sábado, 30 de junho de 2012

MEIO AMBIENTE - Os termos da discussão ecológica atual.

Os termos da discussão ecológica atual, segundo Arthur Soffiati


Leonardo Boff
Publicamos hoje aqui um artigo do ecologista Arthur Soffiati, de Campos (RJ), fundador do Centro Norte Fluminense para a Conservação da Natureza, publicado no dia 14 de maio na “Folha da Manhã” daquela cidade:

“Há cerca de 11 mil anos, a temperatura da Terra começou a se elevar naturalmente, produzindo o derretimento progressivo da última grande glaciação. Grande parte da água, passando do estado sólido para o líquido, elevou o nível dos mares, separou terras dos continentes, formou ilhas, incentivou a formação de florestas e de outros ambientes. Os cientistas deram a essa fase o nome de Holoceno.
Nesses últimos 11 mil anos, restou dos hominídeos apenas o Homo sapiens, que se tornou soberano em todo o planeta. Com um cérebro bem desenvolvido, ele foi desafiado pelas novas condições climáticas e domesticou plantas e animais, inventando a agropecuária. Criou tecnologia para polir a pedra, inventou a roda, a tecelagem e a metalurgia. Criou as cidades. Várias civilizações ultrapassaram os limites dos ecossistemas em que se ergueram, gerando crises ambientais que contribuíram para o seu fim.
O conceito de pegada ecológica se refere ao grau de impacto ecológico gerado por um indivíduo, um empreendimento, uma economia, uma sociedade. A pegada ecológica das civilizações anteriores à civilização ocidental sempre teve um caráter regional. O Ocidente foi a civilização mais pesada até o momento. O peso começou com o capitalismo, que transformou o mundo.
A partir do século XV, a civilização ocidental (leia-se europeia) passou a imprimir marcas profundas com a expansão marítima. Impôs sua cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi ocidentalizado e passou também a pisar fundo no ambiente.
Veio, então, outra grande transformação com a Revolução Industrial. Ela se expandiu pelo mundo, dividindo-o em países industrializados e países exportadores de matéria-prima. A partir dela, começa a se criar uma outra realidade planetária, com emissões de gases causadores do aquecimento global, devastação de florestas, empobrecimento da biodiversidade, uso indevido do solo, urbanização maciça, alterações nos ciclos de nitrogênio e fósforo, contaminação da água doce, adelgaçamento da camada de ozônio, extração excessiva de recursos naturais não-renováveis e produção de quantidades inéditas de lixo.
Os cientistas estão demonstrando que, dentro do Holoceno (holos = inteiro + koinos = novo), a
ação humana coletiva no capitalismo e no socialismo provocou uma crise ambiental sem precedentes. Eles denominam o período pós-Revolução Industrial de Antropoceno, ou seja, uma fase geológica construída pela ação coletiva do ser humano (antropos = homem + koinos = novo).
Em função dessa crise a ONU vem promovendo grandes conferências internacionais, como a de Estocolmo (1972), a Rio-92 e a Rio+20. O objetivo é resolver os problemas do Antropoceno, seja conciliando desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, seja buscando outras formas de desenvolvimento. A Rio-92 adotou a fórmula do desenvolvimento sustentável, que ganhou diversos sentidos, inclusive antagônicos ao original.
Os países industrializados não querem abdicar da sua posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os países pobres querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento acerca dos limites do planeta, inútil pensar em justiça social e desenvolvimento econômico. O ambiente é mais importante que o social e o econômico, já que sem ele não se pode encontrar solução para os outros dois”.
(Transcrito de O Tempo, ilustração de Duke)

Nenhum comentário: