90 e 240 euros por mês e livres durante cinco dias por ano, seriam forçados a 80-100 horas extras por mês. Quem não obedece aos chefes de repartição "é obrigado a limpar os gabinetes, a escrever cartas públicas de 'confissão e arrependimento', a trabalhar de pé, transportar 3 mil caixas por dia, varrer os jardins e se ajoelhar diante dos gestores".
As intimidações, para quem não acompanha os ritmos de 16 horas por dia, chegam a negar a possibilidade de voltar para casa uma vez por ano para ver os entes queridos. Na Foxconn, mantida sob a proteção dos segredos industriais e das patentes de clientes, é proibido possuir um telefone, os operários são revistados várias vezes e dormem em dormitórios com 30 beliches. As investigações, apresentadas em Hong Kong antes da assembleia anual dos acionistas, revelam que, nos primeiros cinco meses do ano, os acidentes de trabalho entre Chengdu e Shenzhen foram 728. A direção oferece aos feridos duas possibilidades: aceitar um bônus ou se demitir. Daí a última revolta de Chengdu, à qual a Foxconn respondeu nessa segunda-feira com um "sem comentários".
Fonte: IHU
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